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&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&& Mário de Andrade Peru de Natal Der Weihnatstruthahn Tempo da Camisolinha Kindheit im Kleiden

Mário de Andrade - sistemas.mre.gov.br · maria Freinberger, Florian Dunkel, Magdalena Schätz, Melanie Patrizia Strasser, Sanijel Jovanovic, ... receita tão gostosa. E cerveja

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Mário de Andrade

Peru de NatalDer Weihnachtstruthahn

Tempo da CamisolinhaKindheit im Kleidchen

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Dois contos em edição bilíngue português-alemão

Mário de Andrade

Zwei Erzählungen in einer zweisprachigen Ausgabe Portugiesisch-Deutsch

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Prefácio O presente volume bilíngue traz dois contos de

Mário de Andrade, “Tempo da Camisolinha” e “Peru

de Natal”, em versão alemã realizada pelos alunos

de mestrado em português do Centro de Estudos da

Tradução da Universidade de Viena, na Áustria. Este

pequeno prefácio apresenta o projeto de tradução em

si e as circunstâncias em torno dele, além de informa-

ções relevantes à leitura da tradução.

Este projeto teve lugar no âmbito da disciplina

“Tradução Literária”, destinada a estudantes da ênfase

em tradução literária do mestrado em tradução da

Universidade de Viena. A disciplina, coordenada

pela autora deste texto, contou com os seguintes

participantes: Armin Innerhofer (tradução); Eva-

maria Freinberger, Florian Dunkel, Magdalena

Schätz, Melanie Patrizia Strasser, Sanijel Jovanovic,

Martin Zuccato (tradução e revisão); e Vinicius

Macuch Silva (assessoria). O projeto contou ainda

com a participação de uma ex-aluna do programa,

Andrea Lauckner, que fez a revisão final dos textos.

À exceção de Vinicius Macuch Silva, que é brasileiro

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também em alemão os contos soam mais como tex-

tos orais do que escritos, incorporando expressões

coloquiais, desvios sintáticos e contrações típicas da

oralidade. As contrações incluem expressões do tipo

“ums”, “ins”, “aufs”, “ans”, “andres”, “unsre”, “was” (para

“etwas”) e “ess” (para “ich esse”). Também os jogos de

palavras foram recriados (“beängstigende Angst” e “in

der hoffnungslosen Hoffnung”), assim como os inúme-

ros desvios sintáticos: “Und genau das war es, was mich

hier gerettet hat, mein Ruf”, “und ich, der ich meinen

Vater immer nur mittelmäßig gern hatte (…)”, “Und ich,

ich war völlig entsetzt”, “Ich hingegen, ich konnte mich

so glücklich schätzen”, “Austeilen tu ich!”, “Die Kleidchen,

die würde sie noch mehr als ein Jahr lang aufbewahren”,

“Ich war es, der nicht ins Meer wollte, und wenn man mich

hineingeprügelt hätte!”, “und Vati, er würde sich nicht

darüber aufregen (…)”, “Meine Augen, es ist etwas Verstoh-

lenes in ihrem Blick”. Expressões orais, neologismos e

vocábulos não dicionarizados também foram salpi-

cados aqui e ali, tais como “Einladerei”, “na und?”, “ach”,

“ha!”, “hä?”, “nieniemals”, “Um Himmels willen!”, “na klar”.

Por outro lado, as traduções também contêm

um sem-número de expressões hoje arcaizantes e

e participou do projeto como leitor e assessor, todos os

estudantes têm o português como segunda ou terceira

língua. Vale lembrar ainda que, para a grande maioria

deles, essa foi a primeira aventura no universo da tra-

dução literária.

Tendo em conta o perfil do público-alvo, optou-

se por uma edição filológica, com notas explica-

tivas para aprofundar determinadas referências

linguísticas e culturais presentes nos textos, e por

uma estratégia de tradução predominantemente

estrangeirizante, que leva o leitor ao contexto e às

referências do escritor. Essa estratégia casa-se bem

com o uso de notas de rodapé, e permite, ainda, a

inserção de palavras em língua portuguesa na tradu-

ção. O leitor será constantemente lembrado de que os

textos não foram escritos em língua alemã, que seu

contexto não é de língua alemã e que o arcabouço

cultural pressuposto nos contos não corresponde ao

referencial de língua alemã.

Além de realçar elementos específicos da cultura

brasileira, a linguagem da tradução procura recriar

o elemento mais marcante do estilo de Mário de

Andrade, a saber: a heterogeneidade. De um lado,

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aO Peru de Natal

Mário de Andrade

rebuscadas que, sobretudo na língua alemã falada,

chamam certa atenção. Entre essas expressões estão

o uso do pretérito (“rannte”, “ahnte”, “sah”, “rief”), a

escolha dos vocábulos “Mutti” e “Vati” para “mamãe”

e “papai”, “Tantchen” para “titia”, “Eisschrank” para

“geladeira”, entre outros. O intuito primeiro foi que

o efeito final misturasse a sensação de um texto

moderno e despojado, de uma linguagem coloquial

que não remete a nenhum lugar em particular, de um

lado, com a sensação de um texto já um pouco antigo

e antiquado, do outro.

Em nome de todo o grupo, ficam aqui os agrade-

cimentos à Embaixada do Brasil em Viena, de quem

a ideia do projeto partiu e cujo apoio foi fundamen-

tal para a realização do projeto gráfico e da presente

impressão. Ficam também os agradecimentos à Uni-versidade de Viena pelo espaço, estrutura e recursos

colocados à nossa disposição.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Alice Leal

Viena, 04 de setembro de 2012.

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O nosso primeiro Natal de família, depois da

morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi

de consequências decisivas para a felicidade familiar.

Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse

sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta,

sem crimes, lar sem brigas internas nem graves difi-

culdades econômicas. Mas, devido principalmente

à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de

qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz,

acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele

aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicida-

des materiais, um vinho bom, uma estação de águas,

aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de

um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos

desmancha-prazeres.

Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando

chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava

que não podia mais pra afastar aquela memória

obstruente do morto, que parecia ter sistematizado

pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa

em cada almoço, em cada gesto mínimo da família.

Uma vez que eu sugerira à mamãe a ideia dela ir ver

uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas.

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apresentou e o meu ser exigia para se realizar com

integridade. E me deixaram fazer tudo, porque eu era

doido, coitado. Resultou disso uma existência sem

complexos, de que não posso me queixar um nada.

Era costume sempre, na família, a ceia de Natal.

Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas,

figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturra-

dos de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três

manos por causa dos quebra-nozes...), empanturrados

de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra

cama. Foi lembrando isso que arrebentei com uma das

minhas “loucuras”:

— Bom, no Natal, quero comer peru.

Houve um desses espantos que ninguém não ima-

gina. Logo minha tia solteirona e santa, que morava

conosco, advertiu que não podíamos convidar nin-

guém por causa do luto.

— Mas quem falou de convidar ninguém! essa

mania... Quando é que a gente já comeu peru em

nossa vida! Peru aqui em casa é prato de festa, vem

toda essa parentada do diabo...

— Meu filho, não fale assim...

— Pois falo, pronto!

Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava

sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre

gostara apenas regularmente de meu pai, mais por ins-

tinto de filho que por espontaneidade de amor, me via

a ponto de aborrecer o bom do morto.

Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim,

espontaneamente, a ideia de fazer uma das minhas

chamadas “loucuras”. Essa fora aliás, e desde muito

cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente

familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio,

em que arranjava regularmente uma reprovação

todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa

prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma

detestável de tia; e principalmente desde as lições

que dei ou recebi, não sei, duma criada de parentes:

eu consegui no reformatório do lar e na vasta paren-

tagem, a fama conciliatória de“louco”. “É doido, coi-

tado!” falavam. Meus pais falavam com certa tristeza

condescendente, o resto da parentagem buscando

exemplo para os filhos e provavelmente com aquele

prazer dos que se convencem de alguma superiori-

dade. Não tinham doidos entre os filhos. Pois foi o

que me salvou, essa fama. Fiz tudo o que a vida me

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Não, não se convidava ninguém, era um peru pra

nós, cinco pessoas. E havia de ser com duas farofas,

a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com

bastante manteiga. Queria o papo recheado só com

a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa

preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera

na casa da Rose, muito minha companheira. Está

claro que omiti onde aprendera a receita, mas todos

desconfiaram. E ficaram logo naquele ar de incenso

assoprado, se não seria tentação do Dianho aproveitar

receita tão gostosa. E cerveja bem gelada, eu garantia

quase gritando. É certo que com meus “gostos”, já

bastante afinados fora do lar, pensei primeiro num

vinho bom, completamente francês. Mas a ter-

nura por mamãe venceu o doido, mamãe adorava

cerveja.

Quando acabei meus projetos, notei bem, todos

estavam felicíssimos, num desejo danado de fazer

aquela loucura em que eu estourara. Bem que sabiam,

era loucura sim, mas todos se faziam imaginar que eu

sozinho é que estava desejando muito aquilo e havia

jeito fácil de empurrarem pra cima de mim a... culpa

de seus desejos enormes. Sorriam se entreolhando,

E descarreguei minha gelada indiferença pela

nossa parentagem infinita, diz-que vinda de bandei-

rantes, que bem me importa! Era mesmo o momento

pra desenvolver minha teoria de doido, coitado, não

perdi a ocasião. Me deu de sopetão uma ternura

imensa por mamãe e titia, minhas duas mães, três

com minha irmã, as três mães que sempre me divi-

nizaram a vida. Era sempre aquilo: vinha aniversário

de alguém e só então faziam peru naquela casa. Peru

era prato de festa: uma imundície de parentes já pre-

parados pela tradição, invadiam a casa por causa do

peru, das empadinhas e dos doces. Minhas três mães,

três dias antes já não sabiam da vida senão trabalhar,

trabalhar no preparo de doces e frios finíssimos

de bem feitos, a parentagem devorava tudo e inda

levava embrulhinhos pros que não tinham podido

vir. As minhas três mães mal podiam de exaustas. Do

peru, só no enterro dos ossos, no dia seguinte, é que

mamãe com titia inda provavam um naco de perna,

vago, escuro, perdido no arroz alvo. E isso mesmo era

mamãe quem servia, catava tudo pro velho e pros

filhos. Na verdade ninguém sabia de fato o que era

peru em nossa casa, peru resto de festa.

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Aquele peru comido a sós, redescobria em cada um

o que a quotidianidade abafara por completo, amor,

paixão de mãe, paixão de filhos. Deus me perdoe mas

estou pensando em Jesus... Naquela casa de burgueses

bem modestos, estava se realizando um milagre digno

do Natal de um Deus. O peito do peru ficou inteira-

mente reduzido a fatias amplas.

— Eu que sirvo!

“É louco, mesmo” pois por que havia de servir,

se sempre mamãe servira naquela casa! Entre risos,

os grandes pratos cheios foram passados pra mim e

principiei uma distribuição heroica, enquanto man-

dava meu mano servir a cerveja. Tomei conta logo

dum pedaço admirável da “casca”, cheio de gordura

e pus no prato. E depois vastas fatias brancas. A voz

severizada de mamãe cortou o espaço angustiado

com que todos aspiravam pela sua parte no peru:

— Se lembre de seus manos, Juca!

Quando que ela havia de imaginar, a pobre! que

aquele era o prato dela, da Mãe, da minha amiga mal-

tratada, que sabia da Rose, que sabia meus crimes, a

que eu só lembrava de comunicar o que fazia sofrer!

O prato ficou sublime.

tímidos como pombas desgarradas, até que minha

irmã resolveu o consentimento geral:

— É louco mesmo!...

Comprou-se o peru, fez-se o peru, etc. E depois de

uma Missa do Galo bem mal rezada, se deu o nosso

mais maravilhoso Natal. Fora engraçado: assim que

me lembrara de que finalmente ia fazer mamãe comer

peru, não fizera outra coisa aqueles dias que pensar

nela, sentir ternura por ela, amar minha velhinha

adorada. E meus manos também, estavam no mesmo

ritmo violento de amor, todos dominados pela felici-

dade nova que o peru vinha imprimindo na família.

