Glauco Metodos Mistos

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    RBCS Vol. 30 n° 88 junho/2015

    Artigo recebido em 21/08/2013 Aprovado em 06/03/2015

    DESAFIOS ONTOLÓGICOS EEPISTEMOLÓGICOS PARA OS MÉTODOS

    MISTOS NA CIÊNCIA POLÍTICA *

    Glauco Peres da Silva

    Apresentação

    A análise de métodos mistos surge no debatemetodológico das ciências sociais como uma ma-neira de superar as divergências entre os chamadosmétodos qualitativos e quantitativos. Os pioneirosnesta empreitada, iniciada há cerca de vinte anos,combinaram vários métodos em razão de demandaspráticas dos contextos em que trabalhavam, dire-cionando-os tanto para a generalização dos resul-

    tados, como para a análise particular dos casos emquestão (Greene, 2008). Atualmente, os métodos

    mistos têm a pretensão de conjugar as vantagendessas perspectivas de forma a permitir avanços conhecimento das ciências sociais, em geral, e ciência política, em particular. Houve em períodrecente um ressurgimento considerável de trablhos que advogam a importância dos métodos qulitativos em detrimento das práticas quantitativabastante em voga na ciência política, o que em pate explica esta disposição de alguns autores em nos métodos mistos uma alternativa superior. Po

    rém, os trabalhos que tratam desse tema enfrentadesaos que podem implicar na inviabilidade desempreitada. Estes desaos variam desde questõde ordem epistemológica e ontológica na conjunção de métodos distintos até a relação destas coa prática metodológica em si. A discussão sobepistemologia e ontologia é crucial para a metodlogia adotada, porque a adequação de um conjuntparticular de métodos para um dado problema sreverte nas próprias hipóteses sobre a natureza d

    * Este texto é uma versão modicada da prova escritado processo de seleção para docentes para o cargo deprofessor em metodologia de pesquisa na ciência po-lítica realizado em 2011 no departamento de ciênciapolítica da Universidade de São Paulo.

    Universidade de São Paulo (USP), São Paulo – SP, Brasil. E-mail: [email protected]

    DOI: http//dx.doi.org/10.17666/3088115-128/2015

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    relações causais que se pretende descobrir (Hall,2003, p. 374). Ou seja, entende-se que há um vín-culo importante entre epistemologia e ontologia,de um lado, e metodologia e método, de outro, eesta relação está na base dos desacordos da aplica-

    ção dos métodos mistos.Os desafios epistemológicos e ontológicosenfrentados pelos métodos mistos serão explora-dos em duas vertentes. Na primeira, losóca, osdesaos decorrem do fato de o método misto seapoiar no pragmatismo, corrente losóca que sedistingue pela defesa do método adotado na pes-quisa primordialmente por seus resultados. Sua re-lação com outras correntes losócas dominantesna ciência política torna-se ponto de discórdia. Asegunda se dá em razão da pluralidade metodoló-gica do chamado método qualitativo. Ainda que odebate comparativo diante dos métodos quantitati-vos trate-o como uma unidade, esse procedimentoesconde diferenças metodológicas importantes emdecorrência de variações associadas às próprias prá-ticas qualitativas: diferentes conjuntos de métodosconduzem a distintos desaos. Assim, este textopretende discutir cada um desses desaos que de-vem ser superados pelos métodos mistos que, senão esgotam as diculdades enfrentadas, são as-pectos fundamentais a serem resolvidos. Para isso,inicialmente será apresentado o panorama histó-rico do debate entre as perspectivas qualitativas equantitativas para que se tenha melhor compreen-são da relevância dos objetivos pretendidos com adefesa dos métodos mistos. Em seguida, será apre-sentada a aplicação dos métodos mistos na ciênciapolítica para depois se discutir seus desaos episte-mológicos e ontológicos. Uma seção de considera-ções nais encerra o trabalho.

    Debate entre métodos qualitativose quantitativos

    A tradição de pesquisa na ciência política apre-senta alterações importantes em período recente.Bevir destaca um duplo movimento nas pesquisasnesta área. Do ponto de vista epistemológico, ostrabalhos, ao buscarem se afastar do positivismo dePopper, se aproximariam do holismo, que arma

    que “o signicado de uma proposição depende dparadigma adotado, da rede de crenças, ou jogode linguagem na qual está localizada” (2008, 57). Tal posição refuta conceitos como conrmação ou refutação de uma teoria e ainda relativi

    as informações empíricas ao questionar os dadcolhidos por meio de qualquer método em relaçãà sua validade absoluta ante a rede de crenças ouprogramas de pesquisa estabelecidos. Já do ponde vista ontológico, haveria uma aproximação construtivismo, segundo este autor. Esse movimeto seria problemático para a prática da ciência potica, pois “desaa a tendência difundida de reiccoisas sociais [como as instituições] e a atribuisuas causas uma essência que então determina tansuas outras propriedades como suas consequência(Idem, p. 63). Essas alterações reetem uma aproxmação à tradição qualitativa de pesquisa, e por isé relevante fazer um breve histórico deste cenárde mudança, pois elas contextualizam a aplicaçãa justicativa dos métodos mistos.

    Em trabalho que utiliza métodos plurais, outra forma de se referir aos métodos mistos, Potete Janssen e Ostrom (2010) reconstroem o debate entre pesquisa qualitativa e quantitativa para justicar sua opção. Segundo eles, nas décadas de 1921930, a metodologia comumente empregada estavmais próxima à análise que hoje chamamos qulitativa, ainda que haja distinções relevantes. Equadro teria permanecido assim até que, em medos do século XX, com o avanço dobehaviorismo,a análise quantitativa resurgiria como alternativpara a compreensão dos fenômenos sociais, baseabasicamente na utilização de métodos estatísticosurveys. O behaviorismo é uma tradição surgida napsicologia, exemplicada em autores como Watse Skinner¸ com praticantes até os dias atuais. Es

    abordagem parte do princípio que a psicologia dese ater à análise do comportamento observável dindivíduos e não com o mundo não observável dsuas mentes. Atém-se, assim, à observação do coportamento humano. Em sua aplicação às ciêncisociais, tal abordagem vai de encontro aos trabalhda chamada Escola de Chicago, exemplicada aqnos trabalhos de R. Park, que buscavam, com a utlização de técnicas qualitativas, identicar como racterísticas individuais são moldadas por proces

