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“Pensamento, ou aquilo que está além do pensamento? Alguns aspectos do indizível nas Upaniṣads indianas” Roberto de Andrade Martins Prof. aposentado, Unicamp Pesquisador visitante, IFSC / USP, FAPESP Professor visitante, PPGCTS / UFSCar III Jornada de Filosofia Oriental da FFLCH/USP 1

Pensamento Ou Aquilo Que Esta Alem Do Pe

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Resumo: Este artigo apresenta uma descrição dos quatro tipos de causas aceitas por Aristóteles, centralizando-se depois nas causas finais, focalizando principalmente seu uso no estudo dos seres vivos. Discute diversos proble-mas da interpretação da teleologia de Aristóteles, tal como sua relação com a ideia de um deus previdente e as dificuldades de compreensão de finalidades em processos que não envolvem agentes inteligentes. As ideias aristotélicas sobre as causas finais são altamente complexas, e muito diferentes das ver-sões simplistas que costumam ser atribuídas ao filósofo.Palavras-chave:

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“Pensamento, ou aquilo que está além do

pensamento? Alguns aspectos do

indizível nas Upaniṣads indianas”

Roberto de Andrade Martins Prof. aposentado, Unicamp

Pesquisador visitante, IFSC / USP, FAPESP

Professor visitante, PPGCTS / UFSCar

III Jornada de Filosofia Oriental da FFLCH/USP

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„Wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen“. (Ludwig Wittgenstein, Tractatus logico-philosophicus, 7)

“Deve-se silenciar sobre aquilo que não pode ser falado”.

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4.114 [A filosofia] deve delimitar o pensável [denkbar] e, assim, o impensável [undenkbar]. Deve delimitar o impensável de dentro, através do pensável.

4.115 Ela indicará o indizível [unsagbar] apresentando claramente o que pode ser dito [sagbar].

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4.116 Tudo o que pode ser pensado, pode ser pensado claramente. Tudo o que pode ser dito, pode ser dito claramente.

4.1212 O que pode ser mostrado, não pode ser dito.

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Costuma-se associar o pensamento (especialmente o filosófico) à expressão verbal.

As palavras devem, nesse caso, exprimir conceitos claros e não ambíguos, para possibilitar argumentos racionais.

São assumidos também os princípios da não-contradição e do terceiro excluído.

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Encontramos tal uso da linguagem não apenas na filosofia ocidental mas também no pensamento oriental.

No entanto, por ser algo comum e bem conhecido, não é tão interessante quanto aquilo que é peculiar e menos conhecido.

patocoelho, pato-e-não-pato, coelho-e-não-coelho, nem pato nem não-pato, nem coelho nem

não-coelho

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Há outros usos possíveis das palavras.

No pensamento chinês antigo, de acordo com Marcel Granet (“La pensée Chinoise”), cada ideograma é um emblema com muitos significados e não um conceito único.

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Segundo o Hong fan, os cinco elementos (água, fogo, madeira, metal, terra) estão associados às 5 direções do espaço, às 5 estações, às 5 notas musicais fundamentais, aos 5 primeiros números e a outras relações cósmicas.

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A água, representada pelo número 1, está associada à direção Norte, ao Inverno e à nota musical Yu. Ela está também relacionada ao sabor salgado, ao gesto corporal, à chuva, aos trovões, à atitude séria, à cor negra, ao odor podre, ao porco, ao poço, aos rins, às orelhas, ao amor, à gestação.

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Essas não são simples "associações" e sim equivalências, segundo Granet:

"Uma era e um mundo novos se constituem logo que, manifestando a virtude dos Tcheou, apareceu um corvo vermelho. O vermelho (entre outros emblemas) caracteriza a era dos Tcheou, o território dos Tcheou, e caracteriza tanto o verão quanto o Sul." [...]

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“Em pleno inverno, um músico quer fazer retornar o verão? Se ele conhece bem sua arte, basta que ele faça soar a nota que é o emblema do verão, do vermelho, do Sul. Para captar em sua força a energia masculina do Yang, deve-se olhar para o Sul.

Um sábio general [...] sabe sempre recolher essa energia; para isso ele só precisa desfraldar na frente a bandeira do pássaro vermelho."

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O pensamento emblemático quebra as distinções usuais de categorias (cores, direções, sabores, elementos etc.).

