Meditando com BRIAN WEISS - Martins Fontes · Meditando com BRIAN WEISS A busca do equilíbrio, da cura e da espiritualidade Inclui CD de meditação Olho&Rosto_MeditandoBrian.indd

Meditando com

BRIANWEISS

A busca do equilíbrio, da cura

e da espiritualidade

Inclui CD de meditação

Olho&Rosto_MeditandoBrian.indd 3Olho&Rosto_MeditandoBrian.indd 3 5/20/10 4:45 PM5/20/10 4:45 PM

SUMÁRIO

Concentrando nosso focono Eu Superior 7

A felicidade está no presente 17

A meditação para a superação de conflitos 19

Direcionando nossa luz interior 29

A meditação para a cura de enfermidades 31

Uma porta para a dimensão eterna 37

A meditação como iniciação e desenvolvimento espirituais 39

Uma imensidão à nossa espera 47

Uma palavra final 51

Ajudando a meditar 53

Meditações 57

Introdução 59

Relaxamento profundo 65

Meditação para a cura 71

col autoestima Meditando_miolo 5/18/10 5:29 PM Page 5


Concentrando nosso foco no

Eu Superior

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Muitas pessoas no Brasil já conhecem meu trabalho emterapia de regressão a vidas passadas. Neste livro, vou tratarde um outro tema que, para mim, é tão importante quantoo da regressão pelos benefícios que pode trazer às pessoas.

Em Muitas vidas, muitos mestres, contei a história deCatherine. Tratar dessa paciente mudou minha vida.Formei-me nas melhores universidades americanas, dentrode linhas psicanalíticas tradicionais. Depois de minhaexperiência com Catherine, saí em busca de alternativasterapêuticas que auxiliassem meus pacientes. Por contadessa busca, recomendo hoje, com especial entusiasmo, aprática da meditação.

Conheci Catherine em 1980. Ela chegou ao meu con-sultório acometida de um quadro crônico que combinavaansiedade, fobias, ataques de pânico e dificuldades derelacionamento. Por 18 meses, tratei-a utilizando os proce-dimentos habituais da psicote rapia. Como ela apresentavamelhoras apenas mo destas, decidi recorrer à hipnose.Coloquei-a em transe e, em dado momento, pedi-lhe quevoltasse “ao tempo em que seus sintomas começaram a semanifestar”. Para meu espanto, isso a transportou a umaexistência passada havia 4 mil anos e a várias outras vidas,

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onde ocorreram os traumas que deram origem a seus pro -blemas. Ao recordá-los, vivenciando-os, se curou.

Além de suas lembranças, Catherine trouxe diversasmensagens dos Mestres – espíritos elevadíssimos cuja sabe-doria e capacidade de amar ajudam a elevar a espiritualidadeda espécie humana. Essas mensagens me tocaram intensa-mente, transformaram minha visão do mundo, a maneiracomo entendia meu trabalho, a relação com meus pacien-tes. Tudo, enfim.

Hoje, acredito que não somos somente humanos, nemmesmo seres que, eventualmente, desfrutam de experiên-cias espirituais, mas seres espirituais que têm experiênciashumanas. Possuímos diversas dimensões que podemosvivenciar e das quais po demos usufruir. Temos em nossoespírito possibilidades acima do tempo e das limitaçõesfísicas. E há muitas formas de entrar em contato com o EuSuperior que abrigamos. Trata-se de um caminho no qual,quanto mais avançamos, mais nos tornamos capazes dealcançar graus cada vez mais altos de espiritualidade.

Assim como a hipnose e outras técnicas que utilizo naterapia de regressão, a meditação desenvolve uma progres-siva capacidade de concentração e focalização, abrindo asportas do subconsciente. As lembranças de nossas vidaspassadas e de nossas estadas na dimensão espiritual entreuma e outra reencarnação encontram-se guardadas no sub-consciente. Sendo o plano mais criativo e clarividente damente, de lá trazemos recursos espirituais, psíquicos e inte-lectuais muitos úteis para o nosso dia a dia.

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Mais do que isso, por meio da meditação vivencia mos umabeleza interior que nos faz repensar tudo o que nos rodeiae a nós mesmos. Que nos faz confiar na capacidade – quede fato possuímos – de utilizar e direcionar nossas energiaspara a purificação de nosso corpo e de nossa mente, e paraa descoberta e o desenvolvimento de nossa espiritualidade.

E tudo começa fechando os olhos, relaxando os múscu-los, tranquilizando a respiração. Aos poucos, a pessoa vaipedindo à sua mente que afaste o alarido de vozes que nor-malmente a atordoam, nem que seja uma de cada vez. Umacoisa de cada vez, um problema de cada vez. Como se con-vidássemos cada dificuldade a nos permitir um momento asós com nós mesmos. Um momento todo nosso: todo seu!Um momento de graça, de luz, de elevação.