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    e estruturas sociais mais gerais. Apesar desse emba-te, a análise behaviorista ganha corpo ao longo dasegunda metade do século XX (Box-Steffensmeieret al., 2008). Em meados da década de 1980, apartir da inuência do paradigma econômico, os

    chamados modelos formais, entendidos como aaplicação da análise e da modelagem matemáticaao comportamento humano, atingiriam tambéma ciência política com bastante impacto (Potetee, Janssen e Ostrom, 2010). Estes modelos apoiam-sede maneira geral na abordagem teórica denomina-da neo-institucionalismo, cuja concepção assumeque o comportamento humano se adequará a re-gras formais e informais vigentes (as instituições)que são passíveis de análise e comparação. A partirde então, a prática metodológica em ciência políti-ca aprofundou-se no formalismo matemático e es-tatístico. Entretanto, os autores destacam que essemovimento não se deu tranquilamente. Ocorreramtrês desacordos fundamentais: sobre os objetivosda pesquisa social; sobre as considerações práticasrelacionadas com a pesquisa; e sobre aspectos lo-sócos envolvendo a utilização de um ou de outrométodo. Os desacordos fomentaram o debate queainda permanece e que está na base das discussõessobre métodos mistos.

    Como destaque, em 1994, um texto de eleva-da repercussão, chamadoDesigning social inquiry ,de King, Keohane e Verba, é importante referên-cia na discussão entre estas duas perspectivas. Seupropósito seria consolidar as divergências entre osmétodos qualitativos e quantitativos. Esses auto-res partem da argumentação de que não há dife-rença metodológica relevante entre as duas formasde construir a pesquisa, desde que cumpram como rigor metodológico necessário para a produçãode conhecimento. De maneira bastante resumida,

    os autores defendem o emprego da mesma lógicautilizada pelos praticantes da pesquisa quantitati-va às pesquisas qualitativas. Esta lógica subjacenteé comum a ambas, mas apenas tende a ser explici-tada nas discussões sobre métodos quantitativos,mas não nos qualitativos. O argumento deles éde que a alegada distinção é somente de “estilo”e remete a questões “metodológica e substantiva-mente desimportantes” (1994, p. 4). Ao m, adistinção principal se daria apenas no fato de que

    as pesquisas que aplicam métodos quantitativolidam com amostras com elevado número de observações, enquanto os métodos qualitativos saplicados em amostras com N pequeno. Os demais aspectos seriam semelhantes.

    Esta obra gerou bastante controvérsia e marco reaquecimento do debate por parte dos defensores da pesquisa qualitativa. EmRethinking social in-quiry , Collier, Brady e Seawright argumentam qunão é possível cumprir as recomendações constates no DSI e que há vários pontos questionáveis sbre esta adaptação. Armam também que a pesqusa qualitativa possui vantagens sobre a quantitatie que também seria possível conciliar ambas a ptir da identicação das forças e fraquezas de cauma. Por exemplo, dizem que a pesquisa quanttativa possui limitações quando utiliza modeloeconométricos. Segundo eles, se a especicaçdo modelo está equivocada, a análise também etará e basear-se em dados estatísticos não impedeequívoco. Os autores ainda ressaltam que há umampla literatura que problematiza a inferência casal decorrente de dados observacionais. A análqualitativa teria condições, assim, de evitar tais culdades e então contribuir para a seleção de terias (2010, p. 8). É neste cenário que os métodomistos buscam se estabelecer como alternativapor esta razão, é importante detalhar alguns pontode controvérsia entre as perspectivas quantitativaqualitativas.

    A discussão entre os métodos qualitativos quantitativos deu-se em várias frentes e com a paticipação de diferentes autores. Sinteticamentpode-se dizer que parte da literatura trabalha coo intuito de qualicar a discussão sobre a possívcoexistência de ambos. Nesse sentido, os autorusualmente discutem as diferenças entre os gr

    pos. Como parte do primeiro grupo, Mahoney Goertz (2006) armam que as duas perspectivpodem ser entendidas como duas culturas diferentes, cada qual com uma práxis para a elaboração um desenho de pesquisa. Eles apontam dez itenessenciais na construção de uma pesquisa e disctem as divergências entre cada uma das alternativOs critérios segundo os quais os métodos qualitavos e quantitativos se distinguem são: abordageexplicativas, conceito de causalidade, possibilidade

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    explicações multivariadas, possibilidade de cami-nhos distintos que redundam no mesmo resultadoobservável, escopo da pesquisa e generalização dosresultados, prática de seleção de casos, ponderaçãodas observações, importância de casos particulares,

    falta de adequação ( t ) e construção de conceitos emedidas. Como exemplo, no que tange ao escopoe à generalização da pesquisa: na análise qualitati-va, é possível tratar poucos casos, inclusive com avantagem de evitar heterogeneidade. Já na análisequantitativa, a busca é por uma ampla gama de ob-servações, tentando maximizar o resultado da apli-cação do instrumental estatístico. Em cada uma dasobservações anteriores, Mahoney e Goertz indicamas características distintas das abordagens com altoe baixo número de observações, o que acaba pormanter este distanciamento. Vale ressaltar que umsubgrupo dessa parte da literatura, ao contrário,visa unicar as duas abordagens. Apesar de reco-nhecerem as diferenças, trabalham com o intuitode identicar pontos de contato entre as duas tradi-ções. Brady (2013), por exemplo, trabalhando comformas funcionais e modelagem, intenta demons-trar que a busca de explicações causais em ambos osgrupos é a mesma.

    Em uma posição mais pluralista, Della Porta eKeating (2008) aceitam a coexistência de diversosparadigmas de pesquisa, mesmo que não incom-patíveis entre si. A combinação de métodos, nestecaso, não é superior ou necessária. Haveria distin-tos caminhos para se obter conhecimento, sem apretensão da defesa de um modelo superior. Poroutro lado, Gerring sustenta que a distinção entreessas perspectivas é apenas uma questão de com-parabilidade. Esta pode se dar tanto no nível des-critivo, quanto causal, mas basicamente envolvemum tradeoff entre o que o autor chama de descrição

    thick ethin. Estas, por sua vez, podem ser empreen-didas pela escolha que o pesquisador fará entre co-nhecer muito de um ou de poucos casos ou buscarinformação de um número muito grande de casos,em detrimento da profundidade e da qualidadedesta informação. Ou seja, mais próximos à visãode KKV, estas pesquisas argumentam que as dife-renças propagadas são pequenas e dependem maisdo diagnóstico e da perspectiva que se atribuem aelas do que a evidências concretas (Gerring, 2012).

