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GEORG TRAKL POEMAS / GEDICHTE (1909-1913) RONDEL Eis o ouro dos dias já passado, As cores pardas e azuis do entardecer: As flautas do pastor acabam de morrer, As cores azuis e pardas do entardecer; Eis o ouro dos dias já passado. RONDEL Verflossen ist das Gold der Tage, Des Abends braun und blaue Farben: Des Hirten sanfte Flöten starben Des Abends blau und braune Farben Verflossen ist das Gold der Tage. SONHO DO MAL Finando-se áureos sons castanhos dum gongue — Acorda em quartos negros um amante Coa face contra chamas que cintilam na janela. No rio luzem velas, mastros, cordas. Um frade, uma grávida acolá na multidão. Tinem guitarras, batas rubras lampejam. Castanheiros opressos definham em brilho de ouro; Ergue-se negra a pompa triste das igrejas. De máscaras pálidas olha o espírito do Mal. Cai em crepúsculo praça horrenda e lôbrega; Na noitinha agita-se um murmúrio em ilhas. Do voo de aves os sinais confusos Leem leprosos que à noite talvez apodreçam.

Georg Trakl Poesia

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Literatura alemã

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GEORG TRAKL

POEMAS / GEDICHTE (1909-1913)

RONDEL

Eis o ouro dos dias já passado,As cores pardas e azuis do entardecer:As flautas do pastor acabam de morrer,As cores azuis e pardas do entardecer;Eis o ouro dos dias já passado.

RONDEL

Verflossen ist das Gold der Tage, Des Abends braun und blaue Farben: Des Hirten sanfte Flöten starben Des Abends blau und braune Farben Verflossen ist das Gold der Tage.

SONHO DO MAL

Finando-se áureos sons castanhos dum gongue —Acorda em quartos negros um amanteCoa face contra chamas que cintilam na janela.No rio luzem velas, mastros, cordas.

Um frade, uma grávida acolá na multidão.Tinem guitarras, batas rubras lampejam.Castanheiros opressos definham em brilho de ouro;Ergue-se negra a pompa triste das igrejas.

De máscaras pálidas olha o espírito do Mal.Cai em crepúsculo praça horrenda e lôbrega;Na noitinha agita-se um murmúrio em ilhas.

Do voo de aves os sinais confusosLeem leprosos que à noite talvez apodreçam.No parque olham-se, a tremer, irmão e irmã.

TRAUM DES BÖSEN

Verhallend eines Gongs braungoldne Klänge -Ein Liebender erwacht in schwarzen ZimmernDie Wang' am Flammen, die im Fenster flimmern.Am Strome blitzen Segel, Masten, Stränge.

Ein Mönch, ein schwangres Weib dort im Gedränge.Gitarren klimpern, rote Kittel schimmern.Kastanien schwül in goldnem Glanz verkümmern;

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Schwarz ragt der Kirchen trauriges Gepränge.

Aus bleichen Masken schaut der Geist des Bösen.Ein Platz verdämmert grauenvoll und düster;Am Abend regt auf Inseln sich Geflüster.

Des Vogelfluges wirre Zeichen lesenAussätzige die zur Nacht vielleicht verwesen.Im Park erblicken zitternd sich Geschwister.

AO ANOITECER O MEU CORAÇÃO

Ao anoitecer ouve-se o grito dos morcegos,Dois morzelos saltam no prado,O ácer rubro sussurra.Ao viandante surge-lhe a pequena tasca à beira do caminho.Que bem sabem vinho novo e nozes,Que bom: cambalear bêbedo no bosque que escurece.Pelos ramos negros soam sinos doridos,Caem na cara gotas de orvalho.

ZU ABEND MEIN HERZ

Am Abend hört man den Schrei der Fledermäuse.Zwei Rappen springen auf der Weise.Der rote Ahorn rauscht.Dem Wanderer erscheint die kleine Schenke am Weg.Herrlich schmecken junger Wein und Nüsse.Herrlich: betrunken zu taumeln in dämmernden Wald.Durch schwarzes Geäst tönen schmerzliche Glocken.Auf das Gesicht tropft Tau.

ALMA DA VIDA

Corrupção, que mole escurece as folhas,Seu largo silêncio mora na floresta.Breve uma aldeia parece inclinar-se espectral.A boca da irmã segreda em ramos negros.

O solitário vai em breve resvalar,Talvez um pastor em veredas escuras.Baixo um bicho sai dos arcos das árvores,Enquanto as pálpebras se abrem ante a Divindade.

O Rio Azul vai descendo belo, Mostram-se nuvens no céu do anoitecer;A alma também em silêncio angélico.Formas transitórias desvanecem-se.

SEELE DES LEBENS

Verfall, der weich das Laub umdüstert,

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Es wohnt im Wald sein weites Schweigen.Bald scheint ein Dorf sich geisterhaft zu neigen.Der Schwester Mund in schwarzen Zweigen flüstert.

Der Eisame wird bald entgleiten,Vielleicht ein Hirt auf dunklen Pfaden.Ein Tier tritt leise aus den Baumarkaden,Indes die Lider sich vor Gottheit weiten.

Der Blaue Fluß rinnt schön hinunter,Gewölke sich am Abend zeigen;Die Seele auch in engelhaftem Schweigen.Vergängliche Gebilde gehen unter.

OUTONO TRANSFIGURADO

Poderoso assim acaba o anoCom vinho de ouro e fruta do pomar.Calam-se em volta dos bosques por encantoE vêm o solitário acompanhar.

E diz então o lavrador: É bom.E vós sinos da tarde largos mansosDais alegria a este fim com vosso som,Saúdam viajantes das aves os bandos.

É o tempo suave dos amores.No barco pelo rio azul abaixoQuão bela imagem a imagem vem juntar-se —E tudo vai cair em paz e silêncio — em baixo.

VERKLÄRTER HERBST

Gewaltig endet so das JahrMit goldnem Wein und Frucht der Gärten.Rund schweigen Wälder wunderbarUnd sind des Eisamen Gefährten.

Da sagt der Landmann: Es ist gut.Ihr Abendglocken lang und leiseGebt noch zum Ende frohen Mut.Ein Vogelzug grüßt auf der Reise.

Es ist der Liebe milde Zeit.Im Kahn den blauen Fluß hinunterWie schön sich Bild and Bildchen reiht -Das geht in Ruh und Schweigen unter.

NUM VELHO ÁLBUM

Sempre de novo regressas, Melancolia,Ó mansidão da alma solitária.Acaba de arder um dia de ouro.