É uma questão de vivenciar intensamente, com despren-dimento e entrega, esse momento. Esse precio so e únicomomento.

Apesar de alguns acharem que a única coisa que um psi-quiatra faz é remexer no passado das pessoas, entendo aterapia – em todas as suas formas – como uma maneira detratar nossos problemas do presente. É no presente que estáa felicidade. Só que a mente humana é um mistério mara-vilhoso, capaz de nos levar tanto ao céu quanto ao infernocriado por nós.

Vivenciamos traumas – principalmente quando crian ças –tão devastadores que seus efeitos ficam gravados na mentee na alma por muitas existências. Pode acontecer de determi-nado fato ser doloroso demais para permanecer na memória.

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No entanto, empurrados para o subconsciente, seus efeitos –as reações físicas e emocionais desencadeadas – permanecem.

Em termos simples, o que fazemos na terapia é levar a pes-soa a recordar a origem de suas reações – seus reflexos físicos,seus medos, sua raiva, sua dor. Ao localizar o mo mento trau-mático, a pessoa tende a se livrar dos sintomas, percebendoque se trata de algo que já passou, que não a ameaça mais.

No entanto, tenho constatado que nem todos precisamda terapia de regressão. Nem todas as pessoas possuemferidas mal cicatrizadas ou dores submersas em suas vidaspassadas que necessitam ser trazidas à tona. Existem outroscaminhos para atingirmos tanto a paz interior quanto oequilíbrio e o desenvolvimento de nossa espiritualidade. Ameditação tem um lugar especialmente privilegiado entreesses caminhos.

O mundo de hoje invade nosso cotidiano e até mesmonossos momentos de descanso e prazer com pressões edemandas que se acumulam, tumultuando nossa mente.Torna-se cada vez mais difícil nos voltarmos para dentro denós mesmos, tentando iluminar nosso íntimo e visualizar a causa de nossas angústias. Sob ameaça, o organismo e aconsciência colocam-se em alerta, acelerando o metabolis-mo, ativando toda uma sequência de reações físicas e emo-cionais. O medo – uma doença da atualidade – é tambémum alarme, disparando a necessidade de a pessoa se mobi-lizar, se proteger.

A prática da meditação nos ajuda a limpar a mente. Porum período determinado, nos desembaraça de tensões, de

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pensamentos intrusos e do que retemos na consciência soba forma de ecos e de fragmentos inquie tantes, oriundos domundo exterior. Em certo sentido, torna a mente mais sen-sível ao que é, de fato, essencial. E seus efeitos se prolon-gam para além do estado meditativo.

Tenho observado que a meditação amplia a capacidadede lembrança dos pacientes que estão se submetendo à te -ra pia de regressão. Eu próprio, em estados de meditaçãoprofunda, experimentei visões de vidas passadas, além deprodi giosos insights que me ajudaram a resolver problemasdo presente. Também notei que, após receberem alta, ospa cientes que praticam a me ditação consolidam com maisfacilidade as melhoras geradas pela terapia de regressão.Por isso, dou a todos os meus pacientes uma gravação naqual os oriento em uma sessão de meditação, a mesma quevocês estarão recebendo, em um CD, junto com este livro.

É importante notar que a meditação em si – mesmo semestar associada a terapia alguma – traz muitos benefícios.Quanto mais profundamente nossa prática de meditaçãonos leva, mais nos distanciamos do plano das aparências edas tensões, da importância que damos às frustrações, aosrancores e ressentimentos, e mais e mais nos envolvemoscom esse Eu Superior, com sua capacidade de amar. Porconsequência, ao compreender que essa visão da vida e domundo – e esse amor – está dentro de nós, ao descobrir quepossuímos esse dom tão precioso, repleto de beleza, nossentimos seres dignos de ser amados e de alcançar a felici-dade. Somos, sim, seres luminosos e iluminados.

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A espiritualidade que cura e traz o equilíbrio é essa capa-cidade de amar e de nos sentirmos amados. É o que nosdevolve ao mundo munidos de habilidades impressionantes.Menos sujeito a inibições e cons trangimentos, o subcons-ciente torna-se uma matriz de criatividade e de respostasintuitivas. Criatividade e intui ção, duas fontes de realiza-ção, mas que, habitualmente, subestimamos e até mesmoreprimimos. O contato e, a médio prazo, a intimidade comnosso subcons ciente nos tornam capazes de confiar na con-tribuição única e original que temos a dar ao mundo e nospressentimentos e sensações de que somos acometidos.