    Há outro conjunto de autores que é mais cético sobre as possibilidades de combinação das abdagens em pauta. Como exemplo, pode-se citar trabalho de Chatterjee (2011), para quem a escolha metodológica possui, ao menos implicitame

    te, uma opção ontológica. Esta relação mostra-smuitas vezes, incompatível, resumida a uma intepretação ontológica “reducionista” e “regularistde causalidade. Segundo o autor, isso diculta combinação de métodos de liações distintas.

    Nesse contexto, Potetee, Janssen e Ostrom(2010) lembram que o debate teórico sobre o método empregado não se dá completamente vinculado à práxis da pesquisa cientíca. Esta pemanece a despeito das discussões teóricas e acapor realimentar esses debates. Segundo os autorgeralmente o debate não recai sobre as vantagedo método em si, mas sobre as hipóteses teóricescolhidas e, consequentemente, sobre questões otológicas de cada método, o que tem gerado umacúmulo de novas perspectivas metodológicas qnão conseguem anular as perspectivas anterioreOs autores chegam até a armar que a discussãopermeada pela (in)disponibilidade de dados e pelobjetivos de carreira dos indivíduos. A proposiçdos métodos mistos sofre diretamente com tafatores, também porque a formação dos pesquisdores proporciona, em geral, o domínio de apenauma ou duas práticas metodológicas particulares

    Assim, pode-se organizar a discussão em dudimensões associadas. A primeira vincula-se a pectos práticos da atividade de pesquisa, na qual pesquisadores são treinados no sentido kuhnian A segunda está ligada a aspectos losócos, relanados com a adoção do pragmatismo como sustetador da prática plural. Em comum entre ambaencontram-se os aspectos epistemológicos e o

    tológicos subjacentes, os quais serão privilegiadneste artigo. Tais dimensões serão exploradas madiante; antes, porém, é necessária a apresentaçdos métodos mistos na ciência política.

    Métodos mistos e a ciência política

    A denição de métodos mistos ainda carece dconsenso. Genericamente, trata-se da combinaçã

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    de análises qualitativas e quantitativas em um mes-mo estudo. Em razão de sua história ainda recente,seja como prática, seja como reexão do fazer cien-tíco, a superação desta diculdade ainda parecelonge de concluída. Como Johnson, Onwuegbuzie

    e Turner (2007, pp. 118-120) mostram, diferentesautores denem a pesquisa com métodos mistos deforma bastante discrepante. Buscando superar estadiculdade, eles propõem a seguinte demarcação:“A pesquisa de métodos mistos é o tipo de pesqui-sa na qual o pesquisador ou time de pesquisadorescombina elementos das perspectivas quantitativas equalitativas (por exemplo, o uso de pontos de vistaquantitativos ou qualitativos, conjunto de dados,análises, técnicas de inferência) para um propósitoamplo e profundo de compreensão e corroboração”(2007, p. 123). Os autores ainda armam que: “umestudo de métodos mistos envolveria a combina-ção dentro de um mesmo estudo; um programa demétodos mistos envolveria a combinação dentrode um programa de pesquisa e a combinação podeocorrer através de um conjunto intimamente rela-cionado de estudos” (Idem, ibidem). Ainda assim,é esperado que decorra um lapso signicativo detempo até que o consenso seja atingido.

    Se há divergência na denição, as práticas clas-sicadas como métodos mistos são ainda mais di-versas (Small, 2011; Newmanet al., 2003). Em umesforço de sintetizar essas práticas, Creswell (2009,cap. 10) apresenta um conjunto de seis estratégiasque podem ser seguidas ao se adotar os métodosmistos, cujos critérios são estabelecidos em quatrocategorias:implementação, quando se decide qualdos métodos deverá iniciar a pesquisa; prioridade ,quando se atribui prioridade a um dos métodos;in-tegração, momento em que se conjuga os dados; e, perspectiva teórica , quando se averigua se esse ponto

    de vista está implícito ou explícito. Essa sistema-tização facilita a compreensão das possibilidadesde utilização dos métodos mistos e, por isso, tor-nou-se uma referência na elaboração de diferentesdesenhos de pesquisa dentro dessa abordagem. Aprimeira estratégia – Estratégia de Explicação Se-quencial – caracteriza-se pela prioridade da análisede dados quantitativos, seguida por uma análise dedados qualitativos. Ambos os procedimentos se in-tegram durante a fase de interpretação do estudo,

    o que se justica pelo auxílio que a análise quatativa traria na interpretação dos resultados da prmeira fase. A segunda é chamada de Estratégia Exploração Sequencial. Há aqui uma inversão dfases, iniciando-se a pesquisa, portanto, pela anál

    quantitativa. Assim, alterna-se a avaliação anterios resultados quantitativos servirão para assistir interpretação dos resultados qualitativos obtido Já a terceira estratégia recebe o nome de EstratéTransformadora Sequencial, em que duas etapas sucedem como nas anteriores; porém, neste caso pesquisador é livre para priorizar qualquer umdas duas análises. Diferentemente das demais etratégias, esta possui um modelo teórico que guo estudo, tornando-se mais importante do que ouso dos modelos isoladamente. Estratégia de Triagulação Simultânea é a denominação da quarta etratégia, considerada uma das mais tradicionais. autor explica que ela deve ser uma opção quandoutilizam métodos distintos para conrmar, validou corroborar resultados em um único estudo. Seuso se justica pela busca de superar as fraquezasum método utilizando as forças do outro. Isso podfortalecer a interpretação quando há convergêncnos resultados em ambos os métodos ou explica divergência, caso ocorra. Na quinta estratéginomeada Estratégia de Seleção Conjunta, pode-identicar apenas uma fase de coleta de dados, qual informações quantitativas e qualitativas scolhidas conjuntamente. Em contraponto à estratégia anterior, nesta há um método predominantguiando o projeto. O outro método está imerso nprincipal, permitindo que se busquem informaçõem níveis distintos de análise. Pode ser entendidcomo um desenho de pesquisa multinível. Por ma Estratégia Transformadora Simultânea, utilizaquando o pesquisador adota uma perspectiva teór

    ca especíca. Sua escolha se reete no propósitopesquisa ou nas questões que se pretende resolvseu desenho pode incorporar elementos das duaestratégias anteriores, facilitando as etapas de iplementação, descrição e divulgação do resultado

    Entre os diversos trabalhos que aplicam os mtodos mistos na ciência política, algumas pesqusas merecem referência como forma de retrataramplitude e a variedade de suas aplicações. Ju(2008) apresenta uma pesquisa em que a práti