De modo que, ainda disfarçando as coisas, deixei muito

sossegado que mamãe cortasse todo o peito do peru.

Um momento aliás, ela parou, feito fatias um dos lados

do peito da ave, não resistindo àquelas leis de economia

que sempre a tinham entorpecido numa quase pobreza

sem razão.

— Não senhora, corte inteiro! Só eu como tudo isso!

Era mentira. O amor familiar estava por tal

forma incandescente em mim, que até era capaz de

comer pouco, só pra que os outros quatro comes-

sem demais. E o diapasão dos outros era o mesmo.

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E o peru, estava tão gostoso, mamãe por fim sabendo

que peru era manjar mesmo digno do Jesusinho

nascido.

Principiou uma luta baixa entre o peru e o vulto

de papai. Imaginei que gabar o peru era fortalecê-lo

na luta, e, está claro, eu tomara decididamente o par-

tido do peru. Mas os defuntos têm meios visguentos,

muito hipócritas de vencer: nem bem gabei o peru

que a imagem de papai cresceu vitoriosa, insuporta-

velmente obstruidora.

— Só falta seu pai...

Eu nem comia, nem podia mais gostar daquele

peru perfeito, tanto que me interessava aquela luta

entre os dois mortos. Cheguei a odiar papai. E nem

sei que inspiração genial, de repente me tornou hipó-

crita e político. Naquele instante que hoje me parece

decisivo da nossa família, tomei aparentemente o

partido de meu pai. Fingi, triste:

— É mesmo... Mas papai, que queria tanto bem a

gente, que morreu de tanto trabalhar pra nós, papai lá

no céu há de estar contente... (hesitei, mas resolvi não

mencionar mais o peru) contente de ver nós todos

reunidos em família.

— Mamãe, este é o da senhora! Não! não passe não!

Foi quando ela não pode mais com tanta como-

ção e principiou chorando. Minha tia também, logo

percebendo que o novo prato sublime seria o dela,

entrou no refrão das lágrimas. E minha irmã, que

jamais viu lágrima sem abrir a torneirinha também,

se esparramou no choro. Então principiei dizendo

muitos desaforos pra não chorar também, tinha

dezenove anos... Diabo de família besta que via peru

e chorava! coisas assim. Todos se esforçavam por sor-

rir, mas agora é que a alegria se tornara impossível. É

que o pranto evocara por associação a imagem inde-

sejável de meu pai morto. Meu pai, com sua figura

cinzenta, vinha pra sempre estragar nosso Natal,

fiquei danado.

Bom, principiou-se a comer em silêncio, lutuosos,

e o peru estava perfeito. A carne mansa, de um tecido

muito tênue boiava fagueira entre os sabores das faro-

fas e do presunto, de vez em quando ferida, inquie-

tada e redesejada, pela intervenção mais violenta da

ameixa preta e o estorvo petulante dos pedacinhos

de noz. Mas papai sentado ali, gigantesco, incom-

pleto, uma censura, uma chaga, uma incapacidade.

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Mamãe comeu tanto peru que um momento ima-

ginei, aquilo podia lhe fazer mal. Mas logo pensei: ah,

que faça! mesmo que ela morra, mas pelo menos que

uma vez na vida coma peru de verdade!

A tamanha falta de egoísmo me transportara o

nosso infinito amor... Depois vieram umas uvas leves

e uns doces, que lá na minha terra levam o nome de

“bem-casados”. Mas nem mesmo este nome perigoso

se associou à lembrança de meu pai, que o peru já

convertera em dignidade, em coisa certa, em culto

puro de contemplação.

Levantamos. Eram quase duas horas, todos ale-

gres, bambeados por duas garrafas de cerveja. Todos

iam deitar, dormir ou mexer na cama, pouco importa,

porque é bom uma insônia feliz. O diabo é que a Rose,

católica antes de ser Rose, prometera me esperar com

uma champanha. Pra poder sair, menti, falei que ia a

uma festa de amigo, beijei mamãe e pisquei pra ela,

modo de contar onde é que ia e fazê-la sofrer seu

bocado. As outras duas mulheres beijei sem piscar. E

agora, Rose!...

a

E todos principiaram muito calmos, falando de

papai. A imagem dele foi diminuindo, diminuindo

e virou uma estrelinha brilhante do céu. Agora todos

comiam o peru com sensualidade, porque papai fora

muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós, fora

um santo que “vocês, meus filhos, nunca poderão

pagar o que devem a seu pai”, um santo. Papai virara

santo, uma contemplação agradável, uma inestorvável

estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro

objeto de contemplação suave. O único morto ali era o

peru, dominador, completamente vitorioso.

Minha mãe, minha tia, nós, todos alagados de feli-

cidade. Ia escrever “felicidade gustativa”, mas não era

só isso não. Era uma felicidade maiúscula, um amor

de todos, um esquecimento de outros parentescos

distraidores do grande amor familiar. E foi, sei que

foi aquele primeiro peru comido no recesso da famí-

lia, o início de um amor novo, reacomodado, mais

completo, mais rico e inventivo, mais complacente

e cuidadoso de si. Nasceu de então uma felicidade

familiar pra nós que, não sou exclusivista, alguns a

terão assim grande, porém mais intensa que a nossa

me é impossível conceber.

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22 23& Tempo da Camisolinha

Mário de Andrade

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A feiura dos cabelos cortados me fez mal. Não

sei que noção prematura de sordidez dos nossos atos,

ou exatamente, da vida, me veio nessa experiência da

minha primeira infância. O que não pude esquecer,

e é minha recordação mais antiga, foi, dentre as brin-

cadeiras que faziam comigo para me desemburrar

da tristeza em que ficara por me terem cortado os

cabelos, alguém, não sei mais quem, uma voz mascu-

lina falando: “Você ficou um homem, assim!” Ora eu

tinha três anos, fui tomado de pavor. Veio um medo

lancinante de já ter ficado homem naquele tamanhi-

nho, um medo medonho, e recomecei a chorar.

Meus cabelos eram muitos bonitos, dum negro

quente, acastanhado nos reflexos. Caíam pelos meus

ombros com cachos gordos, com ritmos pesados de

molas de espiral. Me lembro de uma fotografia minha

desse tempo, que depois destruí por uma espécie de

polidez envergonhada... Era já agora bem homem

e aqueles cabelos adorados na infância, me parece-

ram de repente como um engano grave, destruí com

rapidez o retrato. Os traços não eram felizes, mas na

moldura da cabeleira havia sempre um olhar manso,

um rosto sem marcas, franco, promessa de alma sem

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dentro dela. E me achando. Comparava-a com meus

atos e tudo eram confirmações. Tenho certeza que

essa fotografia me fez imenso mal, porque me deu

muita preguiça de reagir. Me proclamava demasiada-

mente em mim e afogou meus possíveis anseios de

perfeição. Voltemos ao caso que é melhor.

Toda a gente apreciava os meus cabelos cacheados,

tão lentos! e eu me envaidecia deles, mais que isso, os

adorava por causa dos elogios. Foi por uma tarde, me

lembro bem, que meu pai suavemente murmurou

uma daquelas suas decisões irrevogáveis: “É preciso

cortar os cabelos desse menino.” Olhei de um lado,

de outro, procurando um apoio, um jeito de fugir

daquela ordem, muito aflito. Preferi o instinto e fixei

os olhos já lacrimosos em mamãe. Ela quis me olhar

compassiva, mas me lembro como se fosse hoje, não

aguentou meus últimos olhos de inocência perfeita,

baixou os dela, oscilando entre a piedade por mim e a

razão possível que estivesse no mando do chefe. Hoje,

imagino um egoísmo grande da parte dela, não rea-

gindo. As camisolinhas, ela as conservaria ainda por

mais de ano, até que se acabassem feitas trapos. Mas

ninguém percebeu a delicadeza da minha vaidade

maldade. De um ano depois do corte dos cabelos ou

pouco mais, guardo outro retrato tirado junto com

Totó, meu mano. Ele, quatro anos mais velho que eu,

vem garboso e completamente infantil numa bonita

roupa marinheira; eu, bem menor, inda conservo

uma camisolinha de veludo, muito besta, que minha

mãe por economia teimava utilizar até o fim.

Guardo esta fotografia porque se ela não me per-

doa do que tenho sido, aos menos me explica. Dou

a impressão de uma monstruosidade insubordinada.

Meu irmão, com seus oito anos é uma criança inte-

gral, olhar vazio de experiência, rosto rechonchudo

e lisinho, sem caráter fixo, sem malícia, a própria

imagem da infância. Eu, tão menor, tenho esse quê

repulsivo do anão, pareço velho. E o que é mais triste,

com uns sulcos vividos descendo das abas voluptuo-

sas do nariz e da boca larga, entreaberta num risinho

pérfido. Meus olhos não olham, espreitam. Fornecem

às claras, com uma facilidade teatral, todos os indí-

cios de uma segunda intenção.

Não sei por que não destruí em tempo também

essa fotografia, agora é tarde. Muitas vezes passei

minutos compridos me contemplando, me buscando

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questão de não rezar; e minha mãe, depois de várias

tentativas, olhou o lindo quadro de Nossa Senhora

do Carmo, com mais de século na família dela, gente

empobrecida mas diz que nobre, o olhou com olhos

de imploração. Mas eu estava com raiva da minha

madrinha do Carmo.

E o meu passado se acabou pela primeira vez. Só

ficavam como demonstrações desagradáveis dele, as

camisolinhas. Foi dentro delas, camisolas de fazen-

dinha barata (a gloriosa, de veludo, era só para as

grande ocasiões), foi dentro ainda das camisolinhas

que parti com os meus pra Santos, aproveitar as férias

do Totó sempre fraquinho, um junho.

Havia aliás outra razão mais tristonha pra essa

vilegiatura aparentemente festiva de férias. Me viera

uma irmãzinha aumentar a família e parece que o

parto fora desastroso, não sei direito... Sei que mamãe

ficara quase dois meses de cama, paralítica, e só prin-

cipiara mesmo a andar premida pelas obrigações da

casa e dos filhos. Mas andava mal, se encostando nos

móveis, se arrastando, com dores insuportáveis na

voz, sentindo puxões nos músculos das pernas e um

desânimo vasto. Menos tratava da casa que se iludia,

infantil. Deixassem que eu sentisse por mim, me

incutissem aos poucos a necessidade de cortar os

cabelos, nada: uma decisão à antiga, brutal, impie-

dosa, castigo sem culpa, primeiro convite às revoltas

intimas: “é preciso cortar os cabelos desse menino”.

Tudo o mais são memórias confusas ritmadas por

gritos horríveis, cabeça sacudida com violência, mãos

enérgicas me agarrando, palavras aflitas me man-

dando com raiva entre piedades infecundas, dificul-

dades irritadas do cabeleireiro que se esforçava em

ter paciência e me dava terror. E o pranto, afinal. E no

último e prolongado fim, o chorinho doloridíssimo,

convulsivo, cheio de visagens próximas atrozes, um

desespero desprendido de tudo, uma fixação emper-

rada em não querer aceitar o consumado.

Me davam presentes. Era razão pra mais choro.

Caçoavam de mim: choro. Beijos de mãe: choro.

Recusava os espelhos em que me diziam bonito.

Os cadáveres de meus cabelos guardados naquela

caixa de sapatos: choro. Choro e recusa. Um não

conformismo navalhante que de um momento pra

outro me virava homem-feito, cheio de desilusões,

de revolta, fácil para todas as ruindades. De noite fiz

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lembrança do sofrimento muito grande e próximo, e

ela sentia um prazer perdoável de representar naque-

las férias o papel largado da convalescente. A papai

então o passeio deixara bem menos pai, um ótimo

camarada com muita fome e condescendência. Eu é

que não tomava banho de mar nem que me batessem!