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Com humildade curva-se à dor o pacienteRessoante de harmonia e branda loucura.Olha! já escurece.

De novo volta a noite e um mortal queixa-se E um outro compadece-se.

Arrepiada sob estrelas outonais, Inclina-se a fronte cada ano mais fundo.

IN EIN ALTES STAMMBUCH

Immer wieder kehrst du Melancholie, O Sanftmut der einsamen Seele. Zu Ende glüht ein goldener Tag.

Demutsvoll beugt sich dem Schmerz der Geduldige Tönend von Wohllaut und weichem Wahnsinn. Siehe! es dämmert schon.

Wieder kehrt die Nacht und klagt ein Sterbliches Und es leidet ein anderes mit.

Schaudernd unter herbstlichen Sternen Neigt sich jährlich tiefer das Haupt.

HUMANIDADE

Humanidade posta ante goelas de fogo,Um rufar de tambores, frontes de guerreiros ‘scuros,Passos entre névoa de sangue; rebenta ferro negro;Desespero, noite em cérebros tristes:Aqui a sombra de Eva, caça e dinheiro rubro.Nuvens, que uma luz atravessa, a ceia.Mora no pão e no vinho um doce silêncio suave.E aqueles estão reunidos em número de doze.À noite gritam no sono sob ramos de oliveira;São Tomé mergulha a mão na chaga.

MENSCHHEIT

Menschheit vor Feuerschlünden aufgestellt, Ein Trommelwirbel, dunkler Krieger Stirnen, Schritte durch Blutnebel; schwarzes Eisen schellt, Verzweiflung, Nacht in traurigen Gehirnen: Hier Evas Schatten, Jagd und rotes Geld. Gewölk, das Licht durchbricht, das Abendmahl. Es wohnt in Brot und Wein ein sanftes Schweigen Und jene sind versammelt zwölf an Zahl. Nachts schrein im Schlaf sie unter Ölbaumzweigen; Sankt Thomas taucht die Hand ins Wundenmal.

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DE PROFUNDIS

Há um restolhal, onde cai chuva negra.Há uma árvore castanha, que ali se ergue solitária.Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias —Que triste este anoitecer.

Passando pela aldeolaA órfã suave colhe ainda espigas escassas.Seus olhos pascem redondos e áureos no crepúsculoE o seu seio espera o noivo celestial.

Ao regressar a casaAcharam os pastores o doce corpoApodrecido no espinheiro.

Sou uma sombra longe de aldeias escuras.A mudez de DeusBebi-a na fonte do bosque.

Na minha testa calca metal frioAranhas buscam o meu coração.Há uma luz, que se apaga na minha boca.

À noite encontrei-me numa charneca,Repleta de imundície e de pó das estrelas.Na avelaneiraSoaram de novo anjos de cristal.

DE PROFUNDIS

Es ist ein Stoppelfeld, in das ein schwarzer Regen fällt. Es ist ein brauner Baum, der einsam dasteht. Es ist ein Zischelwind, der leere Hütten umkreist —Wie traurig dieser Abend.

Am Weiler vorbei Sammelt die sanfte Waise noch spärliche Ähren ein. Ihre Augen weiden rund und goldig in der Dämmerung Und ihr Schoß harrt des himmlischen Bräutigams.

Bei der Heimkehr Fanden die Hirten den süßen Leib Verwest im Dornenbusch.

Ein Schatten bin ich ferne Dörfern. Gottes Schweigen Trank ich aus dem Brunnen des Hains.

Auf meine Stirne tritt kaltes Metall.Spinnen suchen mein Herz. Es ist ein Licht, das in meinem Mund erlöscht.

Nachts fand ich mich auf einer Heide, Starrend von Unrat und Staub der Sterne. Im Haselgebüsch Klangen wieder kristallne Engel.

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CANÇÕES DE ROSÁRIO

À IrmãOnde tu vais faz-se Outono e entardecer,Veado azul que sob as árvores soa,Tanque solitário no entardecer.

Baixo o voo das aves soa,A melancolia sobre os arcos dos teus olhos.O teu sorriso breve soa.

Deus encurvou as pálpebras dos teus olhos.‘Strelas buscam à noite, menina de sexta-feira santa,Na tua fronte os arcos dos teus olhos.

Morte próxima

Oh o entardecer que leva às aldeias sombrias da infância.O tanque sob os salgueirosEnche-se de suspiros empestados da melancolia.

Oh a proximidade da morte. Vamos rezar.Nesta noite em almofadas mornasAmarelecidas de incenso soltam-se os membros débeis dos amantes.

Ámen

Corrupção escorrendo pelo quarto podre;Sombras no papel amarelo da parede; em espelhos escuros curva-seA tristeza ebúrnea das nossas mãos.

Pérolas pardas correm pelos dedos finados,No silêncioAbrem-se os olhos azuis de papoila de um anjo.

Azul é também o anoitecer;A hora da nossa morte, a sombra de Azrael,Que escurece um jardinzinho pardo.

ROSENKRANZLIEDER

An die Schwester Wo du gehst wird Herbst und Abend, Blaues Wild, das unter Bäumen tönt, Einsamer Weiher am Abend.

Leise der Flug der Vögel tönt, Die Schwermut über deinen Augenbogen. Dein schmales Lächeln tönt.

Gott hat deine Lider verbogen. Sterne suchen nachts, Karfreitagskind, Deinen Stirnenbogen.

Nähe des Todes

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O der Abend, der in die finsteren Dörfer der Kindheit geht. Der Weiher unter den Weiden Füllt sich mit den verpesteten Seufzern der Schwermut.

O der Wald, der leise die braunen Augen senkt, Da aus des Einsamen knöchernen Händen Der Purpur seiner verzückten Tage hinsinkt.

O die Nähe des Todes. Laß uns beten. In dieser Nacht lösen auf lauen Kissen Vergilbt von Weihrauch sich der Liebenden schmächtige Glieder.

Amen

Verwestes gleitend durch die morsche Stube; Schatten an gelben Tapeten; in dunklen Spiegeln wölbt Sich unserer Hände elfenbeinerne Traurigkeit.

Braune Perlen rinnen durch die erstorbenen Finger. In der Stille Tun sich eines Engels blaue Mohnaugen auf.

Blau ist auch der Abend; Die Stunde unseres Absterbens, Azraels Schatten, Der ein braunes Gärtchen verdunkelt.

CANÇÃO DO ENTARDECER

À tardinha, quando vamos por caminhos ’scuros,Ante nós surgem as nossas figuras pálidas.

Quando temos sede,Bebemos as águas brancas do tanque,A doçura da nossa infância triste.