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    ca de métodos mistos é voltada para o estudo doprocesso de democratização após períodos de guer-ra civil. Busca com este procedimento identicare mensurar o mecanismo que conduz a ocorrênciadestas guerras. Este trabalho pode ser classicado

    na primeira estratégia apontada por Creswell. Jungprimeiro procede a uma análise com N-grande paradescobrir as condições de surgimento de um go-verno democrático após uma guerra civil e estimarefeitos causais de arranjos de divisão de poder noperíodo democrático após a guerra. Em seguida, oautor seleciona dois casos extremos, um positivo eoutro negativo, para uma análise mais detalhada.Neste caso, a análise qualitativa serve de suporte àanálise quantitativa precedente. Em outra pesquisa,Steele (2008) apresenta um conjunto de trabalhosque aplicam os métodos mistos para a análise dasmigrações resultantes de guerras civis. Ao estudar aColômbia, a autora argumenta que a adoção dessaperspectiva permite não só uma melhor caracteriza-ção dos deslocamentos de pessoas, como também aidenticação de formas mais críticas das variaçõesentre os casos. Sua opção metodológica enquadra--se na estratégia que Creswell chamou de SeleçãoConjunta, já que a autora combinou simultanea-mente análise econométrica, entrevistas e estudosde casos em sua pesquisa. Já Macintosh e White(2008) adotam o método misto para o estudo daparticipação políticaonline . Propõem uma metodo-logia de análise das iniciativas da democracia parti-cipativa através de novas tecnologias que facilitemo acesso do cidadão às decisões do poder público. A construção metodológica adotada parte de umapesquisa qualitativa, lançando mão de observaçãoparticipante, entrevistas, grupos focais e análisetextual para, em seguida, realizar testes estatísticos,seguindo assim o segundo modelo apresentado por

    Creswell. Por m, Ingram (2007) aplica os méto-dos mistos para a avaliação das cortes estaduais noMéxico. Seu objetivo é apresentar uma estrutura deanálise de performance destas cortes, tanto em rela-ção ao gasto quanto em relação à competitividade,aplicando inicialmente uma técnica quantitativapara em seguida selecionar casos para avaliação emprofundidade.

    Vale destacar a posição de Potetee, Janssen eOstrom (2010) quanto às vantagens do emprego de

    métodos mistos no sentido prático e em termos lgicos. Alertam, contudo, que a mera utilização ddois métodos, um tipicamente qualitativo e outrquantitativo, não é pressuposto para o êxito da anlise. Em outras palavras, podem-se superar os de

    os propostos usando-se apenas uma metodologisoladamente, seja quantitativa ou qualitativa, ma junção de métodos distintos, reiteram os autoreé capaz de enriquecer sobremaneira as explicaçõ

    Desaos epistemológicos e ontológicos8

    Quando a literatura discute a adoção de certperspectiva metodológica, ela se coloca diante pelo menos duas dimensões analíticas distintauma losóca e outra relacionada à práxis da ciêcia. No primeiro caso, a opção por certas técnictem a ver com aspectos epistemológicos e ontolgicos que podem estar mais ou menos claros pao pesquisador atuante em determinada área do conhecimento, ao menos pela compreensão de queescolha de uma técnica lhe permite capturar deteminada dimensão da realidade e que as informções geradas possibilitam conhecer de alguma fma tal realidade. Por outro lado, a práxis associaexplicitamente aos métodos utilizados, ou seja, conjunto de procedimentos de um cientista. O praticante de qualquer ciência está mais direcionadotécnicas e procedimentos adotados no seu campdo saber, o que leva à segunda dimensão do debaHá vínculos entre essas duas dimensões: as prátiadotadas dependem da compreensão que se faz realidade e das possibilidades de conhecê-la. Asso conjunto de etapas escolhidas por um cientisnão está completamente livre dos vínculos losócos que os sustentam, a despeito da clareza que

    tenha deles e da maneira como o pesquisador ftreinado para resolver os problemas relevantes seu campo. Nesse sentido, questões epistemológie ontológicas subjazem ao debate sobre combinaçde métodos. A defesa da pluralidade metodológidepende, então, da compreensão losóca; e potanto é preciso avaliar o que está em jogo quandodefende o método plural, começando por entendea dimensão metacientíca aí envolvida.

    Como o mundo social se organiza e como o ho

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    mem dá sentido a ele são questões ontológicas rela-cionadas com a natureza real do mundo social queorientam a discussão nas ciências sociais. A esse res-peito, Della Porta e Keating (2008, p. 23) apontampara a diferença entre nominalistas – para quem as

    categorias sociais existem apenas porque o homemas cria – e realistas – para quem elas existem a des-peito das posições dos indivíduos acerca do objeto.Esta divisão marca, do ponto de vista ontológico,diferentes abordagens práticas adotadas nas ciênciassociais, e cada uma delas se aproxima mais ou menosde uma dessas posições. Já as questões epistemológi-cas voltam-se para a natureza, as fontes e os limitesdo conhecimento. Estão relacionadas, portanto, acomo adquirimos conhecimento, tendo por basea ideia de proposição e argumentação. De diferentescombinações epistemológicas e ontológicas surgemdistintos procedimentos cientícos. Adotando a no-menclatura de Della Porta e Keating (pp. 21-25), há,nesse sentido, umcontinuum de abordagens práticasutilizadas nas ciências sociais em que quatro marcospodem ser apontados: positivista, pós-positivista, in-terpretativista e humanista.

    No primeiro, referenciado nos trabalhos deDurkheim e Comte, do ponto de vista ontológico,a realidade social, regida por leis externas aos indi-víduos, é objetiva e pode ser capturada facilmente,como acontece nas ciências naturais; do ponto devista epistemológico, o pesquisador e seus objetosde estudo são completamente distintos. O processoindutivo seria o método por excelência a ser utiliza-do para capturar justamente essas leis sociais. Pró-xima a esta abordagem, encontra-se a perspectivapós-positivista, para a qual a realidade social tam-bém é objetiva, mas a apreensão da realidade nãoseria algo tão evidente, levando a uma postura maiscrítica por parte do pesquisador. Sua tarefa é com-

    plexa, o que leva a um posicionamento epistemoló-gico menos assertivo. Acredita-se que o pesquisadorteria inuência sobre a produção de conhecimentoe, por isso, adotaria leis probabilísticas em vez decausais. Haveria, assim, um grau de incerteza maiorsobre as possibilidades de produção de conheci-mento se comparada à prática positivista.