No primeiro dia, na roupinha de baeta calçuda, como

era a moda de então, fora com todos até a primeira

onda, mas não sei que pavor me tomou, dera tais gri-

tos, que nem mesmo o exemplo sempre invejado de

meu mano mais velho me fizera mais entrar naque-

las águas vivas. Me parecia morte certa, vingativa, um

castigo inexplicável do mar, que o céu de névoa de

inverno deixava cinzento e mau, enfarruscado, cheio

de ameaças impiedosas. E até hoje detesto banho de

mar... Odiei o mar, e tanto, que nem as caminhadas

na praia me agradavam, apesar da companhia agora

deliciosa e faladeira de papai. Os outros que fossem

passar, eu ficava no terreno maltratado da casa, algu-

mas árvores frias e um capim amarelo, nas minhas

conversas com as formigas e o meu sonho grande.

Ainda apreciava mais ir até à borda barrenta do canal,

onde os operários me protegiam de qualquer perigo.

consolada por cumprir a obrigação de tratar da casa.

Diante da iminência de algum desastre maior, papai

fizera um esforço espantoso para o seu ser que só

imaginava a existência no trabalho sem receio, todo

assombrado com os progressos financeiros que fazia

e a subida de classe. Resolvera aceitar o conselho do

médico, se dera férias também, e levara mamãe aos

receitados banhos de mar.

Isso foi, convém lembrar, ali pelos últimos anos do

século passado, e a praia do José Menino era quase

um deserto longe. Mesmo assim, a casa que papai

alugara não ficava na praia exatamente, mas numa

das ruas que a ela davam e onde uns operários traba-

lhavam diariamente no alimento de um dos canais

que carreavam o enxurro da cidade para o mar do

golfo. Aí vivemos perto de dois meses, casão imenso

e vazio, lar improvisado cheio de deficiência, a que

o desmazelo doentio de mamãe ainda melancolizava

mais, deixando pousar em tudo um ar de mau trato

e passagem.

É certo que os banhos logo lhe tinham feito

bem, lhe voltaram as cores, as forças, e os puxões

dos nervos desapareciam com rapidez. Mas ficara a

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Eu espiava pra minha madrinha do Carmo na parede,

e descia a camisolinha, mal convencido, com raiva

da santa linda, tão apreciada noutros tempos, sor-

rindo sempre e com aquelas mãos gordas e quentes.

E desgostoso ia brincar no barro do canal, botando

a culpa de tudo no quadro secular. Odiei minha

madrinha santa.

Pois um dia, não sei o que me deu de repente,

o desígnio explodiu, nem pensei: largo correndo

os meus brinquedos com o barro, barafusto porta

a dentro, vou primeiro espiar onde mamãe estava.

Não estava. Fora passear na praia matinal com papai

e Totó. Só a cozinheira no fogão perdida, conver-

sando com a ama da Mariazinha nova. Então podia!

Entrei na sala da frente, solene, com uma coragem

desenvolta, heroica, de quem perde tudo mas se

quer liberto. Olhei francamente, com ódio, a minha

madrinha santa, eu bem sabia, era santa, com os

doces olhos se rindo para mim. Levantei quanto pude

a camisola e empinando a barriguinha, mostrei tudo

pra ela. “Tó! que eu dizia, olhe! olhe bem! tó! olhe bas-

tante mesmo!” E empinava a barriguinha de quase

me quebrar pra trás.

Papai é que não gostava muito disso não, porque

tendo sido operário um dia e subido de classe por

esforço pessoal e Deus sabe lá que sacrifícios, con-

siderava operário má companhia pra filho de nego-

ciante mais ou menos. Porém mamãe intervinha

com o “deixa ele!” de agora, fatigado, de convales-

cente pela primeira vez na vida com vontades; e lá

estava eu dia inteiro, sujando a barra da camisolinha

na terra amontoada do canal, com os operários.

Vivia sujo. Muitas vezes agora até me faltavam,

por baixo da camisola, as calcinhas de encobrir as

coisas feias, e eu sentia um esporte de inverno em

levantar a camisola na frente pra o friozinho entrar.

Mamãe se incomodava muito com isso, mas não

havia calcinhas que chegassem, todas no varal enxu-

gando ao sol fraco. E foi por causa disso que entrei a

detestar minha madrinha, Nossa Senhora do Carmo.

Não vê que minha mãe levara pra Santos aquele qua-

dro antigo de que falei e de que ela não se separava

nunca, quando me via erguendo a camisola no gesto

indiscreto, me ameaçava com a minha encantadora

madrinha: — “Meu filho, não mostra isso, que feio!

repare: sua madrinha está te olhando na parede!”

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Ele olhou rápido os companheiros porque não

sabia explicar o que era boa sorte. Mas todos estavam

esperando e ele arrancou meio bravo:

— Isto é... não vê que a gente fica cheio de tudo...

dinheiro, saúde...

Pigarreou fatigado. E depois de me olhar com um

olho indiferentemente carinhoso, acrescentou mais

firme:

— Seque bem elas no sol que dá boa sorte.

Isso nem agradeci, fui numa chispada luminosa

pra casa esconder minhas estrelas-do-mar. Pus as três

ao sol, perto do muro lá no fundo do quintal onde

ninguém chegava, e entre feliz e inquieto fui brinca-

brincar no canal. Mas quem disse brincar! me dava

aquela vontade amante de ver minhas estrelas e vol-

tava numa chispada luminosa contemplar as minhas

tesoureiras de boa sorte. A felicidade era tamanha e

o desejo de contar minha glória, que até meu pai se

inquietou com o meu fastio no almoço. Mas eu não

queria contar. Era um segredo contra tudo e todos, a

arma certa da minha vingança, eu havia de machu-

car bastante Totó, e quando mamãe se incomodasse

com o meu sujo, não sei não... mas pelo menos ela

Mas não sucedeu nada, eu bem imaginava que

não sucedia nada... Minha madrinha do quadro

continuava olhando pra mim, se rindo, a boba, não

zangando comigo nada. E eu saí muito firme, quase

sem remorso, delirando num orgulho tão corajoso

no peito, que me arrisquei a chegar sozinho até a

esquina da praia larga. Estavam uns pescadores ali

mesmo na esquina, conversando, e me meti no meio

deles, sempre era uma proteção. E todos eles eram

casados, tinham filhos, não se amolavam proletaria-

mente com os filhos, mas proletariamente davam

muita importância pra o filhinho de “seu dotô” meu

pai, que nem era doutor, graças a Deus.

Ora se deu que um dos pescadores pegara três

lindas estrelas-do-mar e brincava com elas na mão,

expondo-as ao solzinho. E eu fiquei num delírio de

entusiasmo por causa das estrelas-do-mar. O pesca-

dor percebeu logo meus olhos de desejo, e sem paci-

ência pra ser bom devagar, com brutalidade, foi logo

me dando todas.

— Tome pra você, que ele disse, estrela-do-mar dá

boa sorte.

— O que é boa sorte, hein?

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Eram três, uma menorzinha e duas grandonas.

Uma das grandonas tinha as pernas um bocado tor-

tas para o meu gosto, mas assim mesmo era muito

mais bonita que a pequetitinha, que trazia um defeito

imenso numa das pernas, faltava a ponta. Essa decerto

não dava boa sorte não, as outras é que davam: e agora

eu havia de ser sempre feliz, não havia de crescer,

minha madrinha gostosa se rindo sempre, mamãe

completamente sarada me dando brinquedos, com

papai não se amolando por causa dos gastos. Não! a

estrela pequenina dava boa sorte também, nunca que

eu largasse de uma delas!

Foi então que aconteceu o caso desgraçado de que

jamais me esquecerei no seu menor detalhe. Cansei

de olhar minhas estrelas e fui brincar no canal. Era

já na hora do meio-dia, hora do almoço, da janta, do

não-sei-o-que dos operários, e eles estavam descan-

sando jogados na sombra das árvores. Apenas um

porém, um portuga magruço e bárbaro, de enorme

bigodões, que não me entrava nem jamais dera

importância pra mim, estava assentado num monte

de terra, afastado dos outros, ar de melancolia. Eu

brincava por ali tudo, mas a solidão do homem me

havia de dar um trupicão de até dizer “ai”, bem feito!

As minhas estrelas-do-mar estavam lá escondidas

junto do muro me dando boa sorte. Comer? pra

que comer? elas me davam tudo, me alimentavam,

me davam licença pra brincar no barro, e se Nossa

Senhora, minha madrinha, quisesse se vingar da-

quilo que eu fizera pra ela, as estrelas me salvavam,

davam nela, machucavam muito ela, isto é... muito eu

não queria não, só um bocadinho, que machucassem

um pouco, sem estragar a cara tão linda da pintura,

só pra minha madrinha saber que agora eu tinha a

boa sorte, estava protegido e nem precisava mais dela,

tó! ai que saudades das minhas estrelas-do-mar!...

Mas não podia desistir do almoço pra ir espiá-las,

Totó era capaz de me seguir e querer uma pra ele,

isso nunca!

— Esse menino não come nada, Maria Luísa!

— Não sei o que é isso hoje, Carlos! Meu filho,

coma ao menos a goiabada. . .

Que goiabada nem mané goiabada! eu estava era

pensando nas minhas estrelas, doido por enxergá-las.

E nem bem o almoço se acabou, até disfarcei bem, e

fui correndo ver as estrelas-do-mar.

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pessoa da minha menor estrelinha pequetitinha?...

Bem que podia dar a menor, era tão feia mesmo,

faltava uma das pontas, mas sempre era uma estreli-

nha-do-mar. Depois: o operário não era bem vestido

como papai, não carecia de uma boa sorte muito

grande não. Meus passos tontos já me conduziam

para o fundo do quintal fatalizadamente. Eu sen-

tia um sol de rachar completamente forte. Agora é

que as estrelinhas ficavam bem secas e davam uma

boa sorte danada, acabava duma vez a paralisia da

mulher do operário, os filhinhos teriam pão e Nossa

Senhora do Carmo, minha madrinha, nem se amo-

lava de enxergar o pintinho deles. Lá estavam as três

estrelinhas, brilhando no ar do sol, cheias de uma

boa sorte imensa. E eu tinha que me desligar de

uma delas, da menorzinha estragada, tão linda! jus-

tamente a que eu gostava mais, todas valiam igual,

porque a mulher do operário não tomava banhos

de mar? mas sempre, ah meu Deus que sofrimento!

eu bem não queria pensar mas pensava sem querer,

deslumbrado, mas a boa mesmo era a grandona

perfeita, que havia de dar mais boa sorte pra aquele

malvado de operário que viera, cachorro! dizer que

preocupava, quase me doía, e eu rabeava umas olha-

delas para a banda dele, desejoso de consolar. Fui

chegando com ar de quem não quer e perguntei o

que ele tinha. O operário primeiro deu de ombros,

português, bruto, bárbaro, longe de consentir na

carícia da minha pergunta infantil. Mas estava com

uns olhos tão tristes, o bigode caía tanto, desolado,

que insisti no meu carinho e perguntei mais outra

vez o que ele tinha. “Má sorte” ele resmungou, mais

a si mesmo que a mim.

Eu porém é que ficara aterrado. Minha Nossa

Senhora! aquele homem tinha má sorte! aquele

homem enorme com tantos filhinhos pequenos e

uma mulher paralítica na cama!... E no entanto eu

era feliz, feliz! e com três estrelinhas-do-mar pra me

darem sorte... É certo: eu pusera imediatamente as

três estrelas no diminutivo, porque se houvesse de

ceder alguma ao operário, já de antemão eu desva-

lorizava as três, todas as três, na esperança desespe-

rada de dar apenas a menor. Não havia diferença

mais, eram apenas três “estrelinhas”-do-mar. Fiquei

desesperado. Mas a lei se riscara iniludível no meu

espírito: e se eu desse boa sorte ao operário na

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— Pegue depressa! faz favor! depressa! dá boa sorte

mesmo!

Aí, que ele entendeu, pois não aguentava mais!

Me olhou, foi pegando na estrela, sorriu por trás dos

bigodões portugas, um sorriso desacostumado, não

falou nada felizmente que senão eu desatava a ber-

rar. A mão calosa quis se ajeitar em concha pra me

acarinhar, certo! ele nem media a extensão do meu

sacrifício! e a mão calosa apenas roçou por meus

cabelos cortados.

Eu corri. Eu corri pra chorar à larga, chorar na

cama, abafando os soluços no travesseiro sozinho.