É algo muito diferente de metáforas ou simples analogias.

Segundo Granet, é impossível compreender o pensamento chinês tradicional sem captar esse modo totalmente diferente de uso da linguagem.

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O uso emblemático das palavras também aparece de forma frequente no pensamento indiano antigo, estabelecendo homologias inesperadas e sem equivalente no pensamento filosófico ocidental.

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“Oṁ. A aurora é realmente a cabeça do cavalo do sacrifício, o Sol [sūrya] seu olho, o vento [vāta] é sua força vital [prāṇa], a boca aberta é o fogo de todos os homens [vaiśvānara]. O ciclo completo é o corpo do cavalo do sacrifício, o céu suas costas, a atmosfera seu ventre, a terra seus cascos, os pontos cardeais seus lados, [...]” (Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad I.1.1)

Aśvamedha, o sacrifício do cavalo

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“Realmente, este coração [hṛdaya] aqui tem cinco aberturas para os devas [divindades]. Sua abertura [suṣi] para o Leste [ou para a frente, pra] é o prāṇa. Isso é o olho [cakṣu]; isso é o Sol [Āditya]. Deve-se meditar sobre isso como brilho e saúde. Quem sabe isso se torna brilhante e saudável.

“Agora, sua abertura para o Sul [ou para a direita, dakṣiṇa] é vyāna. Isso é a audição [śrotra]; isso é a Lua [Candra]. Deve-se meditar sobre isso como prosperidade e fama. Quem sabe isso se torna próspero e famoso.

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“Agora, sua abertura para Oeste [ou para trás, prati] é o apāna. Isso é a fala [vāc], isso é o Fogo [Agni]. Deve-se meditar sobre isso como o brilho do conhecimento de Brahman e saúde. Quem sabe isso adquire o brilho do conhecimento de Brahman e saúde.

“Agora, sua abertura para o Norte [ou para cima, ud] é samāna. Isso é a mente [manas], isso é Parjanya [divindade da chuva]. Deve-se meditar sobre isso como fama e beleza. Quem sabe isso se torna famoso e belo.

“Agora, a abertura para cima [ūrdhva] é udāna. Isso é Vāyu [Vento], isso é o espaço [ākāśa]. Deve-se meditar sobre isso como força e grandeza. Aquele que sabe isso se torna forte e grande. (Chāndogya-Upaniṣad III.13.1-5)

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Chāndogya-Upaniṣad

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Esse uso emblemático das palavras no pensamento indiano antigo é parte fundamental do conhecimento macro- e microcósmico, presente na medicina (Āyurveda), no Yoga e nos rituais – do tempo dos Vedas até o Tantra.

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Trata-se de algo bem diferente daquilo que encontramos em outros domínios do pensamento indiano.

Na filosofia Sāṅkhya, por exemplo, há uma relação entre os cinco órgãos dos sentidos e os cinco elementos (mahābhūta); mas as várias categorias não se confundem – a audição não é éter e o éter não é a audição.

SENTIDO TANMĀTRA MAHĀBHŪTA

Audição Som Éter (ākāśa)

Tato Toque Ar (vāyu)

Visão Cor e forma Fogo (tejas)

Paladar Sabor Água (āpas)

Olfato Odor Terra (pṛthivī)

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Porém, além do pensamento racional e do emblemático, existe na tradição indiana a proposta de ultrapassar tudo o que pode ser exposto por palavras, tudo o que pode ser captado pelo pensamento e pela mente.

Há vários termos sânscritos que representam aquilo que não pode ser pensado ou dito:

anirvacanīya (indizível)

acintya (impensável)

anirdeśya (indefinível, indescritível)

anūhya (inconcebível)

atarkya (incompreensível)

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Diversas Upaniṣads apontam a existência de algo muito importante – Brahman, ou ātman – que deve ser procurado, mas que está além do pensamento.