    Essas duas correntes diferem sensivelmente dasdemais. Na visão interpretativista, a objetividade ea subjetividade estão imbricadas na realidade social,

    aumentando em muito a diculdade de apreendê-la. O objetivo da ciência seria compreender essubjetividade, o que remonta ao posicionamento weberiano. A implicação epistemológica dessituação é de que o conhecimento possível de s

    apreendido é subjetivo e depende do contexto. Nãhaveria, portanto, leis sociais possíveis. Por mperspectiva humanista entende a realidade socicomo algo totalmente subjetivo, construído a patir da subjetividade humana. As classicações daà realidade não seriam determinadas pela maneicomo o mundo é, mas pelas formas convenientde representá-lo. Nesse sentido, o único conhecmento possível seria aquele denominado empátic

    Com base nessa apresentação geral, podem-discutir as implicações suscitadas na escolha de mtodos distintos ou combinados em uma pesquisaUm dos argumentos favoráveis à adoção de métdos mistos arma que as questões metodológicasuma pesquisa não estão necessariamente implicadcom questões ontológicas e epistemológicas, poas técnicas permitem apenas a captura de informções na realidade, sendo que uma mesma técnicpode ser trabalhada com propósitos diferentes, eabordagens práticas diferentes. Isto é, não há umétodo especíco que deva necessariamente susado em uma abordagem cientíca, seja ela posivista, pós-positivista, interpretativista ou humanis(Idem, p. 29). A metodologia é distinta, ainda quos métodos utilizados possam ser similares.

    Outro argumento é de que enquanto a com-binação de práticas for útil para a evidenciaçãdaquilo que o pesquisador deseja, o procedimenplural se sustenta. Neste caso é preciso discutir usuporte losóco distinto dos já apresentados, que a técnica aplicada se refere a aspectos losóparticulares. Assim, seguindo a linha argumentat

    da divisão de métodos e abordagens, pode-se faza seguinte relação: as pesquisas quantitativas asciam-se às perspectivas positivistas e pós-positivique seriam consideradas posições vinculadas à tração da losoa da ciência denominada realismo;as pesquisas qualitativas se ligariam às perspecthumanista e interpretativista, posições associadatradição nomeada relativismo; aos métodos mistoassocia-se o pragmatismo. Para discutir a adoção dopragmatismo, é necessário apresentar suas diverg

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    cias em relação aos pontos de vista racionalista e re-lativista. De acordo com Chalmers,

    [...] [o] racionalismo extremado arma que háum critério único, atemporal e universal com

    referência ao qual se podem avaliar os méritosrelativos de teorias rivais. [...] Sejam quais fo-rem os detalhes da formulação do critério porum racionalista, uma característica importan-te dela é sua universalidade e seu caráter nãohistórico. [...] O racionalista extremado vê asdecisões e as escolhas dos cientistas sendo guia-das pelo critério universal. O cientista racionalrejeitará as teorias que deixem de correspondera ele e, ao escolher entre duas teorias rivais, es-colherá aquela que melhor corresponda a ele.O racionalista típico acreditará que as teoriasque se conformam às exigências do critériouniversal são verdadeiras, ou provavelmenteverdadeiras (2011, pp. 136-137).

    Adota-se uma postura objetiva diante da rea-lidade social que existe a despeito das crenças da-queles que a observam. As relações teóricas esta-belecidas seriam válidas a despeito dos contextoshistóricos e sociais particulares. Como já comen-tado, pode-se dizer que a metodologia adotada emuma pesquisa quantitativa considera esta interpre-tação. Já ao se desenvolver em uma pesquisa quali-tativa, o suporte losóco é distinto; estaria próxi-ma ao relativismo que

    [...] nega que haja um padrão de racionalida-de universal não histórico, em relação ao qualpossa se julgar que uma teoria é melhor quea outra. Aquilo que é considerado melhor oupior em relação às teorias cientícas variará

    de indivíduo para indivíduo e de comunida-de para comunidade. O objetivo da busca doconhecimento dependerá do que é importanteou daquilo que é valorizado pelo indivíduo oucomunidade em questão. [...] O dito do velholósofo grego Protágoras “o homem é a medi-da de todas as coisas” expressa um relativismoquanto aos indivíduos, ao passo que o comen-tário de Kuhn de que “não há padrão mais altoque o assentimento da comunidade relevante”

    expressa um relativismo em relação às comundades. As caracterizações de progresso e as pecicações de critérios para julgar os méritdas teorias serão sempre relativas ao indivíduou às comunidades que aderem a elas (Idem,

    pp. 137-138). Ao contrário da posição anterior, os contexto

    seriam fundamentais para se compreender os fnômenos sociais. Os casos particulares são objeválidos para o estudo cientíco e fornecem infomação relevante para o avanço do conhecimento

    Essas colocações expressam duas compreensopostas sobre o avanço da ciência que subjazemopção metodológica. Concepções estas que forahistoricamente construídas e acabam por legitimas técnicas especícas adotadas. Porém, em nenhma delas seria possível a combinação de métodO pragmatismo seria a outra perspectiva da losa da ciência que cobriria tal lacuna.

    Iniciado no nal do século XIX por lósofonorte-americanos, o pragmatismo rejeita a posiçtradicional sobre a natureza do conhecimento e natureza da investigação. Essa abordagem desanoção de que a ciência social seja capaz de acess“mundo real” somente através de um método cientíco único. Há uma interação relevante entre o dsenvolvimento da própria cultura e a evolução dcientistas, e dos conhecimentos gerados por eles.teorias forçariam a crença em um universo dinâmie não estático, sem terminar, em termos absolutoem caos ou ordem. Em uma denição abrangentFelizer arma:

    [...] [d]iretamente, pragmatismo é um comprometimento com a incerteza, o reconhe-cimento que qualquer conhecimento “pro-

    duzido” através da pesquisa é relativo e nãabsoluto, que mesmo havendo relações causais, estas são transitórias e difíceis de idencar. Este comprometimento com a incertezé diferente do ceticismo losóco, que armque não podemossaber nada, mas apenas umaapreciação que relações, estruturas e eventque seguem padrões estáveis são abertos a aterações e mudanças que dependem de ocorrências e de eventos precários e imprevisíve

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    DESAFIOS ONTOLÓGICOS E EPISTEMOLÓGICOS PARA OS MÉTODOS...123

    [...] Recentemente, o pragmatismo abandonaa divisão quantitativo/qualitativo e conclui aguerra de paradigmas sugerindo que a ques-tão mais importante é se a pesquisa contribuiupara encontrar aquilo que o pesquisador quer

    saber. [...] Pragmáticos não “se importam” comqual método utilizam desde que os métodosescolhidos tenham potencial para responder oque desejam saber (2010, pp. 13-14, traduçãonossa).