Mas por dentro era impossível saber o que havia

em mim, era uma luz, uma Nossa Senhora, um

gosto maltratado, cheio de desilusões claríssimas,

em que eu sofria arrependido, vendo inutilizar-se

no infinito dos sofrimentos humanos a minha

estrela-do-mar.

&

estava com má sorte. Agora eu tinha que dar pra ele a

minha grande, a minha sublime estrelona-do-mar!...

Eu chorava. As lágrimas corriam francas listrando

a cara sujinha. O sofrimento era tanto que os meus

soluços nem me deixavam pensar bem. Fazia um

calor horrível, era preciso tirar as estrelas do sol,

senão elas secavam demais, se acabava a boa sorte

delas, o sol me batia no coco, eu estava tonto, operá-

rio, má sorte, a estrela, a paralítica, a minha sublime

estrelona-do-mar! Isso eu agarrei na estrela com

raiva, meu desejo era quebrar a perna dela também

pra que ficasse igualzinha à menor, mas as mãos

adorantes desmentiam meus desígnios, meus pés é

que resolveram correr daquele jeito, rapidíssimos,

pra acabar de uma vez com o martírio. Fui correndo,

fui morrendo, fui chorando, carregando com fúria e

carícia a minha maiorzona estrelinha-do-mar. Che-

guei pro operário, ele estava se erguendo, toquei nele

com aspereza, puxei duro a roupa dele:

— Tome! eu soluçava gritando, tome a minha...

tome a estrela-do-mar! dá... dá, sim, boa sorte!...

O operário olhou surpreso sem compreender.

Eu soluçava, era um suplício medonho.

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Principais Obras:

Poesia (1922) Pauliceia Desvairada

(1926) Losango Cáqui

(1927) Clã do Jabuti

(1930) Remate de Males

Prosa (1927) Amar, Verbo Intransitivo

(1928) Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter

(1934) Belazarte

(1947) Contos Novos

Ensaios e Críticas

(1925) A Escrava que não é Isaura

(1928) Ensaio sobre a Música Brasileira

(1942) O Movimento Modernista

Mário de Andrade(1893-1945)

Mário de Andrade nasceu em São Paulo, em 1893, e é con-

siderado um dos principais fundadores do Movimento

Modernista no Brasil, que culminou com a Semana de

Arte Moderna de 1922.

Além de poeta, contista e romancista, Andrade também é

conhecido por seu trabalho como crítico literário, musi-

cólogo, fotógrafo e historiador.

Andrade morreu em 1945 também em São Paulo, cidade

cuja Biblioteca Municipal leva seu nome.

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Zwei Erzählungen in einer zweisprachigen Ausgabe Portugiesisch-Deutsch

Mário de Andrade

Dois contos em edição bilíngue português-alemão

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und Korrektur); und Vinicius Macuch Silva (Bera-

tung). Darüber hinaus war Andrea Lauckner, eine

ehemalige Studierende, für die Letztkorrektur der

Übersetzungen verantwortlich. Für die Studierenden

ist Portugiesisch jeweils die erste oder zweite Fremd-

sprache, ausgenommen für den Brasilianer Vinicius

Macuch Silva, der als Lektor und Berater tätig war.

An dieser Stelle soll angemerkt werden, dass dies für

den Großteil der Studierenden das erste Abenteuer

in der Welt des Literaturübersetzens darstellte.

Angesichts des LeserInnenprofils entschieden

wir uns sowohl für eine philologische Ausgabe – d.h.

mit Erklärungen versehen, die dem besseren Ver-

ständnis bestimmter linguistischer und kultureller

Verweise dienen sollen – als auch für eine verfrem-

dende Übersetzungsstrategie, damit sich das Lese-

publikum mit dem Fremden auseinandersetzt. Zu

dieser Strategie passt die Verwendung von Fußnoten

und sie ermöglicht das Belassen von portugiesischen

Originalausdrücken in der Übersetzung. Während

des Lesens wird der/die Leser/in der Übersetzung

immer wieder daran erinnert, dass die Texte ur-

sprünglich nicht auf Deutsch verfasst wurden, dass

Vorwort(Übersetzt von Judith Grollnigg-Hajszan)

Der vorliegende zweisprachige Band enthält

zwei Erzählungen von Mário de Andrade: „Tempo

da Camisolinha“ („Kindheit im Kleidchen“) und

„Peru de Natal“ („Der Weihnachtstruthahn“), über-

setzt ins Deutsche von Studierenden des Master-

studiums Portugiesisch am Zentrum für Translati-

onswissenschaft der Universität Wien, Österreich.

Das Vorwort stellt das Übersetzungsprojekt und die

begleitenden Umstände vor und enthält wichtige In-

formationen für das Lesen der Übersetzung.

Das Projekt fand im Rahmen der Lehrveranstal-

tung „Literarisches Übersetzen“ statt, die sich primär

an Studierende des Masterstudiums Literaturüber-

setzen richtet. Die folgenden Studierenden nahmen

an der Lehrveranstaltung, deren Leiterin für diesen

Text verantwortlich zeichnet, teil: Armin Innerho-

fer (Übersetzung); Evamaria Freinberger, Florian

Dunkel, Magdalena Schätz, Melanie Patrizia Stras -

ser, Sanijel Jovanovic, Martin Zuccato (Übersetzung

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ein Jahr lang aufbewahren“, „Ich war es, der nicht ins

Meer wollte, und wenn man mich hinein geprügelt

hätte!“, „und Vati, er würde sich nicht darüber auf-

regen (…)“, „Meine Augen, es ist etwas Verstohlenes

in ihrem Blick“. Ausdrücke aus der gesprochenen

Sprache, Neologismen und Wörter, die in keinem

Wörterbuch vorkommen, wurden eingesetzt, so wie

etwa: „Einladerei“, „na und?“, „ach“, „ha!“, „hä?“, „nie-

niemals“, „Um Himmels willen!“, „na klar“.

Andererseits enthalten die Übersetzungen eben-

falls eine große Anzahl von heute veralteten Begrif-

fen und blumigen Ausdrücken, die, insbesondere im

gesprochenen Deutsch, für eine gewisse Aufmerk-

samkeit sorgen. Dazu gehört die Verwendung des

Präteritums in der gesprochenen Sprache („rannte“,

„ahnte“, „sah“, „rief“), die Wahl von Wörtern wie

„Mutti“ und „Vati“ für „mamãe“ und „papai“, „Tant-

chen“ für „titia“, „Eisschrank“ für „geladeira“, um nur

einige zu nennen. Die primäre Intention war, dass der

Text schlussendlich einen gemischten Eindruck her-

vorrufen solle – eine Mischung aus einem einerseits

modernen, prägnanten Text mit umgangssprachli-

chen Ausdrücken, der auf keinen bestimmten Ort

ihr Kontext nicht zur deutschen Sprache passt und

dass das kulturelle Referenzsystem der Erzählungen

nicht dem der deutschen Sprache entspricht.

Neben den Hinweisen auf spezifische Elemente

der brasilianischen Kultur beabsichtigt die Überset-

zung, das Hauptmerkmal des Stils von Mário de An-

drade wiederzugeben: die Heterogenität. Einerseits

klingen die Erzählungen auch auf Deutsch mehr

wie gesprochene als geschriebene Texte, da sie um-

gangssprachliche Ausdrücke ebenso beinhalten wie

syntaktische Abweichungen und für die gesprochene

Sprache typische Kontraktionen. Letztere sind zum

Beispiel Ausdrücke wie: „ums“, „ins“, „aufs“, „ans“,

„andres“, „unsre“, „was“ (anstatt „etwas“) und „ess“

(anstatt „ich esse“). Wortspiele wurden auch auf

Deutsch kreiert („beängstigende Angst“ und „in der

hoffnungslosen Hoffnung“), ebenso wie unzählige

syntaktische Irregularitäten: „Und genau das war es,

was mich hier gerettet hat, mein Ruf“, „und ich, der

ich meinen Vater immer nur mittelmäßig gern hatte

(…)“, „Und ich, ich war völlig entsetzt“, „Ich hingegen,

ich konnte mich so glücklich schätzen“, „Austeilen

tu ich!“, „Die Kleidchen, die würde sie noch mehr als

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i

Der

Weihnachtstruthahn

Mário de Andrade

rückschließen lässt, und andererseits aus einem Text,

der schon ein wenig alt und antiquiert wirkt.

An dieser Stelle möchte ich, im Namen der ge-

samten Gruppe, der brasilianischen Botschaft in Wien, die den Anstoß zu diesem Projekt gab und de-

ren Unterstützung bezüglich Grafik und Druck ent-

scheidend war, auf das Herzlichste danken. Überdies

möchten wir der Universität Wien, die Raum, Struk-

turen und Ressourcen zur Verfügung stellte, unseren

besten Dank aussprechen.

Viel Vergnügen beim Lesen!

Alice Leal

Wien, am 4. September 2012.

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Unser erstes Familienweihnachtsfest nach dem

Tod meines Vaters, der fünf Monate zuvor verstorben

war, hatte entscheidende Folgen für das Familien-

glück. Wir waren als Familie immer glücklich gewe-

sen, in einem sehr abstrakten Verständnis von Glück:

ehrliche Leute, gesetzestreu, ein Heim ohne familiäre

Streitereien oder gröbere finanzielle Schwierigkei-

ten. Allerdings hatte uns – hauptsächlich aufgrund

der grauen Erscheinung meines Vaters, der weit ent-

fernt von jeglicher Begeisterungsfähigkeit und gut

gebettet in seiner beispiellosen Mittelmäßigkeit war

– immer der Genuss am Leben gefehlt, die Freude an

materiellen Dingen, einem guten Wein, einem Auf-

enthalt im Kurbad, einem Eisschrank, solchen Sa-

chen. Mein Vater war auf eine falsche, beinah drama-

tische Weise gut, durch und durch ein Spielverderber.

Mein Vater starb, wir waren sehr traurig, usw.

Als Weihnachten näher rückte, konnte ich nicht

mehr, wollte sie nur noch wegschieben, diese verstö-

rende Erinnerung an den Toten, der jeder noch so

kleinen Geste in der ganzen Familie für immer die

Verpflichtung zum schmerzlichen Andenken einge-

trichtert zu haben schien. Einmal machte ich Mutti

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der Horde der Verwandtschaft den netten Ruf eines

Verrückten. „Er ist verrückt, der Arme!“, sagten sie.

Meine Eltern sprachen immer mit einer gewissen

herablassenden Traurigkeit, die restliche Verwandt-

schaft nahm mich als schlechtes Beispiel für ihre

Kinder, und dies wahrscheinlich mit dem Vergnügen

jener, die sich überlegen wähnen. Bei ihnen gab es

keine verrückten Kinder. Und genau das war es, was

mich hier gerettet hat, mein Ruf. Ich konnte all das

machen, was das Leben für mich bereithielt und was

mein Wesen brauchte, um sich vollständig entfalten

zu können. Und sie haben mich machen lassen, was

ich wollte, da ich ja verrückt war, ich Armer. Das Er-

gebnis war ein unbeschwertes Leben, ich kann mich

nicht im Geringsten beschweren.

Es war eine richtige Tradition, das Weihnachtsessen

in unserer Familie. Eher ein dürftiges Essen, wie man

sich vorstellen kann: ein Abendessen typisch mein

Vater, Paranüsse, Feigen und Rosinen nach der Christ-

mette. Vollgestopft mit Mandeln und Walnüssen (wie

oft hatten wir drei Kinder uns um den Nussknacker

gestritten …), vollgestopft mit Paranüssen und regel-

rechter Eintönigkeit, umarmten wir uns noch und

den Vorschlag, sich doch einen Film im Kino anzuse-

hen; was dabei rauskam, waren Tränen. Wo hat man

denn sowas schon gesehen, ins Kino gehen, in tiefer

Trauer! Wir täuschten den Schmerz nun sogar schon

nach außen hin vor, und ich, der ich meinen Vater

immer nur mittelmäßig gern hatte, eher aus natürli-

chem Instinkt als aus spontaner Zuneigung heraus,

war an dem Punkt angelangt, den guten Toten ärgern

zu wollen.