“Não pode ser visto, é impraticável, impossível de ser captado, indescritível [alakṣaṇa], impensável [acintya], indefinível [avyapadeśya].” (Māṇḍūkya Upaniṣad 7)

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“Este Eu supremo [paramātman] é inconcebível [anūhya], ilimitado, não nascido, incompreensível [atarkya], impensável [acintya]; sua essência é o espaço [ākāśa].” (Maitrī Upaniṣad VI.17)

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Embora esteja além do pensamento, pode ser buscado, de forma paradoxal, através do pensamento:

“Aquilo que é não-pensamento [acitta], que está no meio do pensamento [citta-madhya-stha], impensável [acintya], o oculto, o mais elevado – que a pessoa dissolva seu pensamento lá.” (Maitrī Upaniṣad VI.19)

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A busca por algo que está além do pensamento e das palavras não significa negar a importância do pensamento e das palavras; mas as Upaniṣads estabelecem uma hierarquia entre vários tipos de conhecimento, considerando como inferior aquele que pode ser aprendido e ensinado através das palavras e dos textos.

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“Ele lhe disse: Devem-se conhecer dois conhecimentos, o superior e o inferior. Isto é o que dizem os conhecedores de Brahman. Destes, o inferior é: Ṛg-Veda, Yajur-Veda, Sāma-Veda, Atharva-Veda, Śikṣa [fonética], Kalpa [ritualística], Vyākarana [gramática], Nirukta [etimologia], Chanda [métrica], Jyotiṣa [astronomia]; e o superior é aquele pelo qual se apreende o akśaram [imutável].” (Muṇḍaka Upaniṣad, I.1.4-5)

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As Upaniṣads, pertencentes à corrente indiana ortodoxa, aceitam os Vedas como sendo a fonte fundamental do conhecimento verdadeiro; mas, ao mesmo, tempo, os apresentam como conhecimento inferior (apara-vidyā) quando comparados com o conhecimento do imutável (= Brahman), que é o conhecimento superior (para-vidyā).

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“Nārada se aproximou de Sanatkumāra, dizendo: Ensina-me, senhor! Este lhe respondeu: Dize-me o que tu sabes, depois eu te direi o que está além. Nārada disse: Senhor, eu conheço o Ṛg-Veda, Yajur-Veda, Sāma-Veda, Atharvana que é o quarto [Veda], em quinto lugar Itihāsa e Purāṇa [contos e lendas], o Veda dos Vedas, Pitṛya [rituais dedicados aos antepassados], Rāśi [ciência dos números], Daiva [ciência dos devas], Nidhi [ciência do tempo], Vākovākya [argumentação ou dialética], Ekāyana [regras de conduta], Devavidyā [etimologia, a ciência divina], Brahmavidyā [a ciência dos Brāhmaṇas], Bhūtavidyā [a ciência dos demônios e outros seres], Kṣatravidyā [a ciência militar], Nakṣatravidyā [ciência dos astros], Sarpadevajanavidyā [ciência das serpentes e dos gênios]. Eis, senhor, aquilo que conheço. [...] [Sanatkumāra] lhe disse: Tudo o que dizes, são apenas nomes.” (Chāndogya Upaniṣad, VII.1.1-2)

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Segunda as Upaniṣads, Brahman não pode ser descrito por palavras pois está além de todas as distinções e categorias do pensamento:

“Os brāhmaṇas, ó Gārgī, chamam-no de akṣara. Ele não é grosso nem fino, nem pequeno nem grande, nem vermelho, nem líquido; ele não tem sombra, ele não é escuro, não tem ar, não tem espaço, não adere, não tem sabor, aroma, nem olhos, nem ouvidos, nem fala, não tem mente, não tem brilho, não tem prāṇa, não tem boca, não tem medida, não tem dentro e fora, não come e não é devorado.” (Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad, III.8.8)

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Desde os Vedas, o Absoluto que é o substrato de tudo é apontado como algo que só pode ser descrito de forma paradoxal, como ser-e-não-ser, ou como nem-ser-nem-não-ser, violando os princípios da lógica tradicional.

nāsadāsīn no sadāsīt tadānīṁ

“Então não havia o inexistente, nem havia o existente”

(Ṛgveda, X.129.1)

“Conheça-o como ser e não-ser, o supremo, o objeto mais desejável, que está além do conhecimento das criaturas.” (Muṇḍaka Upaniṣad, II.2.1)

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“Realmente, aquilo [tat] é nem pensável [cintya] nem também impensável [acintya], é realmente impensável e pensável. Liberto de toda parcialidade, atinge então Brahman.” (Amṛtabindu Upaniṣad, 6)

Estando Brahman além do pensamento conceitual e racional, poderia parecer que é inatingível. No entanto, os pensadores indianos indicam constantemente que ele pode (e deve) ser atingido.