    Dessa forma, o pesquisador associado ao prag-matismo resolve seu problema de interesse, semcompromissos losócos que o impeçam de avan-çar em uma direção especíca. O que o guia é apossibilidade que determinado método, ou conjun-to de métodos, tem de solucionar uma questão. Osmétodos mistos estariam, assim, legitimados.

    Entretanto, a armação “atingir o que o pesqui-sador deseja saber” é problemática, pois o conheci-mento cientíco é encarado, desse ponto de vista,em termos instrumentais. Levada ao extremo, estaperspectiva se vale do resultado obtido pela aplicaçãode diferentes métodos para a resolução de um pro-blema de pesquisa. Esvazia-se, então, a importânciada construção coletiva realizada pelo próprio cam-po do conhecimento, ganhando relevância apenaso papel do indivíduo e sua intenção. A partir daí,o método escolhido é tão somente um instrumentopara a resposta desejada. Não obstante as questõeseminentemente losócas que surgem a partir doconfronto dessas correntes,11 os métodos utilizadosem si se tornam úteis somente pelo resultado. Chat-terjee (2011, p. 23) chama atenção para a diculda-de de se construir conhecimentos válidos com baseapenas nesta concepção instrumental. Como crité-rio para a avaliação do conhecimento gerado, seria

    preciso identicar as relações causais subjacentes àtécnica. A observação de uma simples correlação sóatenderia aos critérios pragmáticos, o que tem im-plicações importantes na discussão sobre causalidadena ciência política. Por exemplo, se a noção causaladotada é a de regularidade, um estudo de caso nãopermitiria que houvesse avanços signicativos, jáque não há meios de se extrapolar uma observaçãosingular a padrões regulares de repetição do fenôme-no de interesse. Também haveria custo signicativo

    no convencimento dos demais pesquisadores sobo conhecimento que aquela combinação particulde técnicas permite alcançar. Oriunda de tradiçõlosócas distintas, a comunidade cientíca encotra diculdade em aceitar a produção gerada des

    forma. Ademais, o pragmatismo que justica os mtodos mistos teria de mostrar que é possível constrconhecimento cientíco, ainda que seja provisórique permita superar a desconança sobre sua extesão em relação à “verdade”. Apesar da argumenção pragmática de que a combinação de métodocumpre seus objetivos desde que possibilitem umexplicação dos fenômenos de interesse, a armaçde que a escolha dos métodos é independente dcompreensão sobre a capacidade de se acumular cnhecimento é bastante controversa (MastenbroekDoorenspleet, 2007; Chatterjee, 2011).

    Como a prática não acompanha necessariamente as discussões que envolvem a losóca ciência em termos estritos, a superação desse deso não é condição fundamental para a utilizaçãdos métodos mistos. Por esta razão, é válido avala dimensão da combinação de métodos em si empregada efetivamente nas pesquisas empíricas.

    A mensuração que concretiza a operacionalzação das variáveis, ato fundamental da pesqucientíca empírica, é um problema a ser superadÉ necessário que se discuta a aplicação dos métodmistos, pois o ato de mensurar envolve tanto aspetos qualitativos, como quantitativos. A metodologquantitativa trabalha fundamentalmente em umperspectiva nomotética da explicação científicNesse sentido, as denições dos conceitos a seremensurados são estabelecidasa priori e há forte pre-ocupação do pesquisador em mantê-los estáveis eseu sentido, condição fundamental para que a ciêcia avance nesse terreno. Já nas pesquisas qualit

    vas, de fundamentação idiográca, os conceitos sconstruí dos ao longo da própria pesquisa. Ao tratde casos particulares sem buscar generalizaçõesmensuração é dicultada e tem grau de comparabidade menor. Ademais, dada a construção epistemlógica desse tipo de pesquisa, a avaliação qualitatnão será conduzida de maneira uniforme, dependedo de cada conjunto de técnicas. O desao é concliar essas diferentes dimensões. Apesar de trabalcomo o de Hanzel (2010) argumentarem pela ine

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    xistência da divisão qualitativa/quantitativa com res-peito à mensuração, ainda permanece a diculdadeem se mensurar conceitos que são alterados ou cons-truídos ao longo do trabalho. A pesquisa qualitativaserá ampliada quando combinada a métodos quanti-

    tativos utilizados previamente às técnicas qualitativasmais próximas ao construtivismo.Outro obstáculo à prática dos métodos mistos

    decorre do fato de que a literatura que justica suaadoção deixa de lado a pluralidade da pesquisa qua-litativa. Apesar de já observada em outros trabalhos(Tilly, 2001; Brady, 2008), essa divergência em rela-ção à metodologia qualitativa merece atenção, poiscada técnica se assenta em visões epistemológicas eontológicas distintas. Assim, conjugar tais métodoscom a análise quantitativa também enfrenta desa-os distintos. Por exemplo, Kimball e Koivu (2011)identicaram quatro tipos de pesquisa qualitativa. Oprimeiro grupo, em que se enquadra a proposição deKKV, chamado de Emulador Quantitativo, dene--se pela preeminência de critérios dentro de padrõespara a inferência causal, baseada na falseabilidade ena generalização. A causa se assentaria na probabi-lidade e na análise contrafactual. Sua proximidadecom o posicionamento losóco do método quan-titativo, cujo cenário ideal seria o lugar de realizaçãoda análise estatística, seria bastante acentuada. Auto-res que seguem essa linha não aceitam trabalhos comN=1. Não há, contudo, divergências signicativascom as práticas quantitativas em relação à mensura-ção e à utilização de conceitos. Esse grupo propõe acomplementaridade entre análise qualitativa e quan-titativa, notadamente quanto ao tipo de aborda-gem – inclusive, a linguagem utilizada, como o usode “variável dependente”, é bastante semelhante –,tendo como principal objetivo a predição e comoorientação, a variável. Os desaos de implementação

    dos métodos para este grupo são bastante reduzidos,mas ocorre principalmente no campo das relaçõescausais: os métodos mistos aceitam uma perspectivaneo-humeana, distinta da causalidade contrafactual, característica desse segmento.