Condicionados a respostas padronizadas, nos dei xamosenredar pelos problemas e dificuldades. Tudo às vezes pare-ce virar um beco sem saída. Entretanto, pode ser apenasquestão de reservar 20 minutos, uma vez por dia. De sesentar confortavelmente... Ou, se você preferir, fique deita-do. Feche os olhos, sinta-se bem à vontade. Comece a con-trolar sua respiração, a perceber seus pontos de tensão.Transmita ao seu corpo uma mensagem: “Está tudo bem,tudo em paz, pode se tranquilizar!” Peça a cada músculoque ceda, que relaxe. Afaste os pensamentos dispersos, uma um. Nada capaz de prejudicá-lo vai aflorar à sua mente.Con centre-se em uma palavra, uma imagem, um som – ousimplesmente esvazie a mente. De repente, pode se produzirdentro de você um flash brilhante, uma solução simples,viável, até então nem sequer imaginada. Ou então é uma si -tuação aflitiva que se esclarece subitamente, como se alguémfizesse aparecer a ideia dentro de você – o que chamamos

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de insight. Esta é a maneira de despertar para a realidademais profunda.

Em determinado período da minha vida, eu estava tendodificuldades de relacionamento com meu filho, que entãoatravessava um momento conturbado de sua adolescência.Parecia que os canais de diálogo entre nós haviam se rom-pido e que estávamos condenados, dali em diante, a coabi-tar em silêncio, evitando nos olhar. Ou melhor, esse era omeu medo, a sensação que ameaçava tomar conta de mim.Foi quando, em meio a uma sessão de meditação, uma vozexplodiu em meu cérebro: “Basta amá-lo!”

Fiquei atônito, mas sabia perfeitamente do que a vozestava falando.

No dia seguinte, precisava deixar meu filho no colégio.Fui dirigindo até lá e, na hora em que ele ia saltando,seguindo um impulso, lhe disse: “Filho, eu amo você!”

Ele me respondeu: “Eu também amo você, pai!”E aquilo foi um belo recomeço para nós dois.A meditação também pode lhe dar esse recomeço. Neste

livro, aproveito minha experiência terapêutica para lhe falarsobre os benefícios que a prática da meditação pode trazerem, pelo menos, três áreas: na superação de conflitos pes-soais e de relacionamento, na cura de certas enfermidades ena iniciação e desenvolvimento espirituais.

A meditação exige prática, paciência. Mas o próprio ato demeditar gera cada vez mais paciência. Afinal, o que importaé que você está indo ao encontro da parte mais bonita, aco-lhedora e produtiva de você mesmo – a sua porção feita de luz.

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A felicidade estáno presente

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A MEDITAÇÃO PARA A SUPERAÇÃO DE CONFLITOS

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Um dia, uma cliente que vinha se tratando havia algumtempo entrou no meu consultório com o rosto iluminado:

– Acabei de descobrir uma árvore maravilhosa bem nafrente da minha casa! O tronco é vigoroso, a copa é fron-dosa e as folhas têm os mais lindos tons de verde!

Espantei-me:– Mas, como isso é possível? A árvore apareceu de repente?E ela me respondeu, sorrindo:– Não, ela sempre esteve lá, mas eu nunca tinha reparado

nela. Saía e entrava em casa correndo, preocupada com ascrianças, com as tarefas domésticas ou com o que me aguar-dava no trabalho.

O tratamento e a prática da meditação lhe abriram osolhos para ver e usufruir a beleza que estava todos os diasao seu alcance.

O que aconteceu com essa e com muitos outros clientesme ensinou uma coisa fundamental: o passado serve paraaprendermos com ele; o futuro é objeto de planejamento. Éno presente que vivemos. É aqui e agora que podemosinterferir no mundo à nossa volta e em nós mesmos, que

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podemos produzir e provocar mudanças. Nosso desenvol-vimento espiritual está, por definição, situado no presente.O fundamento de nossa alegria é sempre o momento atual.

Um dos benefícios da prática da meditação é aumentar acapacidade de concentração da pessoa. Remoer o passadoou colecionar temores sobre o futuro são desperdícios deenergia mental, emocional e espiritual. Quando consegui-mos concentrar nosso foco de pensamento e de vontadetransformadora no presente, os resultados são positivos.

É como naquela reunião de trabalho em que, apavoradascom a quantidade de tarefas impostas por algum projetoem curso, e com o prazo apertado de que dispõem para rea-lizá-las, as pessoas, atabalhoadamente, só fazem apresentarmais e mais problemas, mais e mais coisas que precisam serfeitas. Isso sem contar aqueles pessimistas, que desenhamos cenários mais assustadores: “Não vai dar! Vamos nossufocar! Tudo está perdido!” Até que uma voz lúcida diz:“Muito bem, precisamos dar conta de tudo isso. Mas o quedeve ser feito primeiro, antes de todas as outras coisas? Ede que maneira temos condições de fazê-lo? Vamos come-çar por aí. Quanto ao resto...” Daí para a frente, a discus-são tende a se tornar mais produtiva.