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A possibilidade de atingir a realidade mais elevada, de forma não-racional, é garantida no contexto das Upaniṣads pela identidade entre Brahman e ātman.

Se Brahman fosse um Absoluto externo, seria impossível atingi-lo; no entanto, como ele se identifica com o Eu mais profundo (ātman), há um caminho interno para atingi-lo.

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“Ele se move e não se move. Ele está distante e está também próximo. Está dentro de tudo, e está também fora de tudo.“ (Īśā Upaniṣad, 5) “O ātman, mais sutil do que o sutil, maior do que o maior, está oculto no coração das criaturas [...]” (Kaṭha Upaniṣad, I.2.20 = Śvetāśvatara Upaniṣad, III.20)

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“Vasto, divino, de natureza impensável [acintya-rūpa], mais sutil do que o sutil, ele brilha; ele está mais distante do que o que está longe, e no entanto está perto, aqui, onde pode ser contemplado pelos que o veem no local secreto.” (Muṇḍaka Upaniṣad III.1.7)

Este “local secreto” é interno: o centro ou núcleo da própria pessoa, representado simbolicamente pelo coração.

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A solução não-conceitual apresentada nas Upaniṣads consiste em ultrapassar o pensamento (um produto mental) para poder atingir diretamente, através de vivências (e não por palavras) a realidade que está além dos conceitos.

Para isso, foram desenvolvidas técnicas cujo objetivo é proporcionar o contato direto (e não um conhecimento verbal) do Absoluto.

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“Em um local solitário, sentado em uma postura fácil, estando purificado, com cabeça, pescoço e corpo eretos, na última fase da vida, controlando todos os sentidos e honrando seu mestre [guru] com devoção; meditando no lótus do coração [hṛd-puṇḍarīka], vazio de paixão, puro,

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tendo no centro a pureza, a ausência de sofrimento, o impensável [acintya], o não-manifesto, a forma infinita, a bem-aventurança, a tranquilidade, a imortalidade, a

fonte de Brahmā [...] meditando nele, o sábio alcança a fonte dos seres, a testemunha de tudo, que está além de toda escuridão.” (Kaivalya Upaniṣad, 5-7) 36

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Considerações finais A aceitação do indizível faz parte da filosofia ocidental – por exemplo, em Wittgenstein:

6.522 Existe, realmente, o inexpressível [Unaußprechliches]. Isso se mostra; é o místico.

6.54 Minhas proposições se esclarecem deste modo: aquele que me compreende, finalmente as compreende como sem sentido, quando ele subiu através delas, sobre elas, acima delas. (Ele deve, por assim dizer, atirar fora a escada, depois de haver subido por ela.)

Ele deve ultrapassar essas proposições; então ele vê o mundo corretamente.

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O pensamento racional, conceitual, é limitado e representa apenas uma das formas de conhecimento do ser humano; há outras completamente diversas, como o próprio conhecimento sensorial do mundo externo.

Em diversas culturas, como a chinesa e a indiana, foram desenvolvidas formas especiais de conhecimento, diferente do pensamento racional; negá-las é assumir uma atitude preconceituosa e fechar-se ao que ainda não conhecemos.

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O pensamento racional não era desconhecido pelos antigos indianos.

No entanto, os autores das Upaniṣads consideraram que tudo aquilo que pode ser transmitido pelas palavras e apreendido pela mente é um conhecimento inferior.

Indicaram, também, caminhos para se atingir aquilo que está além do pensamento.

Se isso pode ou não pode ser considerado “filosofia”, é uma questão que será respondida por cada um tendo em vista seus valores.

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OBRIGADO!

Agradecimentos: 40

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Algumas leituras complementares: MARTINS, Roberto de Andrade. Muṇḍaka Upaniṣad. O conhecimento de Brahman e do ātman. Rio de Janeiro: Corifeu, 2008. Reedição: Raileigh: Lulu Press, 2015. http://tinyurl.com/MundakaUpanisad MARTINS, Roberto de Andrade. O indizível no pensamento indiano: a sabedoria que ultrapassa os conceitos. PP. 85-102, in: SANTOS, João Marcos Leitão (org.). Religião, a herança das crenças e as diversidades de crer. Campina Grande: Editora da Universidade Federal de Campina Grande, 2013. http://tinyurl.com/IndizivelMankukya

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