    O segundo grupo recebe o nome de Estudosde Caso e tem como exemplo o livroThe rise of “therest” , de Alice Amsden. Aqui, as pesquisas buscamidenticar causas através de sequências temporais emecanismos de process tracing e por meio de com-

    parações com outros casos. O método permite pouca variação na variável dependente e descreve a mneira pela qual ocorrem resultados distintos. Hsegundo Kimball e Koivu (2011, p. 20), um grande interesse na formação de conceitos, mas pou

    atenção à mensuração. As pesquisas nesse segmealmejam a precisão, a clareza e o escopo, tendedo, pois, a trabalhar com conceitos amplos e mutidimensionais. Apesar de os estudos de caso serdefendidos para a aplicação dos métodos misto(Lieberman, 2005), é preciso ter em mente obstáculos signicativos a serem enfrentados. Por serúnicos, os estudos de caso não permitem generazação. Podem ser utilizados para testes denitivde teorias ou para avaliar a adequação das teorià realidade, mas a possibilidade de generalização partir da avaliação de uma única observação é batante reduzida. Nesse sentido, a descrição profunde um fenômeno se aproxima das diculdades qua indução traz à prática cientíca. Ademais, a ava-liação de um caso pela variável dependente é uposicionamento contrário à pesquisa quantitativque busca a importância relativa das variáveis eplicativas ao fenômeno de interesse. Há para ismúltiplas causas, cujos efeitos líquidos poderiaser avaliados estatisticamente. Quanto à compreesão epistemológica, cada situação impõe uma dcussão diferente: na adoção da perspectiva qualitiva, a avaliação de um único caso permite que obtenham informações relevantes acerca do fenmeno de interesse; para a pesquisa quantitativa, tprocedimento é inviável. Além disso, existem ainquestões que envolvem perspectivas sobre causadade, já que estudos de caso trabalham com umideia bastante distinta da análise quantitativa, qupressupõe regularidade causal. Esta seria observapenas em um número elevado de casos.

    O terceiro grupo é denominado Pesquisa comTécnica Booleana: as pesquisas trabalham comnoção de equinalidade, ou seja, diferentes causlevariam ao mesmo resultado. Segundo KimballKoivu (2011), trata-se de pesquisas com previsõmoderadas, que enfatizam a explicação históricaa generalização nomológica. Porém, nem semprepossível atingir o objetivo, isto é, um maior grau previsibilidade, “dada a natureza reexiva dos obtos sociais e sua habilidade de agir estrategicam

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    DESAFIOS ONTOLÓGICOS E EPISTEMOLÓGICOS PARA OS MÉTODOS...125

    te para mudar seu ambiente social” (Idem, p. 22).Esse grupo baseia-se na tradição da explicação, ouseja, no “efeito das causas”, contemplando aí a aná-lise fuzzy set . O trabalho de Skocpol (1979) sobrerevoluções pode ser entendido como um exemplo

    dessa abordagem. A possibilidade teórica de que osindivíduos têm a capacidade de alterar o ambien-te social, comum às pesquisas qualitativas, cria umdesao signicativo na adoção combinada de mé-todos. Apesar dessa avaliação sobre a mutabilidadedo ambiente social já ser discutida desde J. S. Mill,a pesquisa quantitativa adota uma posição de con-tinuidade nas relações observadas. Diz-se com issoque as forças sociais que causam determinados fe-nômenos são relativamente estáveis e permitem quese realizem trabalhos em que a questão temporalassume papel bastante reduzido. A estabilidade ob-servada entre causa e efeito é negada por esse tipode análise, assim como não é possível consideraraqui a capacidade dos indivíduos de alterar o am-biente social. O método quantitativo pressupõe re-lações causais estáveis, imutáveis, no sentido de quehá limites para a efetivação das alterações por partedos indivíduos. Portanto, para efetuar a combina-ção entre os métodos nessa perspectiva da análisequalitativa é necessário superar tal obstáculo.

    Por m, no quarto grupo – InterpretativistaEmpírico –, ontologicamente, a realidade social écriada por interações compartilhadas e, epistemo-logicamente, adquire-se conhecimento com basena compreensão e na interpretação dos indivíduos.Essa abordagem leva em consideração em sua análi-se a linguagem, o sistema de símbolos e a percepçãoindividual. Trabalhos de etnograa são os exemplosmais característicos deste segmento. A diculdadede combinação dos métodos em uma perspectivaquantitativa é a mais acentuada. A subjetividade da

    realidade social se distingue do posicionamento as-sumido pelos métodos quantitativos. Além do argu-mento de que a prática quantitativa utiliza conceitosdenidosa priori , que não se modicam ao longoda pesquisa, a interpretação de que conhecimento ésubjetivo, condicional aos sujeitos, é diametralmenteoposta à compreensão da metodologia quantitati-va. Nesta está implícito que a realidade é imutávele vericável, mas como de fato a realidade é uida,o conhecimento gerado é empático, distanciando-se

    decisivamente da abordagem quantitativa. Além dso, essas diferenças dicultam a mensuração objetpor causa da incomparabilidade entre os conceitutilizados em cada abordagem. Da mesma maneia compreensão dos sujeitos sobre os conceitos co

    os quais se pretende trabalhar torna a tarefa da mesuração trabalhosa e por vezes inviável.

    Considerações nais

    Os argumentos trazidos aqui indicam que nãose pode enxergar a utilização de métodos mistos maneira simplista. O debate sobre a possibilidade transposição dos dilemas e das controvérsiapartir da utilização de perspectivas plurais ainnão conseguiu apoio de todos os cientistas políticos. Isso é evidenciado pela contínua elabração de trabalhos que ainda enfocam as divegências entre pesquisas qualitativa e quantitativ Ademais, deve-se ressaltar que os desaos sãoduas ordens: uma se dá diante da superação dadesconanças que o pragmatismo enfrenta comuma abordagem losóca distinta; a outra é prática, ou seja, a combinação de diferentes práticimplica na combinação de distintas relações lsócas. Tais desaos evidenciam os obstáculoserem superados para que os métodos mistos consolidem como uma abordagem aceita. Apesdas diculdades, há trabalhos, como o de Greene (2008), que são otimistas quanto à consolidação de uma metodologia plural. Ela se apoibasicamente, na própria pluralidade da origemdesta prática, que seria capaz de criar consensmetodológicos.

    Há ainda desdobramentos importantes nãotratados aqui que também merecem atenção

    Vale apontar dois deles. O primeiro tem a vecom as formas de explicação causal, que precsam ser mais bem avaliadas. As concepções eptemológicas distintas das pesquisas qualitativaquantitativas variam entre conceitos causais grais, singulares, probabilísticos ou reducionistaO segundo, apontado por Gates (2008), é sobreo papel anterior das teorias em relação aos métdos. Em vários aspectos, a prática mista é justficada mais por seus resultados e por sua utilid

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    de do que pela observância de relações teóricaspreviamente estabelecidas. A extensão em que acombinação de métodos permite que se avan-ce na seleção de teorias é um ponto que requerdiscussão mais aprofundada. Este conjunto de

    tópicos indica que ainda há um caminho impor-tante a ser percorrido dentro da ciência políticapara que a prática de métodos mistos cumpraseus objetivos.