Bestimmt kam mir deshalb – diesmal sehr wohl

spontan – eine meiner sogenannten „Verrückthei-

ten“ in den Sinn. Diese waren übrigens, und das

schon von klein auf, zu einer glorreichen Errun-

genschaft in meinem Familienumfeld geworden.

Schon von klein auf, schon seit der Schulzeit, wo

ich es schaffte, jedes Jahr bei irgendeiner Prüfung

durchzufallen, seitdem mich Tante Velha, eine verab-

scheuenswerte Tante, dabei erwischt hatte, wie ich im

Alter von zehn Jahren eine Cousine heimlich küsste,

und vor allem seit damals, als ich einem Dienstmäd-

chen von Verwandten etwas beibrachte, oder sie mir,

ich weiß es nicht genau – ich erlangte nicht nur in

meinem internatartigen Zuhause, sondern auch in

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richtige Zeitpunkt, um meinem Ruf als armer Ver-

rückter gerecht zu werden, das ließ ich mir nicht

entgehen. Mit einem Schlag verspürte ich eine

unglaubliche Zärtlichkeit für Mutti und Tantchen,

meine beiden Mütter, drei mit meiner Schwester,

die drei Mütter, die mir seit jeher das Leben ver-

süßt hatten. Es war immer dasselbe: Irgendwer hatte

Geburtstag, und nur dann wurde in diesem Haus

Truthahn aufgetischt. Truthahn war eine Festtags-

speise: Der ganze dreckige Haufen von Verwandten

war schon aus Gewohnheit jederzeit dazu bereit,

das Haus für Truthahn, Empadinhas2 und Süßes

zu stürmen. Meine drei Mütter wussten schon drei

Tage vorher nichts andres zu tun als zu arbeiten, zu

arbeiten an den Vorbereitungen für die allerfeinsten,

liebevoll zubereiteten Süßspeisen und kalten Plat-

ten, die Sippe kam und verschlang alles und packte

noch etwas für die ein, die nicht hatten kommen

können. Meine drei Mütter konnten kaum noch vor

Erschöpfung. Erst bei der Beerdigung der Knochen

2 Empadinhas sind kleine Pastetchen oder Teigtaschen mit un-terschiedlicher herzhafter Füllung, die klassisch für die brasilia-nische Küche sind.

jeder ging ins Bett. All diese Erinnerungen trieben

mich zu einer meiner „Verrücktheiten“.

„Also ich will zu Weihnachten Truthahn essen.“

Es war einer dieser unvorstellbaren, schockieren-

den Momente. Sofort hat meine heilige Tante, die

alte Jungfer, die bei uns lebte, uns drauf aufmerksam

gemacht, dass wir noch in Trauer wären und nieman-

den einladen könnten.

„Aber wer hat denn was von Einladen gesagt? Im-

mer diese Einladerei! Wann haben wir denn jemals

in unserem Leben Truthahn gegessen? Truthahn ist

in diesem Haus ein Festessen, da kommt immer die

ganze verdammte Verwandtschaft...“

„Mein Sohn, sprich nicht so …“

„So rede ich nun mal, na und?“

Und ich ließ meiner kühlen Gleichgültigkeit ge-

genüber unsrer unendlichen Verwandtschaft freien

Lauf, die ja angeblich von den Bandeirantes1 abstam-

mte, was aber doch mir egal war! Es war genau der

1 Bandeirantes waren Expeditionstrupps, die ab dem 17. Jahrhundert das brasilianische Hinterland auf der Suche nach Reichtümern und Boden-schätzen erkundeten, sowie nach Indigenen zur Versklavung suchten. Ihnen haftete lange Zeit ein Helden- und Abenteurermythos an, was in der modernen Geschichtswissenschaft differenzierter gesehen wird.

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dieses Rezept kosteten. Und richtig kühles Bier, versi-

cherte ich fast schreiend. Dank meines Geschmacks,

den ich außerhalb meines Zuhauses geschärft hatte,

dachte ich zuerst natürlich an einen guten Wein,

einen französischen. Aber die Zuneigung zu Mutti

siegte über den Verrückten, sie liebte Bier.

Nachdem ich meine Pläne vorgetragen hatte, wa-

ren alle überglücklich, ich merkte es genau, und sie

wollten unbedingt genau diese Verrücktheit machen,

die gerade aus mir herausgeplatzt war. Sie wussten,

wie verrückt das alles war, aber sie redeten sich alle

ein, dass ich derjenige war, der das alles so sehr wollte,

und so war es ein Leichtes, sie auf mich abzuwälzen,

die … Schuld an ihrem brennenden Verlangen. Sie

warfen sich Blicke zu, lächelten, schüchtern wie

Tauben, die von ihrem Weg abgekommen waren, bis

meine Schwester für alle das Wort ergriff:

„Er ist wirklich verrückt!...“

Der Truthahn wurde gekauft, der Truthahn wurde

zubereitet, usw. Und nach der Christmette, bei der wir

alle nicht wirklich aufmerksam waren, feierten wir

unser schönstes Weihnachtsfest. Es war lustig: Sobald

ich daran dachte, dass ich Mutti dazu bringen würde,

am darauffolgenden Tag kosteten Mutti und Tant-

chen ein Stückchen von der Keule, ein Stück, an dem

nichts dran war, dunkel, kaum zwischen den Reis-

körnern auszumachen. Und auch da war es Mutti,

die austeilte und die alles für den alten Herrn und

die Kinder zusammenklaubte. In Wahrheit wusste

niemand in unsrem Haus, was Truthahn war, nur

Truthahnrest vom Fest.

Nein, niemand sollte eingeladen werden, nur für

uns fünf sollte es Truthahn geben. Und es sollte einer

mit zweierlei Arten von Farofa3 sein, einer fetten mit

Innereien und einer trockenen, goldgelben, mit viel

Butter. Ich wollte den Truthahn nur mit der fetten Fa-

rofafüllung haben, der wir Dörrpflaumen beifügen

müssten, Nüsse und ein Gläschen Sherry, so wie ich

es bei Rose gelernt hatte, meiner Freundin. Natürlich

verschwieg ich, von wem ich das Rezept hatte, aber

sie rochen die Lunte. Und sie verfielen in eine Stim-

mung, als ob plötzlich die Kerzen ausgegangen wä-

ren, als wäre es eine teuflische Versuchung, wenn sie

3 Farofa ist eine typische brasilianische Beilage aus geröstetem Maniokmehl, die zu verschiedensten Speisen gereicht wird.

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Moment denke ich an Jesus … In diesem bürgerli-

chen und dennoch bescheidenen Hause begab sich

ein Wunder, das des Geburtsfestes eines Gottes wür-

dig war. Die Truthahnbrust wurde zur Gänze in groß-

zügige Scheiben geschnitten.

„Austeilen tu ich!“

„Der ist wirklich verrückt“, denn wozu schon

sollte ich nun austeilen, wo doch in diesem Haus im-

mer Mutti ausgeteilt hatte. Es gab einige Lacher, die

großen, vollen Teller wurden mir zugereicht und ich

begann heldenhaft auszuteilen, während ich meinen

Bruder bat, das Bier einzuschenken. Ich nahm mich

sofort eines wunderbaren Stücks der Kruste an, mit

herrlich viel Fett, und legte es auf den Teller. Und

dann mächtige helle Scheiben. Da schnitt die strenge

Stimme von Mutti durch die angespannte Stimmung

im Raum, in der alle nur auf ihren Anteil am Trut-

hahn warteten:

„Denk an deine Geschwister, Juca!“

Wann würde sie draufkommen, die Arme!, dass

dieser Teller für sie war, für sie, die Mutter, für meine

schlecht behandelte Freundin, die über Rose Be-

scheid wusste, die meine Vergehen kannte und der

Truthahn zu essen, tat ich während dieser Tage nichts

anderes, als an sie zu denken, Zuneigung zu ihr zu ver-

spüren, mein liebes Mütterchen lieb zu haben. Und

auch meine Geschwister, sie spürten dieses überwäl-

tigende Gefühl von Liebe, dieses neue Glücksgefühl,

das der Truthahn in meine Familie gebracht hatte. Ich

ließ mir von alldem immer noch nichts anmerken

und ganz gelassen überließ ich es Mutti, das ganze

Bruststück zu schneiden. Dann jedoch, die Hälfte des

Bruststücks war schon in Scheiben geschnitten, hielt

sie inne, so als könnte sie sich den Gesetzen der Spar-

samkeit nicht widersetzen, die sie immer gelähmt hat-

ten, in dieser grundlos auferlegten Armut.

„Nein, Mutter, schneidet den ganzen Truthahn!

Diesen Teil ess ich ja allein!“

Das war gelogen. Die Liebe zu meiner Familie

breitete sich derart stark in mir aus, dass ich sogar

weniger gegessen hätte, nur damit die anderen vier

mehr bekommen würden Und auch die anderen

empfanden so. Diesen Truthahn nur unter uns zu es-

sen ließ jeden von uns in sich das wiederentdecken,

was der Alltag erstickte, Liebe, Mutterliebe, kindliche

Zuneigung. Gott möge mir vergeben, aber in diesem

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vorzüglich. Der Geschmack des zarten Fleisches mit

seinem feinen Gewebe trieb so sanft zwischen Farofa

und Schinken, nur hin und wieder wurde er von

den sich erbarmungslos in den Vordergrund schie-

benden Dörrpflaumen und den unverschämt auf-

dringlichen Walnüssen durchbrochen und durchei-

nandergebracht, sodass man sich sofort wieder nach

ihm sehnte. Aber Vater, wie er dort saß: übermächtig,

unvollständig, eine Zensur, eine Wunde, eine Ohn-

macht. Und der Truthahn, er schmeckte so hervor-

ragend, jetzt hatte auch Mutti begriffen, dass dieser

Leckerbissen des Fests der Geburt des Jesuskindleins

würdig war.

Es begann ein verhaltener Kampf zwischen dem

Truthahn und der Erscheinung des Vaters. Ich stellte

mir vor, dass es dem Truthahn einen Vorteil bringen

würde, wenn ich ihm schmeicheln würde – und es

ist ja klar, dass ich auf der Seite des Truthahns stand.

Doch die Toten kennen schlüpfrige und scheinhei-

lige Wege, um an den Sieg zu kommen: Kaum rühmte

ich den Truthahn, wuchs das Bild des Vaters siegreich

an – unerträglich, wie er alles vereinnahmte!

„Jetzt fehlt nur noch euer Vater.“

ich immerzu nur Sachen erzählte, die ihr Kummer

bereiteten. Der Teller wurde eine Augenweide.

„Mutter, dieser Teller ist doch für Euch! Nein,

nicht, nicht weitergeben!“

Das war der Moment, in dem sie es vor lauter Rüh-

rung nicht mehr aushielt und anfing zu weinen. Auch

meine Tante, die gleich erkannt hatte, dass der nächste

derartige Teller für sie sein würde, stimmte in den Trä-

nenrefrain ein. Und meine Schwester, die ja noch nie

Tränen sehen konnte, ohne gleich selbst den Tränen-

hahn aufzudrehen, gab sich auch dem Weinen hin.

Also fing ich an, viele Ungezogenheiten zu sagen, um

nicht selbst auch zu weinen, ich war neunzehn ... Was

für eine verdammte Familie, die einen Truthahn vor

sich hat und zu weinen beginnt! und solche Sachen.

Alle strengten sich an zu lächeln, aber jetzt war jede

Fröhlichkeit völlig unmöglich geworden. Denn all das

Geweine beschwor die unerwünschte Erinnerung an

meinen verblichenen Vater herauf. Mein Vater, in sei-

ner grauen Gestalt, kam, um unser Weihnachtsfest für

immer zu verderben. Ich war wutentbrannt.

Nun gut, wir begannen schweigend zu essen,

in unserer Trauer, und der Truthahn war einfach

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können, was ihr eurem Vater schuldet“, ein Heiliger.

Vati war zum Heiligen geworden, ein Bild süßer Be-

trachtung, ein unverrückbares Sternlein am Himmel.

Nun konnte er niemandem mehr etwas zuleide tun,

er war nicht mehr als ein bloßes Objekt stiller Kon-

templation. Der einzige Tote hier war nunmehr der

Truthahn, übermächtig und vollkommen siegreich.