Finados repousamos sob o sabugueiro,Olhamos as gaivotas pardacentas.

Nuvens de primavera erguem-se sobre a cidade sombriaQue cala os tempos mais nobres dos monges.

Quando tomei as tuas mãos esguias,Abriste devagar os teus olhos redondos.Foi isto há muito tempo.

Mas quando melodia escura a alma me visita,Apareces tu branca na paisagem outonal do amigo

ABENDLIED

Am Abend, wenn wir auf dunklen Pfaden gehn, Erscheinen unsere bleichen Gestalten vor uns.

Wenn uns dürstet, Trinken wir die weißen Wasser des Teichs, Die Süße unserer traurigen Kindheit.

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Erstorbene ruhen wir unterm Hollundergebüsch, Schaun den grauen Möven zu.

Frühlingsgewölke steigen über die finstere Stadt, Die der Mönche edlere Zeiten schweigt.

Da ich deine schmalen Hände nahm Schlugst du leise die runden Augen auf, Dieses ist lange her.

Doch wenn dunkler Wohllaut die Seele heimsucht, Erscheinst du Weiße in des Freundes herbstlicher Landschaft.

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SEBASTIÃO EM SONHO / SEBASTIAN IM TRAUM (1915)

CANÇÃO DAS HORAS

Com olhares escuros se olham os amantes,Louros, radiosos. Em ‘scuridão de olhar fixoSe enlaçam lânguidos os braços saudosos.

Purpúrea quebrou-se a boca da abençoada. Os olhos redondosEspelham o ouro escuro da tarde primaveril,Orla e negrume do bosque, medos crepusculares na verdura;Talvez voo de ave inefável, o caminhoDo não-nascido por aldeias sombrias, verões solitáriosE do azul em ruínas sai por vezes algo já-vivido.

De manso sussurra no campo o trigo loiro.Dura é a vida e, rijo de aço, brande a foice do lavrador,Junta traves robustas o carpinteiro.

Purpúreas coram as folhas no outono; o espírito monacalAtravessa dias alegres; madura é a uvaE festivo o ar em quintas espaçosas.Mais doces rescendem frutos amarelecidos; manso é o risoDo alegre, música e dança em adegas sombrias;No jardim ao crepúsculo passo e silêncio do menino morto.

STUNDENLIED

Mit dunklen Blicken sehen sich die Liebenden an,Die Blonden, Strahlenden. In starrender FinsternisUmschlingen schmächtig sich die sehnenden Arme.

Purpurn zerbrach der Gesegneten Mund. Die runden AugenSpielgeln das dunkle Gold des Frühlingsnachmittags,Saum und Schwärze des Walds, Abendängste im Grün;Vielleicht unsäglichen Vogelflug, des UngeborenenPfad an finsteren Dörfern, einsamen Sommern hinUnd aus verfallener Bläue tritt bosweilen ein Abgelebtes.

Leise rauscht im Acker das gelbe Korn.Hart ist das Leben und stählern schwingt die Sense der Landmann,Fügt gewaltige Balken der Zimmermann.

Purpurn färbt sich das Laub im Herbst; der mönchische GeistDurchwandelt heitere Tage; reif ist die TraubeUnd festlich die Luft in geräumigen Höfen.Süßer duften vergilbte Früchte; leise ist das LachenDes Frohen, Musik und Tanz in schattigen Kellern;Im dämmernden Garten Schritt und Stille des verstobenen Knaben.

A CAMINHO

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Ao anoitecer levaram o estranho prà câmara mortuária;Um cheiro a breu; o sussurro baixo de plátanos vermelhos;O voo escuro das gralhas; na praça renderam a guarda.O sol caiu em linhos pretos; sempre de novo volta este anoitecer passado.No quarto ao lado a irmã toca uma sonata de Schubert.Baixinho o seu sorriso mergulha no poço em ruínasQue murmura azulado no crepúsculo. Oh! que velha é a nossa raça.Alguém fala em segredo lá em baixo no jardim; alguém abandonou este céu negro.Na cómoda cheiram maçãs. A avó acende velas de ouro.

Oh, como o Outono é suave. Baixo soam os nossos passos no velho parquePor baixo de altas árvores. Oh, quão grave a face de jacinto do crepúsculo.A fonte azul a teus pés, secreta a calma rubra da tua boca,Rodeada de sombra do sono da folhagem, do ouro escuro de girassóis já murchos.As tuas pálpebras estão pesadas de papoila e sonham baixo na minha fronte.Sinos suaves fazem tremer o peito. Nuvem azul,A tua face caiu em mim no crepúsculo.Uma canção à guitarra, que soa numa taberna estranha,Os sabugueiros bravos além, um dia de Novembro há muito passado,Passos familiares na escada ao crepúsculo, o aspeto de traves crestadas,Uma janela aberta em que ficou uma esperança doce —Indizível é tudo isto, ó Deus, que abalado se cai de joelhos.

Oh, que escura é esta noite. Uma chama purpúreaApagou-se na minha boca. No silêncioMorre a harpa solitária da alma apavorada.Deixa lá, quando ébria de vinho a cabeça mergulha na sarjeta.

UNTERWEGS

Am Abend trugen sie den Fremden in die Totenkammer; Ein Duft von Teer; das leise Rauschen roter Platanen; Der dunkle Flug der Dohlen; am Platz zog eine Wache auf. Die Sonne ist in schwarze Linnen gesunken; immer wieder kehrt dieser vergangene Abend. Im Nebenzimmer spielt die Schwester eine Sonate von Schubert. Sehr leise sinkt ihr Lächeln in den verfallenen Brunnen, Der bläulich in der Dämmerung rauscht. O, wie alt ist unser Geschlecht. Jemand flüstert drunten im Garten; jemand hat diesen schwarzen Himmel verlassen. Auf der Kommode duften Äpfel. Großmutter zündet goldene Kerzen an.

O, wie mild ist der Herbst. Leise klingen unsere Schritte im alten Park Unter hohen Bäumen. O, wie ernst ist das hyazinthene Antlitz der Dämmerung. Der blaue Quell zu deinen Füßen, geheimnisvoll die rote Stille deines Munds, Umdüstert vom Schlummer des Laubs, dem dunklen Gold verfallener Sonnenblumen. Deine Lider sind schwer von Mohn und träumen leise auf meiner Stirne. Sanfte Glocken durchzittern die Brust. Eine blaue Wolke Ist dein Antlitz auf mich gesunken in der Dämmerung.