    Notas

    1 Cabe dizer que neste trabalho em relação aos métodosquantitativos ressaltam-se apenas as pesquisas de aná-lise estatística. Esta simplicação ocorre em razão do

    amplo uso dessa abordagem nas pesquisas empíricase principalmente na combinação com outras técnicasqualitativas.

    2 Para uma visão mais detalhada sobre a trajetória dosmétodos mais amplamente utilizados na ciência polí-tica, em particular, e nas ciências sociais, em geral, verPotetee, Janssen e Ostrom (2010, cap. 1).

    3 Em 1975, como exemplo das mudanças que aconte-ceriam nos anos seguintes, Fiorina coloca que “[e]manos recentes, as revistas têm publicado um númerocrescente de artigos que apresentam ou utilizam mo-delos formais do comportamento e de processo políti-cos. Até o momento, entretanto, estas pesquisas pro-vavelmente alcançam apenas uma pequena audiência”(1975, p. 133).

    4 Este texto obteve repercussão bastante ampla pela li-teratura, o que gerou duas siglas referenciais: DSI, aotítulo do trabalho, e KKV, em razão de seus autores.

    5 Para averiguação da importância desta obra, ver, porexemplo, Brady e Collier (2010), Mahoney (2010) eRagin (2000).

    6 O autor ainda apresenta critérios que devem ser pre-enchidos para se optar pelos métodos mistos em umapesquisa. Ver, a respeito, Creswell (2009, cap. 6).

    7 Apesar de didática, a estrutura apresentada não éexaustiva. Lieberman (2005) apresenta um modelobastante referenciado com a pretensão de permitira inferência causal a partir da junção daquilo que oautor chama de Análise de N-Grande (LNA) coma Análise de N-Pequeno (SNA). Ao unir essas duasperspectivas, Lieberman propõe um esquema de pas-sos a serem adotados pelo pesquisador que não se en-quadram nas estratégias apresentadas por Creswell,

    pois se alternam as pesquisas quantitativas e qualitavas a depender dos resultados encontrados.

    8 Nesta seção, os termos analíticos ontologia e epistemlogia são usados com certa exibilidade em razão da tenção de reetir as suas consequências na pesquisa e

    pírica. Agradeço a Raissa W. Ventura pela observaçã9 Mantida a divisão anterior, a abordagem positivisadotaria métodos similares das ciências naturais, equanto a pós-positivista, ao considerar os contextoapenas se aproximaria desse tipo de técnica. Já a iterpretativista, tendo foco no signicado dos contextos, buscaria sua compreensão. Por m, a humanisdirecionaria seus esforços à compreensão dos valordos signicados e dos propósitos com base na interção empática entre pesquisador e sujeitos pesquisadEnquanto as técnicas estiverem vinculadas ao aparametodológico, não haveria vínculo exclusivo de umtécnica a uma única abordagem. Ver, a respeito, Moses e Knutsen (2012).

    10 Para uma referência losóca sobre pragmatismo, Baert (2005). Para uma discussão sobre a vinculaçentre o pragmatismo e os métodos mistos, ver Feliz(2010) e Maxcy (2003)

    11 Para uma discussão sobre o embate entre o pragmatmo e demais correntes losócas, ver Maxcy (2003

    12 Ver, a respeito, Brady (2008).13 Aliás, isso também ocorre em relação à pesquisa qua

    tativa. Trabalhos estatísticos e matemáticos aplicadosciências sociais não têm o mesmo peso epistemológicontológico, mas a discussão sobre a pluralidade do mtodo quantitativo não faz parte do escopo deste trabalh

    14 Ver, a respeito, Brady (2008, p. 219)15 Uma referência sobre o tema é Gerring (2004).16 Para uma avaliação sobre a crítica da indução com

    método cientíco adequado, ver Chalmers (2011).17 Com a inuência do paradigma econômico sobre

    ciência política, esta interpretação sobre a estabilidainstitucional se acentua dramaticamente.

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    RESUMOS / ABSTRACTS / RESUMÉS

    DÉFIS ONTOLOGIQUESET EPISTÉMOLOGIQUES POURLES MÉTHODES MIXTES ENSCIENCE POLITIQUE

    Glauco Peres da Silva

    Mots clés: Méthodes mixtes; Dés; Prag-matisme; Pluralité.

    L’objectif de ce texte est de discuterl’extension des dés ontologiques et épis-témologiques relatifs à l’utilisation deméthodes mixtes en science politique.Il existe également d’importantes diver-gences philosophiques et empiriques ence qui concerne les méthodes utilisées,et celles-ci méritent notre attention.D’un côté, les dés philosophiques appa-raissent avec la diffusion de l’approchepragmatique et, d’un autre, les questionsempiriques naissent de la pluralité tech-nique propre des méthodes qualitatives.Nous défendons que cette double dimen-sion éloigne les méthodes mixtes des butsqu’elles désirent atteindre.

    DESAFIOS ONTOLÓGICOS EEPISTEMOLÓGICOS PARA OSMÉTODOS MISTOS NA CIÊNCIAPOLÍTICA

    Glauco Peres da Silva

    Palavras-chave: Métodos Mistos; Desa-os; Pragmatismo; Pluralidade.

    O objetivo deste texto é discutir desaosontológicos e epistemológicos relativos àutilização dos métodos mistos na ciên-cia política. Existem ainda importantesdivergências losócas e empíricas comrelação às metodologias utilizadas quemerecem atenção. De um lado, os desa-os losócos originam-se com a difusãoda abordagem Pragmática e, de outro,as questões empíricas se originam com apluralidade técnica própria dos métodosqualitativos. Defende-se que esta dupladimensão distancia os métodos mistos deseus objetivos almejados.

    MIXED METHODS’ONTOLOGICAL ANDEPISTEMOLOGICAL CHALLENGESIN POLITICAL SCIENCE

    Glauco Peres da Silva

    Keywords: Mixed Methods; Challenges;Pragmatism; Plurality.

    The purpose of this paper is to discussthe extension of ontological and episte-mological challenges related to the ap-plication of mixed methods in politicalscience. There are important philosophi-cal and empirical disagreements regard-ing the methodologies involved. On oneside, philosophical challenges relate tothe acceptance of a Pragmatic approachand, on the other, empirical issues arisewith the technical plurality inherent toqualitative methods. It is argued that thisdouble dimension distances the mixedmethods of their intended goals.