Oh, wir schäumten über vor Glück, meine Mutter,

meine Tante, wir alle. Ein „lukullisches Glück“ hätte

ich beinahe geschrieben, aber nein: es war mehr als

das! Ein ganz besonderer Glückzustand, eine Liebe,

die uns alle mit einschloss – und die Verwandtschaft,

die uns immer davon abgelenkt hatte, war mit einem

Schlag vergessen. Und dieser erste Truthahn, und da

bin ich mir sicher, den wir im trauten Kreis aßen,

war der Anfang einer ganz neuen Liebe, einer wieder

aufkeimenden Liebe, vollkommener, kostbarer und

inspirierender, zuvorkommender und mehr auf sich

bedacht. Von da an – und das sage ich nicht, weil ich

mich für etwas Außergewöhnliches halte – von da an

lebten wir in vollkommenstem Familienglück zu-

sammen; ja, ich konnte mir beim besten Willen kein

größeres Glück als das unsrige ausmalen.

Ich brachte keinen Bissen mehr hinunter, so sehr

zog mich der Kampf zwischen den beiden Toten in

seinen Bann. Ich kam so weit, Vater zu hassen. Und

plötzlich – ich weiß auch nicht, welch genialer Ein-

gebung ich das zu verdanken hatte – wurde ich zum

Scheinheiligen, zum Politiker. In diesem Moment,

der mir heute als entscheidend für unsere Familie

erscheint, ergriff ich vermeintlich Partei für meinen

Vater. Und scheinbar traurig, sagte ich:

„Ja, das ist wahr. Aber Vati, der uns doch so lieb

gehabt hat, der gestorben ist, weil er so hart für uns

arbeiten hat müssen, Vati dort oben im Himmel

muss doch glücklich sein … (Hier zögerte ich, be-

schloss aber, den Truthahn nicht mehr zu erwähnen)

– glücklich darüber, uns alle hier als Familie vereint

zu sehen.“

Und wir alle begannen ganz ruhig, uns über Vater

zu unterhalten. Und sein Bild wurde immer kleiner

und kleiner, bis es nur noch ein leuchtendes Stern-

chen am Himmel war. Nun aßen wir alle ganz bedäch-

tig vom Truthahn, schließlich war Vati so ein Guter

gewesen, stets hatte er sich für uns aufgeopfert, er war

ein Heiliger, „Kinder, ihr werdet nie zurückzahlen

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aber was macht schon eine glückliche Schlaflosigkeit.

Doch ach, verdammt! Rose hatte mir ja versprochen,

mich mit einer Flasche Sekt zu erwarten, ausgerech-

net sie, die schon katholisch war, bevor sie überhaupt

auf der Welt war! Ich erfand eine Ausrede, um das

Haus verlassen zu können und gab vor, zu einem

Fest bei Freunden zu gehen. Ich verabschiedete mich

von Mutti mit einem Kuss und einem verschmitz-

ten Blinzeln, um ihr zu bedeuten, wohin ich gehen

würde, und um ihr ein wenig Kummer zu bereiten.

Die anderen beiden küsste ich, ohne zu zwinkern.

Und nun, fort und auf zu Rose!...

i

Mutti aß so viel Truthahn, dass ich regelrecht

fürchtete, es könnte ihr schaden. Doch dann dachte

ich mir: Ach, was macht das schon! Selbst wenn sie

sterben sollte, hätte sie zumindest einmal im Leben

einen wahrhaftigen Truthahn gegessen!

Durch das gänzliche Fehlen jeglichen Egoismus

war mir aufgegangen, wie sehr ich meine Familie ei-

gentlich liebte … Zum Nachtisch wurden Weintrau-

ben und jene Süßspeisen gereicht, die dort, wo ich

herkomme „bem-casados4“ genannt werden. Doch

nicht einmal diese verfängliche Bezeichnung ließ

Erinnerungen an meinen Vater aufkommen, denn

der Truthahn hatte das Andenken an das verstor-

bene Familienoberhaupt gewandelt und gleichsam

in Würde verklärt.

Wir erhoben uns. Es war fast zwei Uhr nachts, alle

schon fröhlich und etwas wackelig vom Bier. Wir alle

gingen zu Bett, die einen schliefen, die anderen nicht,

4 „Bem-casados“ (dt.: „glücklich verheiratet“) ist eine brasiliani-sche Süßspeise. Sie besteht aus zwei runden Keksen, die mit einer Karamellmasse („doce de leite“) aneinandergeklebt, sprich „ver-mählt“ werden. Traditionell werden die Bem-casados liebevoll verpackt an Hochzeitsgäste verschenkt. Sie symbolisieren Glück und ein süßes Eheleben.

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dKindheit

im Kleidchen

Mário de Andrade

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Beim Anblick der abgeschnittenen Haare wurde

mir übel. Ich weiß nicht, welche Vorahnung über

die Gemeinheit unseres Handelns, oder genauer,

unseres Lebens, mich bei dieser Erfahrung mei-

ner frühesten Kindheit beschlich. Was ich nicht

vergessen kann, und dies ist die früheste meiner

Erinnerungen, war jemand, ich weiß nicht mehr ge-

nau wer, eine männliche Stimme, die inmitten von

Scherzen, welche mich von der Traurigkeit über

die abgeschnittenen Haare ablenken sollten, zu mir

sagte: „Jetzt bist du ein Mann!“ Damals war ich erst

drei Jahre alt und vor Schreck erstarrt. Diese Angst,

bereits bei dieser zwergenhaften Größe ein richtiger

Mann zu sein, schnürte mir förmlich die Luft ab. Ich

verspürte eine beängstigende Angst und brach wie-

der in Tränen aus.

Ich hatte schöne Haare, rabenschwarze, die bräun -

lich schimmerten. Auf meine Schultern fielen die fül-

ligen Locken, in schweren, gleichmäßigen Spiralen.

Ich erinnere mich an ein Foto von damals, das ich

später aufgrund von so etwas wie Verlegenheit ver-

nichtete. Da war ich schon ein richtiger Mann und

die in der Kindheit so geliebten Haare schienen mir

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sichtbaren Falten um die Nase herum und um den

beim perfiden Lächeln halb offenen Mund. Meine

Augen, es ist etwas Verstohlenes in ihrem Blick. Ganz

offenkundig, mit theatralischer Leichtigkeit, liefern

sie sämtliche Hinweise auf hinterhältige Absichten.

Ich weiß nicht, warum ich nicht auch dieses Foto

rechtzeitig zerstört habe, nun ist es zu spät. Ich habe

mich oft unzählige Minuten lang angesehen und

mich darin gesucht. Und ich habe mich gefunden.

Ich habe das Foto mit meinen Handlungen vergli-

chen und diese waren allesamt Bestätigungen. Ich

bin mir sicher, dass mir dieses Foto großes Leid zu-

gefügt hat, weil es bei mir zu einer trägen Reaktion

führte. Es offenbarte mir zu vieles über mich und

unterdrückte die möglicherweise in mir vorhandene

Sehnsucht nach Vollkommenheit. Aber kommen wir

nun besser auf die eigentliche Geschichte zurück.

Jeder schätzte meine ach so weichen, lockigen

Haare und ich war deshalb wirklich eitel, mehr noch,

ich liebte sie für die Komplimente, die sie mir bescher-

ten. Eines Abends, ich erinner mich gut daran, sprach

mein Vater zart flüsternd eine seiner unumstößli-

chen Entscheidungen aus: „Dem Jungen müssen die

plötzlich wie ein furchtbarer Fehler und so zerstörte

ich das Bild umgehend. Die Gesichtszüge waren

keine glücklichen, doch von der Haarpracht einge-

rahmt war ein sanfter Blick, ein makelloses, aufrich-

tiges Gesicht voller Gutmütigkeit und Herzlichkeit.

Ich habe ein anderes Bild aufbewahrt, das etwa ein

Jahr nach dem Haareschneiden von meinem Bruder

Totó und mir gemacht wurde. Er, vier Jahre älter als

ich, erscheint anmutig und völlig kindlich in einem

schönen Matrosenanzug, und ich, um einiges jünger,

trage noch ein Kleidchen aus Samt, ein wirklich däm-

liches, das meine Mutter mich aufgrund ihrer Spar-

samkeit so lange es nur ging zu tragen drängte.

Ich bewahre dieses Foto auf; denn auch wenn es

nicht entschuldigt, was aus mir geworden ist, dient es

zumindest als Erklärung. Ich wirke wie ein aufsässi-

ges Ungeheuer. Mein Bruder mit seinen acht Jahren

ist ein anständiges, liebenswürdiges Kind, in dessen

Blick sich seine Unerfahrenheit widerspiegelt, mit

rundem, flachem Gesicht, ohne jegliche Boshaftig-

keit, kurz: das perfekte Abbild der Kindheit. Ich, um

einiges jünger, mit meinem abstoßenden zwergen-

haften Etwas wirke alt. Noch deprimierender sind die

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Der Rest sind wirre Erinnerungen, durchzogen

von schrecklichem Geschrei, dem verzweifelt hin-

und hergeworfenen Kopf, mich energisch packen-

den Händen und verzweifelten Worten zwischen

Wut und vergeblichem Erbarmen, dem gereizten Be-

mühen des Friseurs, der sich anstrengte, geduldig zu

bleiben und mich in Panik versetzte. Und schließlich

das Weinen. Und letzten Endes das nicht enden wol-

lende, schmerzerfüllte, leise Jammern, krampfend,

umgeben von grässlichen Gesichtern, eine von allem

losgelöste Verzweiflung, eine störrische Verbohrtheit,

mit der ich mich weigerte anzunehmen, was passiert

war.

Sie machten mir Geschenke. Ein Grund für noch

mehr Tränen. Sie verspotteten mich: Tränen. Küsse

von Mutti: Tränen. Ich wies die Spiegel zurück, mit

denen sie mir sagen wollten, dass ich hübsch sei. Die

Kadaver meiner Haare, die in dieser Schuhschachtel

aufbewahrt wurden: Tränen. Tränen und Ablehnung.

Eine messerscharfe Ablehnung, die mich von einer

Sekunde auf die andere zum ganzen Mann machte,

voller Ernüchterung und Auflehnung, empfänglich

für alle Gemeinheiten. Abends weigerte ich mich

Haare abgeschnitten werden.“Ich schaute zur einen

Seite, zur anderen, auf der Suche nach Beistand, ei-

ner Möglichkeit, diesem Befehl zu entfliehen, ganz

verzweifelt. Ich folgte meinem In–stinkt und fixierte

Mutti mit schon tränennassen Augen. Sie wollte

mich mitleidig ansehen, aber ich weiß noch, als ob’s

heute gewesen wäre, dass sie meinen letzten Blick

vollkommener Unschuld nicht ertrug und den ihren

senkte, hin- und hergerissen zwischen ihrem Erbar-

men mit mir und dem möglicherweise gerechtfertig-

ten Befehl des Oberhaupts. Heute finde ich das schon

sehr egoistisch von ihr, dass sie nicht reagiert hat. Die

Kleidchen, die würde sie noch mehr als ein Jahr lang

aufbewahren, bis sie nur noch Lumpen wären. Aber

niemand verstand meine zarte, kindliche Eitelkeit.