Ein Lied zur Guitarre, das in einer fremden Schenke erklingt, Die wilden Hollunderbüsche dort, ein lang vergangener Novembertag, Vertraute Schritte auf der dämmernden Stiege, der Anblick gebräunter Balken, Ein offenes Fenster, an dem ein süßes Hoffen zurückblieb — Unsäglich ist das alles, o Gott, daß man erschüttert ins Knie bricht.

O, wie dunkel ist diese Nacht. Eine purpurne Flamme Erlosch an meinem Mund. In der Stille Erstirbt der bangen Seele einsames Saitenspiel.

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Laß, wenn trunken von Wein das Haupt in die Gosse sinkt.

PAISAGEM

Tarde de Setembro; tristes soam os gritos escuros dos pastoresAtravés da aldeia ao crepúsculo; chispa fogo na forja.Empina-se poderoso um cavalo preto; os cabelos de jacinto da moçaQuerem prender o ardor das suas ventas purpúreas.Pára, inteiriço e baixo, o bramido da corça na orla do bosqueE as flores amarelas do OutonoCurvam-se caladas sobre a face azul do tanque.Ardeu em chama rubra uma árvore; esvoaçam com rostos escuros os morcegos.

LANDSCHAFT

Septemberabend; traurig tönen die dunklen Rufe der HirtenDurch das dämmernde Dorf; Feuer sprüht in der Schmiede.Gewaltig bäumt sich ein schwarzes Pferd; die hyazinthenen Locken der MagdHaschen nach der Inbrunst seiner purpurnen Nüstern.Leise erstarrt am Saum des Waldes der Schrei der HirschkuhUnd die gelben Blumen des HerbstesNeigen sich sprachlos über das blaue Antlitz des Teichs.In roter Flamme verbrannte ein Baum; aufflattern mit dunklen Gesichtern die Fledermäuse.

HOHENBURG

Não está ninguém em casa. Outono nos quartos;Sonata clara de luarE o despertar na orla do bosque crepuscular.

Sempre tu pensas na face branca do homemLonge do tumulto do tempo;Sobre alguém que sonha inclina-se de bom grado verde ramaria,

Cruz e crepúsculo;Abraça o ressoante com braços de púrpura a sua estrelaQue sobe até janelas desabitadas.

Assim no escuro treme o forasteiroAo erguer manso as pálpebras sobre algo de humanoQue está longe; a voz de prata do vento no vestíbulo.

HOHENBURG

Es ist niemand im Haus. Herbst in Zimmern; Mondeshelle Sonate Und das Erwachen am Saum des dämmernden Walds.

Immer denkst du das weiße Antlitz des Menschen Ferne dem Getümmel der Zeit; Über ein Träumendes neigt sich gerne grünes Gezweig,

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Kreuz und Abend; Umfängt den Tönenden mit purpurnen Armen sein Stern, Der zu unbewohnten Fenstern hinaufsteigt. Also zittert im Dunkel der Fremdling,Da er leise die Lider über ein Menschliches aufhebt, Das ferne ist; die Silberstimme des Windes im Hausflur.

JUNTO AO PÂNTANO

Vagante no vento negro; baixo sussurra o junco secoNo silêncio do pântano. No céu pardoSegue um bando de aves selvagens;De través sobre águas escuras.

Tumulto. Numa cabana em ruínasEsvoaça com asas negras a podridão;Bétulas aleijadas gemem no vento.

Anoitecer em taberna abandonada. Fareja o regressoA melancolia suave de rebanhos que pastam,Aparição da noite: sapos emergem de águas de prata.

AM MOOR

Wanderer im schwarzen Wind; leise flüstert das dürre Rohr In der Stille des Moors. Am grauen Himmel Ein Zug von wilden Vögeln folgt; Quere über finsteren Wassern.

Aufruhr. In verfallener Hütte Aufflattert mit schwarzen Flügeln die Fäulnis; Verkrüppelte Birken seufzen im Wind.

Abend in verlassener Schenke. Den Heimweg umwittert Die sanfte Schwermut grasender Herden, Erscheinung der Nacht: Kröten tauchen aus silbernen Wassern.

NA PRIMAVERA

Baixo cede a neve a escuros passos,Na sombra da árvoreErguem pálpebras róseas os amantes.

Sempre segue aos brados 'scuros dos barqueirosAstro e noite;E os remos batem baixo compassados.

Breve florescem junto à parede em ruínasAs violetas,Tão calma verdeja a fronte ao solitário.

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IM FRÜHLING

Leise sank von dunklen Schritten der Schnee, Im Schatten des Baums Heben die rosigen Lider Liebende.

Immer folgt den dunklen Rufen der Schiffer Stern und Nacht; Und die Ruder schlagen leise im Takt.

Balde an verfallener Mauer blühen Die Veilchen Ergrünt so stille die Schläfe des Einsamen.

ANOITECER EM LANS

Vaguear através dum verão que escurecePassando por gabelas de trigo amarelado. Sob um portal caiado,Por onde a andorinha entrava e saía voando, bebemos vinho de fogo.

Belo: ó melancolia e riso purpúreo.Anoitecer e os aromas escuros do verdeRefrescam-nos com arrepios as frontes ardentes.

Águas de prata correm sobre os degraus do bosque,A noite e uma vida esquecida sem palavras.Amigo; as veredas ensombradas para a aldeia.

ABEND IN LANS

Wanderschaft durch dämmernden SommerAn Bündeln vergilbten Korns vorbei. Unter getünchten Bogen,Wo die Schwalbe aus und ein flog, tranken wir feurigen Wein.

Schön: o Schwermut und purpurnes Lachen.Abend und die dunklen Düfte des GrünsKühlen mit Schauern die glühende Stirne uns.

Silberne Wasser rinnen über die Stufen des Walds,Die Nacht und sprachlos ein vergessenes Leben.Freund; die belaubten Stege ins Dorf.

CANÇÃO DE GASPAR HAUSER

Para Bessie Loos

Ele em verdade amava o Sol que purpúreo descia a colina,Os caminhos do bosque, o melro que cantavaE a alegria do prado.

Sério era o seu morar à sombra da árvoreE pura a sua face.Deus disse-lhe ao coração uma chama suave:Ó homem!

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Silencioso o seu passo achou a cidade ao anoitecer;A queixa escura da sua boca:Hei de ser cavaleiro.

Seguiram-no porém moita e bicho,Casa e jardim crepuscular de homens brancosE o seu assassino buscava-o.

Primavera e Verão e belo o OutonoDo justo, o seu passo baixoAo longo de quartos escuros de sonhadores.À noite ficava sozinho coa sua estrela;

Viu que caía neve em ramaria calvaE no pátio a escurecer a sombra do assassino.

Argêntea tombou a cabeça do não-nascido.

KASPAR HAUSER LIED

Für Bessie Loos

Er wahrlich liebte die Sonne, die purpurn den Hügel hinabstieg,Die Wege des Walds, den singenden SchwarzvogelUnd die Freude des Grüns.

Ernsthaft war sein Wohnen im Schatten des BaumsUnd rein sein Antlitz.Gott sprach eine sanfte Flamme zu seinem Herzen:O Mensch!

Stille fand sein Schritt die Stadt am Abend;Die dunckle Klage seines Munds:Ich will ein Reiter werden.

Ihm aber folgte Busch und Tier,Haus und Dämmergarten weißer MenschenUnd sein Mörder suchte nach ihm.

Frühling und Sommer und schön der HerbstDes Gerechten, sein leiser SchrittAn den dunklen Zimmern Träumender hin.Nachts blieb er mit seinem Stern allein;

Sah, daß Schnee fiel in kahles GezweigUnd im dämmernden Hausflur den Schatten des Mörders.

Silbern sank des Ungebornen Haupt hin.

QUIETUDE E SILÊNCIO

Pastores sepultaram o Sol no bosque calvo.Um pescador tirouEm rede de crina a Lua dum tanque a gelar.

Page 15: Georg Trakl Poesia

Em cristal azulHabita o homem pálido, face encostada às suas estrelas;Ou inclina a cabeça no sono de púrpura.

Porém sempre toca o voo negro das avesO que contempla, o sagrado de flores azuis,O silêncio próximo pensa coisas esquecidas, anjos apagados.

De novo anoitece a fronte em rocha lunar;Um jovem radiosoAparece a irmã em Outono e negra podridão.

RUH UND SCHWEIGEN

Hirten begruben die Sonne im kahlen Wald. Ein Fischer zogIn härenem Netz den Mond aus frierendem Weiher.

In blauem Kristall Wohnt der bleiche Mensch, die Wang' an seine Sterne gelehnt; Oder er neigt das Haupt in purpurnem Schlaf.

Doch immer rührt der schwarze Flug der Vögel Den Schauenden, das Heilige blauer Blumen, Denkt die nahe Stille Vergessenes, erloschene Engel.

Wieder nachtet die Stirne in mondenem Gestein; Ein strahlender Jüngling Erscheint die Schwester in Herbst und schwarzer Verwesung.

OCASO

A Karl Borromäus HeinrichPor sobre o tanque brancoPassaram partindo as aves bravas.À noitinha sopra das nossas estrelas um vento gelado.

Por sobre as nossas covasInclina-se a fronte quebrada da noite.Sob carvalhos nos balouçamos num barco de prata.

Sempre retinem os muros brancos da cidade.Sob arcadas de espinhosÓ meu irmão trepamos ponteiros cegos para a meia-noite.

VERKLÄRUNG

An Karl Borromäus Heinrich Über den weißen Weiher Sind die wilden Vögel fortgezogen. Am Abend weht von unseren Sternen ein eisiger Wind.

Über unsere Gräber Beugt sich die zerbrochene Stirne der Nacht. Unter Eichen schaukeln wir auf einem silbernen Kahn.

Page 16: Georg Trakl Poesia

Immer klingen die weißen Mauern der Stadt. Unter Dornenbogen O mein Bruder klimmen wir blinde Zeiger gen Mitternacht.

O SOL

Dia a dia vem por sobre o outeiro o sol amarelo.A floresta é bela, o animal escuro,O homem; caçador ou pastor.

Avermelhado sobe no poço verde o peixe.Sob o céu redondoAnda o pescador, devagar, no barco azul.

Vagarosa amadura a uva, o grão.Quando o dia silente se inclina,Está preparado algo de bom e mau.

Quando se faz noite,Ergue o caminheiro, devagar, as pálpebras pesadas;O sol irrompe de barranco escuro.

DIE SONNE

Täglich kommt die gelbe Sonne über den Hügel.Schön ist der Wald, das dunkle Tier,Der Mensch; Jäger oder Hirt.

Rötlich steigt im grünen Weiher der Fisch.Unter dem runden HimmelFährt der Fischer leise im blauen Kahn.

Langsam reift die Traube, das Korn.Wenn sich stille der Tag neigt,Ist ein Gutes und Böses bereitet.

Wenn es Nacht wird,Hebt der Wanderer leise die schweren Lider;Sonne aus finsterer Schlucht bricht.

VERÃO

À noitinha cala-se a queixaDo cuco no bosque.Inclina-se mais o trigo,A papoila vermelha.

Trovoada negra ameaçaPor sobre o outeiro.O velho trilo do griloMorre no campo.

Já não se mexem as folhas

Page 17: Georg Trakl Poesia

Do castanheiro.Na escada de caracolRuge o teu vestido.

Calma reluz a velaNo quarto escuro;Uma mão de prataApaga-a;

Calma do vento, noite sem estrelas.

Sommer

Am Abend schweigt die Klage Des Kuckucks im Wald. Tiefer neigt sich das Korn, Der rote Mohn.

Schwarzes Gewitter droht Über dem Hügel. Das alte Lied der Grille Erstirbt im Feld.

Nimmer regt sich das Laub Der Kastanie. Auf der Wendeltreppe Rauscht dein Kleid.

Stille leuchtet die Kerze Im dunklen Zimmer; Eine silberne Hand Löschte sie aus;

Windstille, sternlose Nacht.

DECLINAR DE VERÃO

O verde verão baixou tantoA voz, teu rosto de cristal.No tanque ao crepúsculo morreram as flores,Grito assustado de um melro.

Vã esperança da vida. Apresta-se jáPrà viagem a andorinha na casaE o sol mergulha no outeiro;Acena já prà viagem de estrelas a noite.

Silêncio das aldeias; retinem em voltaOs bosques abandonados. Coração,Inclina-te agora mais amorosoPor sobre a que dorme tranquila.

O verde verão baixou tantoA voz e ressoa o passoDo estrangeiro pela noite de prata.Se um veado azul se lembrasse do seu caminho,

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Do som ameno dos seus anos espirituais!

SOMMERSNEIGE

Der grüne Sommer ist so leiseGeworden, dein kristallenes Antlitz.Am Abendweiher starben die Blumen,Ein erschrockener Amselruf.

Vergebliche Hoffnung des Lebens. Schon rüstetZur Reise sich die Schwalbe im HausUnd die Sonne versinkt am Hügel;Schon winkt zur Sternenreise die Nacht.