Wenn sie mir doch Zeit gelassen hätten, mich mit

dem Gedanken anzufreunden, mich nach und nach

davon überzeugt hätten, dass es notwendig sei, mir

die Haare zu schneiden – nichts da: eine altmodische,

brutale, erbarmungslose Entscheidung, eine Bestra-

fung ohne Vergehen, die erste Aufforderung zur in-

neren Auflehnung: „Dem Jungen müssen die Haare

abgeschnitten werden.“

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Grund für diesen dem Anschein nach erfreulichen

Sommerferienaufenthalt. Ich hatte ein Schwes-

terchen bekommen und die Geburt dürfte katas-

trophal gewesen sein, ich weiß es nicht genau …

Ich weiß, dass Mutti fast zwei Monate lang im Bett

geblieben war, wie gelähmt, und es nur deshalb

wieder verließ, weil ihre Pflichten im Haushalt und

den Kindern gegenüber sie dazu zwangen. Aber es

ging ihr nicht gut, sie stützte sich an den Möbeln

ab, schleppte sich dahin, mit einem unerträglichen

Schmerz in der Stimme und einem Ziehen in den

Beinen, unendlich niedergeschlagen. Sie küm-

merte sich weniger um den Haushalt, als sie sich

vormachte, doch darin, dass sie ihren häuslichen

Pflichten nachkam, fand sie Trost. Angesichts einer

möglicherweise bevorstehenden, noch größeren Ka-

tastrophe gab sich Vati einen Ruck – ausgerechnet er,

der nur für die Arbeit lebte und vom sozialen und

finanziellen Aufstieg überwältigt war: Er befolgte den

Rat des Arztes, nahm sich Urlaub und brachte Mutti

wie verordnet zum Baden ans Meer.

Man darf nicht vergessen, dass dies in den letzten

Jahren des vorigen Jahrhunderts passiert war, und

standhaft, zu beten; und meine Mutter sah nach

mehreren Versuchen das schöne Bild der Nossa

Senhora do Carmo5 an, das damals schon mehr als

hundert Jahre im Besitz ihrer Familie gewesen war,

verarmten Leuten, die sich für nobel hielten, sie sah

es mit flehenden Augen an. Aber ich war wütend auf

meine Schutzpatronin.

Und meine Vergangenheit fand zum ersten Mal

ein Ende. Das Einzige, was als unangenehmer Beweis

davon übrigblieb, waren die Kleidchen. Es war in die-

sen Kleidern aus billigem, grobem Stoff (das glorrei-

che aus Samt war nur für besondere Anlässe), es war

also immer noch in diesen Kleidchen, dass ich mit

meiner Familie nach Santos aufbrach, es war Juni,

um Totós Ferien zu genießen, der immer schwach

und kränkelnd war.

Es gab übrigens noch einen anderen, traurigeren

5 Unsere liebe Frau vom Berge Karmel, Bezeichnung für die Mutter Maria im karmelitischen Orden. Das Attribut Unsere Liebe Frau ist Bestandteil des Namens von Kongregationen, Gemeinschaften, Bruderschaften, kirchlichen Feiertagen, Pa–tronaten, Institutionen, Organisationen und Einrichtungen und Orden und Ehrenzeichen. Der Titel Unsere Liebe Frau wird sehr häufig als Kirchenpatrozinium verwendet. Dabei wird an den Titel meist der Ort oder das Land angefügt.

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viel weniger einen Vater, mehr einen tollen Kame-

raden mit großem Hunger und viel Nachgiebigkeit.

Ich war’s, der nicht ins Meer wollte, und wenn man

mich hineingeprügelt hätte! In meinem Badeanzug,

einer Art längeren Unterhose, wie man sie damals

trug, ging ich am ersten Tag mit den anderen bis zur

ersten Welle vor, aber ich weiß nicht, welche Angst

mich damals packte, ich stieß derartige Schreie aus,

dass es nicht einmal meinem älteren Bruder gelang,

mich in dieses bewegte Wasser zu bringen, mein

Bruder, zu dem ich immer voller Neid aufsah. Ich

sah darin den sicheren Tod, eine Rache, eine uner-

klärliche Strafe des Meeres, das der Nebelhimmel

des Winters grau und böse erscheinen ließ, es wirkte

düster und voll erbarmungsloser Drohungen. Noch

heute hasse ich es, im Meer zu baden … Ich hasste das

Meer so sehr, dass mir nicht einmal die Spaziergänge

am Strand Freude machten, trotz der wunderbaren

Gesellschaft meines nun so gesprächigen Vatis. Soll-

ten doch die anderen spazieren gehen, ich blieb auf

dem verwahrlosten Grundstück um unser Haus, ei-

nige kahle Bäume und gelbes Gras, sprach dabei mit

den Ameisen und träumte meinen großen Traum.

damals lag der Strand von José Menino6 mitten im

Nirgendwo. Trotzdem befand sich das Haus, das Vati

mietete, nicht direkt am Strand, sondern in einer der

Straßen, die dorthin führten und in denen Arbeiter

täglich im Kanal beschäftigt waren, der die Abwässer

der Stadt in das Meer des Golfs leiteten. Hier lebten

wir fast zwei Monate lang, in einem riesigen leeren

Haus, einem improvisierten Heim voller Mängel, das

durch die krankhafte Nachlässigkeit von Mutti noch

trostloser wirkte, auf allem lastete eine gewisse Unge-

mütlichkeit und Vergänglichkeit.

Natürlich tat ihr das Baden im Meer gut, ihr Ge-

sicht bekam wieder Farbe, ihre Kräfte kehrten zurück

und auch das Ziehen in den Nerven verschwand

schnell. Aber es blieb die Erinnerung an das große

Leid, das noch nicht lange zurücklag, und so machte

sich in ihr die verständliche Freude darüber breit,

während dieser Ferien rein die Rolle der Genesenden

zu spielen. Diese Ferien machten aus meinem Vati

6 José Menino ist ein breiter Sandstrand, der Mitten in Santos, São Paulo, liegt. Die Hauptstadt São Paulo ist ca. 80 Km davon entfernt und kann heute in etwa 1 Stunde mit dem Auto oder Bus erreicht werden.

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zu hassen begann. Klar, denn meine Mutter hatte das

uralte Bild, von dem ich schon gesprochen habe und

von dem sie sich niemals trennte, mit nach Santos

genommen, und jetzt, als sie mich das Kleidchen in

dieser indiskreten Bewegung anheben sah, drohte

sie mir mit meiner bezaubernden Schutzpatronin:

„Mein Sohn, pfui, zeig das doch nicht so her! Denk

dran: Deine Schutzpatronin sieht dich, da von der

Wand aus!“ Ich schielte zu meiner Schutzpatronin

hinüber und ließ das Kleidchen wieder hinunter, nur

wenig überzeugt, mit einem Zorn auf die schöne, frü-

her mal hochverehrte Heilige, die immerzu lächelte

und diese dicken, warmen Hände hatte. So ging ich

missmutig im Schlamm des Kanals spielen, und gab

die Schuld an allem dem jahrhundertealten Bild. Ich

hasste meine heilige Schutzpatronin.

Doch eines Tages, ich weiß nicht, was plötzlich

mit mir los war, explodierte in mir das Verlangen,

und ich dachte nicht mal nach: Ich lasse meine

Spielsachen im Schlamm liegen und renne los,

stürme bei der Tür rein, schaue als erstes, wo Mutti

ist. Sie war nicht da. Sie machte gerade einen Mor-

genspaziergang, mit Vati und Totó. Nur die Köchin

Ich ging lieber zum schlammigen Kanal, wo mich

die Arbeiter vor allen möglichen Gefahren beschütz-

ten. Meinem Vati passte das überhaupt nicht, denn

als ehemaliger Arbeiter, dem es gelungen war, aus

eigener Kraft und durch weiß Gott welche Opfer auf-

zusteigen, sah er die Arbeiter als schlechten Umgang

für den Sohn eines mehr oder weniger erfolgreichen

Geschäftsmannes. Meine Mutti schritt jedoch mit

ihrem zu dieser Zeit typischen, müden „Lass ihn

doch!“ ein, eine Genesende, die zum ersten Mal in

ihrem Leben ihren Willen kundtat. So verbrachte ich

den ganzen Tag damit, den Saum meines Kleidchens

schmutzig zu machen, im Erdhaufen am Kanal bei

den Arbeitern.

Schmutzig war ich andauernd. Jetzt fehlte mir

unter meinem Kleidchen sogar oft die Unterhose,

um das da unten zu bedecken, und ich empfand’s als

Wintersport, wenn ich das Kleidchen vorne hochhob,

um’s schön kühl zu haben. Mutti war das sehr unan-

genehm, aber es gab einfach nicht genug Unterhosen,

alle hingen in der schwachen Sonne zum Trocknen

an der Leine. Und es war auch deswegen, dass ich

meine Schutzpatronin, die Nossa Senhora do Carmo,

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gewisser Schutz. Und alle waren verheiratet, hatten

Kinder, mit denen sie sich gemeinhin nicht viel

abgaben, aber sie gaben viel aufs Söhnchen „vom

Herrn Doktor“, meinem Vater, der nicht mal Doktor

war, Gott sei Dank.

So begab es sich, dass einer der Fischer drei

schöne Seesterne gefangen hatte und mit ihnen in

der Hand spielte, wobei er sie in die fahle Sonne

hielt. Ich fiel in einen Freudentaumel wegen die-

ser Seesterne. Der Fischer erkannte sofort meine

wunschvollen Augen, und ohne Geduld für ein biss-

chen angebrachte Langsamkeit, geradezu brutal,

drückte er sie mir alle in die Hand.

„Behalt du sie“, sagte er, „Seesterne bringen

Glück.“

„Glück, was isn das, hä?“

Rasch warf er einen Blick in die Runde seiner

Gesellen, denn er wusste nicht, wie er Glück erklä-

ren sollte. Doch alle sahen ihn wartend an, und so

brachte er etwas unwirsch hervor:

„Das ist … siehst du, also wenn man alles hat …

Geld, Gesundheit …“

Er räusperte sich. Und als er mich nun zugleich

war da, gedankenverloren am Herd und unterhielt

sich mit der Amme der kleinen Maria. Also konnte

ich! Ich ging ins vorne gelegene Zimmer, gefasst und

mit dem heldenhaften Mut desjenigen, der alles ver-

liert, aber befreit sein will. Ich schaute sie offen an,

hasserfüllt, sie, meine heilige Schutzpatronin, ich

wusste es genau, dass sie heilig war, mit weichen

Augen, die mich anlachten. Ich hob mein Kleid-

chen so hoch ich konnte, streckte mein Bäuchlein

hinaus und zeigte ihr alles. „Ha“, sagte ich, „schau

her, schau schön her, ha, schau genau her!“ Und ich

streckte den Bauch so weit raus, dass ich beinah

hintüber fiel.

Aber nichts passierte, ich hatte es schon erwartet,

dass nichts passieren würde ... Meine Schutzpatro-

nin auf dem Bild schaute mich weiter an, lachte, die

Blöde, und war mir überhaupt nicht böse. So ging

ich gestärkt hinaus, fast ohne Reue, und war völlig

von Sinnen von derart mutigem Stolz in der Brust,

dass ich es wagte, allein bis zur Ecke am großen

Strand zu gehen. Genau dort an der Ecke befan-

den sich einige Fischer, sie unterhielten sich, und

ich mischte mich unter sie, das war immerhin ein

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weil ich schmutzig war, hm, ich weiß nicht … doch,

ja, zumindest stolpern würde sie mal. „Aua!!“ sollte

sie schreien, geschieht ihr recht! Meine Seesterne

lagen versteckt an der Mauer und brachten mir

Glück. Essen? Wozu essen? Sie gaben mir alles, sie

gaben mir zu essen, sie gaben mir die Erlaubnis, im

Schlamm zu spielen, und wenn meine Schutzpa-

tronin, die Nossa Senhora, sich nun wegen meines

unziemlichen Verhaltens rächen wollte? Meine

Seesterne würden mich retten, sie würden es ihr

schon zeigen, gehörig wehtun sollten sie ihr … das

heißt – nicht allzu sehr, das nicht, nur ein bisschen,

damit ihr schönes Gesichtchen auf dem Bild nicht

verunstaltet würde. Sie sollte bloß wissen, dass ich

von nun an vom Glück beschützt war und sie nicht

mehr brauchte, ha! ach, welch Sehnsucht nach

meinen Seesternen!... Doch ich konnte keinesfalls

das Mittagessen auslassen, um nach ihnen zu se-

hen: Totó könnte mir folgen und einen von ihnen

abhaben wollen, nein, das dürfte nie geschehen!