Stille der Dörfer; es tönen ringsDie verlassenen Wälder. Herz,Neige dich nun liebenderÜber die ruhige Schläferin.

Der grüne Sommer ist so leiseGeworden und es läutet der SchrittDes Fremdlings durch die silberne Nacht.Gedächte ein blaues Wild seines Pfads,

Des Wohllauts seiner geistlichen Jahre!

ANO

Escuro silêncio da infância. Sob freixos verdejantesPasce a mansidão de olhar azulado; paz dourada.O aroma das violetas deleita algo escuro; espigas baloiçantesNa tarde, sementes e as sombras douradas da melancolia.O carpinteiro aparelha traves; na terra ao crepúsculoMói o moinho; na folhagem da avelaneira encurva-se uma boca purpúrea,Algo másculo inclina-se rubro sobre águas caladas.Manso é o outono, o espírito do bosque; nuvem douradaSegue o solitário, a sombra negra do neto.Declínio em quarto de pedra; sob velhos ciprestesJuntaram-se em fonte as imagens noturnas das lágrimas;Olhar dourado do princípio, escura paciência do fim.

JAHR

Dunkle Stille der Kindheit. Unter grünenden Eschen Weidet die Sanftmut bläulichen Blickes; goldene Ruh. Ein Dunkles entzückt der Duft der Veilchen; schwankende Ähren Im Abend, Samen und die goldenen Schatten der Schwermut. Balken behaut der Zimmermann; im dämmernden Grund Mahlt die Mühle; im Hasellaub wölbt sich ein purpurner Mund, Männliches rot über schweigende Wasser geneigt. Leise ist der Herbst, der Geist des Waldes; goldene Wolke Folgt dem Einsamen, der schwarze Schatten des Enkels. Neige in steinernem Zimmer; unter alten Zypressen Sind der Tränen nächtige Bilder zum Quell versammelt;

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Goldenes Auge des Anbeginns, dunkle Geduld des Endes.

OCIDENTE

A Else Lasker-Schüler 1.

Lua, como se algo mortoSaísse da caverna azul,E caem muitas floresSobre o caminho rochoso.Algo doente chora pranto de prataJunto ao tanque no crepúsculo,Num barco negro morreramAmantes para além.

Ou ressoam os passosDe Élis pelo bosque de corDe jacintoEcoando expirantes sob carvalhos.Oh, a figura do jovemFormada de lágrimas de cristal,De sombras noturnas.Relâmpagos dentados iluminam as têmporasSempre frescas,Quando no outeiro verdejanteRetumba a trovoada da Primavera.

2.

Tão mansos são os bosques verdesDa nossa Pátria,A vaga de cristalA quebrar moribunda no molhe em ruínasE nós chorámos no sono;Vagueiam com passos vacilantesAo longo da sebe de espinhosOs que cantam no verão do crepúsculoEm paz sagradaDa vinha dardejante ao longe;Sombras agora no seio frescoDa noite, águias de luto.Tão manso fecha um raio lunarAs marcas purpúreas da melancolia.

3.

Ó grandes cidadesDe pedra erguidasNa planura!Assim sem palavras segueO sem-pátriaDe fronte escura o vento,Árvores nuas ao pé do outeiro.Ó rios crepusculares até longe!Poderoso amedrontaRubor vespertino

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Nas nuvens de tempestade.Ó povos moribundos!Pálida vagaRebenta na praia da noite,Estrelas cadentes.

ABENDLAND

Else Lasker-Schüler in Verehrung 1.

Mond, als träte ein Totes Aus blauer Höhle, Und es fallen der Blüten Viele über den Felsenpfad. Silbern weint ein Krankes Am Abendweiher, Auf schwarzem Kahn Hinüberstarben Liebende.

Oder es läuten die Schritte Elis' durch den Hain Den hyazinthenen Wieder verhallend unter Eichen. O des Knaben Gestalt Geformt aus kristallenen Tränen, Nächtigen Schatten.

Zackige Blitze erhellen die Schläfe Die immerkühle, Wenn am grünenden Hügel Frühlingsgewitter ertönt.

2.

So leise sind die grünen Wälder Unsrer Heimat, Die kristallne Woge Hinsterbend an verfallner Mauer Und wir haben im Schlaf geweint; Wandern mit zögernden Schritten An der dornigen Hecke hin Singende im Abendsommer, In heiliger Ruh Des fern verstrahlenden Weinbergs; Schatten nun im kühlen Schoß Der Nacht, trauernde Adler. So leise schließt ein mondener Strahl Die purpurnen Male der Schwermut.

3.

Ihr großen Städte Steinern aufgebaut In der Ebene! So sprachlos folgt Der Heimatlose Mit dunkler Stirne dem Wind,

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Kahlen Bäumen am Hügel. Ihr weithin dämmernden Ströme! Gewaltig ängstet Schaurige Abendröte Im Sturmgewölk. Ihr sterbenden Völker! Bleiche Woge Zerschellend am Strande der Nacht, Fallende Sterne.

PRIMAVERA DA ALMA

Grito no sono; por vielas negras despenha-se o vento,O azul primaveril acena através de ramos que quebram,Purpúreo orvalho da noite e apagam-se em volta as estrelas.Esverdeado o rio alvorece, prateadas as velhas aleiasE as torres da cidade. Ó suave ebriedadeNo barco que desliza e os escuros gritos do melroEm jardins infantis. Já se abre o véu róseo.

Solenes sussurram as águas. Oh as húmidas sombras da várzea,O bicho a andar; verdura, ramagem floridaToca a fronte cristalina; reluzente barco balouçante.Baixinho ressoa o Sol nas nuvens rosadas no outeiro.Grande é o silêncio do pinhal, as graves sombras junto ao rio.

Pureza! Pureza! Onde estão as veredas terríveis da morte,Do pardo mutismo de pedra, os penedos da noiteE as sombras sem paz? Refulgente abismo do Sol.

Irmã, quando eu te encontrei em clareira solitáriaDo bosque e era meio-dia e grande o silêncio dos bichos;Branca sob o carvalho bravo, e de prata floria o espinheiro.Poderoso morrer e a chama cantante no coração.

Mais ‘scuras cercam as águas os belos jogos dos peixes.Hora do luto, contemplar silente do Sol;A alma é um estranho na terra. Espiritual alvoreceO azul sobre o bosque abatido e ouve-se o dobreLongo de escuro sino na aldeia; acompanhamento pacífico.Calma floresce a murta sobre as pálpebras brancas do morto.

Baixinho soam as águas na tarde cadenteE verdeja mais ‘scuro o mato da margem, alegria no vento rosado;O canto suave do irmão no outeiro vesperal».

FRÜHLING DER SEELE

Aufschrei im Schlaf; durch schwarze Gassen stürzt der Wind,Das Blau des Frühlings winkt durch brechendes Geäst,Purpurner Nachttau und es eslöschen rings die Sterne.Grünlich dämmert der Fluß, silbern die alten AlleenUnd die Türme der Stadt. O sanfte TrunkenheitIm gleitenden Kahn und die dunklen Rufe der AmselIn kindlichen Gärten. Schon lichtet sich der rosige Flor.

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Feierlich rauschen die Wasser. O die feuchten Schatten der Au,Das schreitende Tier; Grünendes, BlütengezweigRührt die kristallene Stirne; schimmernder Schaukelkahn.Leise tönt die Sonne im Rosengewölk am Hügel.Groß ist die Stille des Tannenwalds, die ernsten Schatten am Fluß.

Reinheit! Reinheit! Wo sind die furchtbaren Pfade des Todes,Des grauen steinernen Schweigens, die Felsen der NachtUnd die friedlosen Schatten? Strahlender Sonnenabgrund.

Schwester, da ich dich fand an einsamer LichtungDes Waldes und Mittag war und groß das Schweigen des Tiers;Weiße unter wilder Eiche, und es blühte silbern der Dorn.Gewaltiges Sterben und die singende Flamme im Herzen.

Dunkler umfließen die Wasser die schönen Spiele der Fische. Stunde der Trauer, Schweigender Anblick der Sonne; Es ist die Seele ein Fremdes auf Erden. Geistlich dämmert Bläue über dem verhauenen Wald und es läutet Lange eine dunkle Glocke im Dorf; friedlich Geleit. Stille blüht die Myrthe über den weißen Lidern des Toten.

Leise tönen die Wasser im sinkenden Nachmittag Und es grünet dunkler die Wildnis am Ufer, Freude im rosigen Wind; Der sanfte Gesang des Bruders am Abendhügel.

CÂNTICO DO DESPEDIDO

A Karl Borromäus Heinrich

Cheio de harmonias é o voo das aves. As florestas verdesJuntaram-se ao crepúsculo às choupanas mais calmas;Os prados de cristal da corça.O murmurar do regato acalma o escuro, as sombras húmidas

E as flores do Verão, que tinem belas ao vento.Já há luz de crepúsculo na fronte do homem pensativo.

E uma pequena lâmpada, o Bem, brilha no seu coraçãoE a paz da ceia; pois santificado é o pão e o vinhoPelas mãos de Deus, e de olhos noturno contempla-teCalmamente o irmão, pra repousar de jornadear espinhoso.Oh o morar no azul cheio de alma da noite.

Amoroso envolve também o silêncio no quarto as sombras dos velhos,Os martírios purpúreos, queixa de uma grande estirpeQue agora se vai piedosa no solitário neto.

Pois mais radioso acorda sempre dos negros minutos da loucura

O paciente no limiar empedernidoE com força o envolve o fresco azul e o declinar luminoso do outono,

A casa calma e as lendas da floresta,Medida a lei e os caminhos lunares dos solitários.

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GESANG DES ABGESCHIEDENEN

An Karl Borromäus Heinrich

Voll Harmonien ist der Flug der Vögel. Es haben die grünen Wälder Am Abend sich zu stilleren Hütten versammelt; Die kristallenen Weiden des Rehs. Dunkles besänftigt das Plätschern des Bachs, die feuchten Schatten

Und die Blumen des Sommers, die schön im Winde läuten. Schon dämmert die Stirne dem sinnenden Menschen.

Und es leuchtet ein Lämpchen, das Gute, in seinem Herzen Und der Frieden des Mahls; denn geheiligt ist Brot und Wein Von Gottes Händen, und es schaut aus nächtigen Augen Stille dich der Bruder an, daß er ruhe von dorniger Wanderschaft. O das Wohnen in der beseelten Bläue der Nacht.

Liebend auch umfängt das Schweigen im Zimmer die Schatten der Alten, Die purpurnen Martern, Klage eines großen Geschlechts, Das fromm nun hingeht im einsamen Enkel.

Denn strahlender immer erwacht aus schwarzen Minuten des Wahnsinns

Der Duldende an versteinerter Schwelle Und es umfangt ihn gewaltig die kühle Bläue und die leuchtende Neige des Herbstes,

Das stille Haus und die Sagen des Waldes, Maß und Gesetz und die mondenen Pfade der Abgeschiedenen.

VERKLÄRUNG

An Karl Borromäus Heinrich Über den weißen Weiher Sind die wilden Vögel fortgezogen. Am Abend weht von unseren Sternen ein eisiger Wind.

Über unsere Gräber Beugt sich die zerbrochene Stirne der Nacht. Unter Eichen schaukeln wir auf einem silbernen Kahn.

Immer klingen die weißen Mauern der Stadt. Unter Dornenbogen O mein Bruder klimmen wir blinde Zeiger gen Mitternacht.

O SONO

Malditos venenos escuros,Sono branco!Este estranhíssimo jardimDe árvores crepuscularesCheio de cobras, borboletas noturnas,Aranhas, morcegos.Forasteiro! A tua sombra perdidaNo rubor da tarde,

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Um corsário lôbregoNo mar salgado da tribulação.Esvoaçam aves brancas na orla da noiteSobre cidades que ruemDe aço.

DER SCHLAF

Verflucht ihr dunklen Gifte, Weißer Schlaf! Dieser höchst seltsame Garten Dämmernder Bäume Erfüllt von Schlangen, Nachtfaltern, Spinnen, Fledermäusen. Fremdling! Dein verlorner Schatten Im Abendrot, Ein finsterer Korsar Im salzigen Meer der Trübsal. Aufflammten weiße Vögel am NachtsaumÜber stürzenden Städten Von Stahl.

CREPÚSCULO

Com figuras de heróis mortosEnches LuaAs florestas caladas,Lua em foice —Com o abraço suaveDos amantes,A sombra de tempos célebresOs penedos a apodrecer em volta;Assim azulado irradiaLá prà cidade,Onde fria e máVive uma raça em decomposição,Dos netos brancosO escuro futuro prepara.Ó sombras devoradas pela LuaA suspirar no cristal vazioDo lago do monte.

DER ABEND

Mit toten HeldengestaltenErfüllst du MondDie schweigenden Wälder,Sichelmond —Mit der sanften UmarmungDer Liebenden,Den Schatten berühmter ZeitenDie modernden Felsen rings;So bläulich erstrahlt esGegen die Stadt hin,Wo kalt und böse

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Ein verwesend Geschlecht wohnt,Der weißen EnkelDunkle Zukunft bereitet.Ihr mondverschlungnen SchattenAufseufzend im leeren KristallDes Bergsees.