„Der Junge isst ja gar nichts, Maria Luísa!“

„Ich weiß nicht, was heute mit ihm los ist! Kind,

so iss zumindest die Goiabada!“

teilnahmslos als auch wohlwollend betrachtete,

fügte er hinzu:

„Leg sie in die Sonne, damit sie gut trocknen,

dann bringen sie dir Glück!“

Ich bedankte mich nicht einmal, wie ein Ku-

gelblitz flitzte ich nach Hause, um dort meine

Seesterne zu verstecken. Da, im allerhintersten

Eckchen unseres Hofs, wo nieniemals jemand

nachsehen würde, legte ich die drei an die Wand

in die Sonne, und ging, glücklich und unruhig,

zum Kanal spielen. Doch wer konnte da ans Spie-

len denken – wie einen Verliebten zog es mich hin

zu meinen Seesternen und immer wieder huschte

ich blitzgeschwind zurück und bewunderte sie,

meine Schatzkästchen des Glücks. Ich war so voll

glückstaumeliger Seligkeit und dem Bedürfnis,

von meinem rühmlichen Schatz zu erzählen, dass

meine Appetitlosigkeit beim Mittagstisch sogar

Vati beunruhigte. Doch mein Geheimnis verraten?

Niemals! Immerhin war es der Schlüssel zu mei-

ner Vergeltung, einer Vergeltung gegen alles und

jeden. Totó würde schon sehen, wie ihm geschah,

und wenn Mutter mich noch einmal schimpfte,

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Seestern würde mir Glück bringen, niemals würde

ich auch nur einen von ihnen hergeben!

Doch dann passierte etwas Schreckliches, an das

ich mich für immer bis ins kleinste Detail erinnern

werde. Mir wurde das Betrachten meiner Seesterne

zu langweilig und ich ging zum Kanal hinunter, um

zu spielen. Es war um die Mittagszeit, Mittagspause,

vielleicht gar schon Abendessenszeit oder was auch

immer für eine Essenszeit, und die Arbeiter rasteten

sich unter den Bäumen aus. Einer von ihnen aber, so

ein Portugiese mit einem riesigen Schnauzbart, der

mich nie an sich rangelassen und mir nie Beachtung

geschenkt hatte, saß auf einem Erdhaufen, weit weg

von den anderen, er sah so traurig aus. Ich begann zu

spielen, aber es bedrängte mich, dass der Mann so al-

lein dasaß, es schmerzte mich fast, und ich warf ihm

verstohlene Blicke zu und suchte ihn zu trösten. Ich

ging zu ihm hin als ob nichts wäre und fragte ihn, was

er denn habe. Der Arbeiter zuckte nur mit den Schul-

tern, so portugiesisch und so hart und roh, weit davon

entfernt, die Zärtlichkeit in meiner kindlichen Frage

wahrzunehmen. Doch seine Augen waren so traurig,

und der Bart hing ihm so weit herab, so untröstlich

Goiabada7, wer will schon Goiabada! In Gedan-

ken war ich bei meinen Sternen; ich konnte es nicht

erwarten, zu ihnen zu kommen. Kaum war das Mit-

tagessen beendet – ich hatte mit Mühe still gesessen,

damit die anderen nichts merkten – so lief ich schon

zu meinen Seesternen.

Drei waren es, ein kleinerer und zwei sehr große.

Einer der großen hatte für meinen Geschmack etwas

zu krumme Arme, doch auch so war er noch um ei-

niges hübscher als der kleine, bei dem an einem Arm

die Spitze fehlte – ein ungemeiner Schönheitsfehler.

Der da würde mir sicher kein Glück bringen, umso

mehr dafür die beiden anderen: Und von nun an

würde ich immer froh und glücklich sein, ich würde

nicht groß werden müssen, meine schöne Schutzhei-

lige würde nie mehr aufhören zu lachen, Mutti würde

wieder ganz gesund werden und mir Spielzeug kau-

fen und Vati, er würde sich nicht darüber aufregen,

dass es so viel kostete. Aber nein! – auch der kleine

7 Goiabada ist eine mit Zucker eingedickte Masse aus der Gua-venfrucht, ähnlich Marmelade, in der Konsistenz jedoch weitaus fester. Als beliebte Nachspeise reicht man die Goiabada in Bra-silien mit Weichkäse („queijo minas“), was auch als „Romeu e Julieta“ (Romeo und Julia) bezeichnet wird.

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Seesternchen. Außerdem war der Arbeiter nicht so

gut gekleidet wie mein Vater, er brauchte vielleicht

gar kein so großes Glück. Meine Schritte trugen mich

zurück ins Haus, ich wankte, dem Schicksal ergeben.

Die Sonne brannte auf mich herunter. Nun, wo die

Seesternchen gut getrocknet waren und verdammt

viel Glück bringen würden, würde die Ehefrau des

Arbeiters plötzlich ihr Krankenbett verlassen und

die ganzen Kinder würden Brot zu essen haben und

meine Schutzheilige Nossa Senhora do Carmo würde

nicht böse werden, wenn sie ihr ihr Pimmelchen

zeigten. Da lagen sie glänzend in der Sonne, die drei

Seesternchen, die ganz, ganz viel Glück brachten,

und ich müsste mich von einem trennen, von dem

kaputten kleinen, so schön! – genau von dem, an dem

mir das meiste gefiel, obwohl sie alle gleich schön

waren, warum badet die Frau des Arbeiters nicht ein-

fach auch im Meer? – ach du lieber Gott, was für ein

Leid! – ich wollte nicht recht daran denken, aber ich

tat es, ohne es zu wollen, benebelt, aber der große war

einfach der beste, so perfekt, der auch diesem gemei-

nen Arbeiter das größte Glück bringen musste, der

daherkommt und sagt, dass er Pech hat, der Hund!

schien er, dass ich auf meiner Zärtlichkeit bestand

und ihn noch einmal fragte, was er denn habe. „Ich

hab kein Glück“, murmelte er, mehr zu sich selbst als

zu mir.

Und ich, ich war völlig entsetzt. Um Himmels

willen!, dieser Mann hatte kein Glück, dieser große

Mann mit seinen vielen kleinen Kindern und ei-

ner gelähmten Ehefrau im Bett!… Ich hingegen,

ich konnte mich so glücklich schätzen, ich hatte

drei Seesternchen, die mir Glück brachten. Richtig:

Ich setzte die drei Seesterne vorsichtshalber gleich

mal in die Verkleinerungsform, denn falls ich dem

Arbeiter einen abgeben müsste, hätte ich schon im

Vorhinein alle drei entwertet, alle drei, in der hoff-

nungslosen Hoffnung, nur den kleinsten hergeben

zu müssen. Jetzt war es ohnehin gleichgültig, alle drei

waren nur noch „Seesternchen“. Ich war verzweifelt.

Doch das Gebot grub sich unweigerlich in mich

ein: Und wenn ich dem Arbeiter zu Glück verhelfen

würde in Gestalt meines kleinen Seesternchens? Das

konnte ich doch wirklich leicht hergeben, schließ-

lich war es hässlich, es fehlte ihm der vordere Teil

eines Ärmchens – aber es war doch noch immer ein

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Der Arbeiter sah mich überrascht und verständnis-

los an. Ich schluchzte, es war eine fürchterliche Qual.

„Nimm ihn schnell! Bitte! Schnell! Er bringt wirk-

lich Glück!“

Da verstand er schließlich, ich ertrug es nicht mehr!

Er sah mich an, griff nach dem Seestern, lächelte hinter

seinem Portugiesen-Schnauzbart, ein ungewohntes

Lächeln, glücklicherweise sagte er nichts, sonst hätte

ich losgebrüllt. Seine gekrümmte, schwielige Hand

wollte sich nähern, um mich zu streicheln, na klar!

Der ahnte nicht im Geringsten, was das für ein Opfer

für mich war! Und die schwielige Hand streifte nur

leicht mein frisch geschnittenes Haar.

Ich rannte. Ich rannte, um mich ganz meinen

Tränen hinzugeben, um im Bett zu weinen, um

ganz alleine mein Schluchzen in meinem Kissen zu

ersticken. Aber im Inneren war es unmöglich zu

begreifen, was mit mir los war, es war ein Licht, eine

heilige Mutter Gottes, eine misshandelte Freude,

voller sternenklarer Enttäuschungen, an denen ich

reumütig litt, unwiederbringlich verloren in den

unendlichen Leiden der Menschheit, mein Seestern.

d

– und jetzt musste ich ihm meinen großen, meinen

großartigen Seestern geben!...

Ich weinte. Tränen der Aufrichtigkeit liefen mir

über meine schmutzigen Wangen. Ich litt so sehr,

dass mich mein Schluchzen nicht mehr klar den-

ken ließ. Es war schrecklich heiß, ich musste die

Seesterne aus der Sonne schaffen, sonst würden sie

zu sehr austrocken und es wäre vorbei mit der glück-

bringenden Wirkung, die Sonne brannte mir auf den

Kopf, ich war schon ganz wirr, der Arbeiter, das Pech,

der Seestern, die Gelähmte, mein großartiger See-

stern! Voller Wut packte ich den Seestern, ich wollte

ihm ein Ärmchen brechen, damit er genauso aussah

wie der kleine, aber meine Hände, voller Anbetung,

vereitelten dieses Vorhaben, meine Beine, sie be-

schlossen wegzulaufen, so schnell wie möglich, um

diesem Martyrium ein Ende zu setzen. Ich rannte,

ich starb, ich weinte, und trug dabei den blöden gro-

ßen Seestern, voller Wut und Zärtlichkeit zugleich.

Ich erreichte den Arbeiter, er stand gerade auf, ich

berührte ihn unsanft und zog fest an seiner Kleidung.

„Nimm!“, rief ich schluchzend, „Nimm meinen …

nimm den Seestern! Er bringt … bringt, ja, Glück!...“

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Mário de Andrade(1893-1945)

Mário de Andrade wurde 1893 in São Paulo geboren

und zählt zu den Hauptbegründern der brasilianischen

„Movimento Modernista” (modernistischen Bewegung),

die mit der „Semana de Arte Moderna“ (Woche der

modernen Kunst) von 1922 ihren Höhepunkt erreichte.

Andrade ist sowohl als Dichter, Romanautor und Autor

von Kurzgeschichten, als auch als Literaturkritiker,

Musikwissenschaftler, Fotograf und Historiker bekannt.

Er starb 1945, ebenfalls in São Paulo, dessen Stadt–

bibliothek seinen Namen trägt.

Hauptwerke:

Lyrik (1922) Pauliceia Desvairada

(1926) Losango Cáqui

(1927) Clã do Jabuti

(1930) Remate de Males

Prosa (1927) Amar, Verbo Intransitivo

(1928) Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter

(1934) Belazarte

(1947) Contos Novos

Essays und Kritiken (1925) A Escrava que não é Isaura

(1928) Ensaio sobre a Música Brasileira

(1942) O Movimento Modernista

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Realização/Durchführung

Embaixada do Brasil em Viena/Brasilianische Botschaft in WienEvandro de Sampaio Didonet, Embaixador/Botschafter

Universidade de Viena/Universität Wien Heinz W. Engl, Reitor/Rektor

Coordenação/Koordination Flavio Elias Riche, Chefe do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Viena/Leiter der Kulturabteilung der Brasilianischen Botschaft in Wien

Alice Leal, Chefe do Departamento de Português do Centro de Estudos da Tradução da Universidade de Viena/Koordi-natorin des Portugiesisch-Sprachbereiches des Zentrums für Translationswissenschaft der Universität Wien

Tradução e Revisão/Übersetzung und Bearbeitung Evamaria Freinberger, Florian Dunkel, Magdalena Schätz, Martin Zuccato, Melanie Patrizia Strasser, Sanijel Jovanovic e/u. Armin Innerhofer (somente tradução/nur Übersetzung)

Revisão Final/ Endbearbeitung Andrea Lauckner

Tradução do Prefácio/Übersetzung des Vorworts Judith Grollnigg-Hajszan

Assessoria/Beratung Vinicius Macuch Silva

Arte Gráfica/Grafik-Design Claudia Weiss de Carvalho

2012

© Detentores dos direitos autorais de Mário de Andrade, gentilmente cedidos pelas Empresas Ediouro Publicações

© Rechteinhaber der Urheberrechte von Mário de Andrade mit freundlicher Genehmigung von Empresa Ediouro Publicações.

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