A NOITE

A ti eu canto selvática aspereza,Montanha erguidaNa tempestade noturna;Ó torres pardasTransbordantes de carrancas infernais,De animais de fogo,Fetos ásperos, pinheiros,Flores de cristal.Tormento infinito,Que tu, suave espírito,Perseguisses Deus,Soltando suspiros na cascata,Nos pinheiros bravos ondulantes.

Ardem dourados os fogosDos povos em volta.Por sobre penhascos negrosPrecipita-se ébria de morteA borrasca em brasa,A vaga azulDa geleiraE retumbaViolento o sino no vale:Labaredas, pragasE os escurosJogos da luxúria,Assalta o céuUma cabeça petrificada.

DIE NACHT

Dich sing ich wilde Zerklüftung,Im NachtsturmAufgetürmtes Gebirge;Ihr grauen TürmeÜberfließend von höllischen Fratzen,Feurigem Getier,Rauhen Farnen, Fichten,Kristallnen Blumen.Unendliche Qual,Daß du Gott erjagtestSanfter Geist,Aufseufzend im Wassersturz,In wogenden Föhren.

Golden lodern die FeuerDer Völker rings.

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Über schwärzliche KlippenStürzt todestrunkenDie erglühende Windsbraut,Die blaue WogeDes GletschersUnd es dröhntGewaltig die Glocke im Tal:Flammen, FlücheUnd die dunklenSpiele der Wollust,Stürmt den HimmelEin versteinertes Haupt.

O REGRESSO AO LAR

A frialdade de anos escuros,Dor e esperançaConserva a rocha ciclópica,Montanha deserta de homens,Hálito de ouro do outono,Nuvem da tarde —Pureza!

Olha de olhos azuisInfância cristalina;Sob pinheiros escurosAmor, esperança,Enquanto de pálpebras de fogoCai orvalho na relva hirta —Continuamente!

Oh! além o pontão de ouroA ruir na neveDo abismo!Frialdade azulRespira o vale noturno,Fé, esperança!Salve cemitério solitário!

DIE HEIMKEHR

Die Kühle dunkler Jahre, Schmerz und Hoffnung Bewahrt zyklopisch Gestein, Menschenleeres Gebirge, Des Herbstes goldner Odem, Abendwolke —Reinheit!

Anschaut aus blauen Augen Kristallne Kindheit; Unter dunklen Fichten Liebe, Hoffnung, Daß von feurigen Lidern Tau ins starre Gras tropft — Unaufhaltsam!

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O! dort der goldene Steg Zerbrechend im Schnee Des Abgrunds! Blaue Kühle Odmet das nächtige Tal, Glaube, Hoffnung! Gegrüßt du einsamer Friedhof!

NO LESTE

Igual ao órgão feroz da tormenta de invernoÉ a lôbrega cólera do povo,A vaga purpúrea da batalha,De estrelas desfolhadas.

Com frontes quebradas, braços de prataAcena a soldados moribundos a noite.Na sombra do freixo outonalGemem os espíritos dos mortos.

Ermo espinhoso cinge a cidade,De degraus sangrentos expulsa a luaAs mulheres aterradas.Lobos ferozes irromperam pelas portas.

IM OSTEN

Den wilden Orgeln des Wintersturms Gleicht des Volkes finstrer Zorn, Die purpurne Woge der Schlacht, Entlaubter Sterne.

Mit zerbrochnen Brauen, silbernen Armen Winkt sterbenden Soldaten die Nacht. Im Schatten der herbstlichen Esche Seufzen die Geister der Erschlagenen.

Dornige Wildnis umgürtet die Stadt. Von blutenden Stufen jagt der Mond Die erschrockenen Frauen. Wilde Wölfe brachen durchs Tor.

LAMENTO

Sono e morte, as lôbregas águiasRondam-me a fronte a noite inteira:A imagem áurea do homemEngolia-a a vaga geladaDa eternidade. Em recifes medonhosDespedaça-se o corpo purpúreo.E a voz escura lamenta-seSobre o mar.Irmã de tempestuosa melancolia,

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Olha, um barco assustado afunda-seSob estrelas,A face calada da noite.

KLAGE

Schlaf und Tod, die düstern Adler Umrauschen nachtlang dieses Haupt: Des Menschen goldnes Bildnis Verschlänge die eisige Woge Der Ewigkeit. An schaurigen Riffen Zerschellt der purpurne Leib Und es klagt die dunkle Stimme Über dem Meer. Schwester stürmischer Schwermut Sieh ein ängstlicher Kahn versinkt Unter Sternen, Dem schweigenden Antlitz der Nacht.

GRODEK

Na tarde retumbam os bosques de OutonoDe armas mortíferas, os plainos douradosE lagos azuis, e por cima o SolMais lôbrego rola; envolve a noiteGuerreiros que morrem, a queixa braviaDas suas bocas despedaçadas.Mas calmos juntam-se no fundo dos pradosNuvens vermelhas, onde mora um deus irado,O sangue vertido, lunar frialdade;Todas as estradas vão dar à podridão negra.Sob ramos dourados da noite e sob estrelasVem vacilante a sombra da irmã pelo bosque silente,Pra saudar os espíritos dos heróis, as cabeças sangrentas;E baixo ressoam nos juncos as flautas escuras do Outono.Ó luto mais altivo! ó altares de bronze,A chama ardente do espírito alimenta-a hoje uma dor poderosa,Os netos por nascer.

GRODEK

Am Abend tönen die herbstlichen WälderVon tödlichen Waffen, die goldnen EbenenUnd blauen Seen, darüber die SonneDüstrer hinrollt; umfängt die NachtSterbende Krieger, die wilde KlageIhrer zerbrochenen Münder.Doch stille sammelt im WeidengrundRotes Gewölk, darin ein zürnender Gott wohntDas vergoßne Blut sich, mondne Kühle;Alle Straßen münden in schwarze Verwesung.Unter goldnem Gezweig der Nacht und SternenEs schwankt der Schwester Schatten durch den schweigenden Hain,Zu grüßen die Geister der Helden, die blutenden Häupter;Und leise tönen im Rohr die dunkeln Flöten des Herbstes.

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O stolzere Trauer! ihr ehernen AltäreDie heiße Flamme des Geistes nährt heute ein gewaltiger Schmerz,Die ungebornen Enkel.