Vou contar uma história que ilustra o que estou falando. Tive certa vez um paciente chamado Armando. Era um

profissional muito bem-sucedido e, sem dúvida, seu maiorproblema era ansiedade e tensão profundas. Entre essasansiedades, Armando nutria em especial o desejo de terlembranças de suas vidas passadas, fosse como fosse. Em

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nossa segunda sessão, eu o hipnotizei. Armando teve umabela visão com cores, destacando-se o lilás, que carregatoda uma simbologia mística e sagrada. Mas nenhumalembrança de vidas passadas.

Eu lhe dei uma fita com um exercício de relaxamento,orientado por minha voz. Em casa, sua mulher, ao fazer oexercício, teve lembranças de vidas passadas, mas Armandonão! Ao ouvir a fita e entrar em transe, surgiu-lhe de novoa luz lilás e, de dentro dela, saiu um anjo chamado Michael,de aspecto jovem e descontraído, quase como um adoles-cente desses que encontramos num shopping – para falar averdade, muito pouco parecido com a imagem queArmando guardava do que fosse um anjo.

Armando e Michael tiveram ótimas conversas. O anjolhe deu conselhos sobre sua vida pessoal e profissional. Apartir de sugestões de Michael, Armando realizou algunsnegócios lucrativos. E, no entanto, Armando continuavaaparentando muita insatisfação quando comparecia ao meuconsultório. Resolvi questioná-lo:

– Você encontra-se regularmente com um anjo, ele con-versa com você, lhe dá conselhos, até mesmo faz vocêganhar dinheiro... O que está lhe incomodando, afinal?

– Ora... mas o que eu queria era lembrar das minhasvidas passadas!

Armando era um caso típico de alguém que, preso aoque gostaria que fosse, tornava-se incapaz de dar valor aoque, de fato, tinha, mesmo no caso de um presente maravi-lhoso como o que recebera. Aliás, foi exatamente isso o que

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Michael lhe disse, quando Armando lhe perguntou por quenão tinha lembranças de vidas passadas:

– Quando você aprender a prestar mais atenção ao seupresente, pode até ser que eu o deixe ter umas lembrançasdo passado...

O presente é o campo do aprendizado e, insisto, da feli-cidade. No entanto, muitos de nós vivem tensionados entrepensamentos nebulosos sobre o passado e o futuro, que nosimpedem de ver e de viver o presente. São remorsos, res-sentimentos, rancores e frustrações que trazemos dos diasque se foram. São as apreensões, nossa capacidade de ima-ginar logo a pior hipótese, ou pelo menos uma série dehipóteses desfavoráveis, por puro medo do que está por vir.E é no presente que pagamos nossas dívidas, que nos dis-tanciamos – por força da satisfação que conquistamos egraças ao que estamos realizando – das marcas do passado.É no presente que aprofundamos nossas reflexões, que nostornamos fortes, que nos preparamos para conseguir omelhor da vida.

A prática da meditação pode e deve ser dirigida, concen-trada, como um esforço de enfocar o presente. Por um lado,calamos as vozes que nos atracam ao passado, inconforma-das, como se pudessem mudar o que já aconteceu. Poroutro, calamos também as imagens assustadoras que cria-mos para representar nosso medo do futuro. Pois são ape-nas isso: imagens. Como é o nosso medo quem as cria, nãopoderiam parecer acolhedoras ou bonitas. Mas não são ofuturo. Garantir o futuro é resolver bem o presente. O resto

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não nos cabe nem está ao nosso alcance controlar nemmuito menos determinar.

Muitas das tensões e dos conflitos pessoais podem serresolvidos quando a prática da meditação permite que nosconcentremos no presente. A partir disso, desenvolvemos ahabilidade de selecionar os pensamentos construtivos edescartar os que só nos fazem desperdiçar o momento. Issodeve ser feito com persistência e tenacidade, porque ospensamentos prejudiciais, por força do hábito, sempreinsistirão em permanecer ou em retornar.

Thich Nhat Hanh, monge budista e filósofo, ensina quea melhor maneira de saborear uma xícara de chá é nos con-centrarmos inteiramente no chá. No seu perfume, no calorque emana, no seu sabor, nas sensações que desperta naboca e na garganta. Gole a gole. E nos intervalos entre umgole e outro, contemplando a cor do chá, o vapor que des-prende e seus desenhos no ar. Só no presente podemos usu-fruir dessas dádivas. Se estivermos pensando em outracoisa, quando olharmos para a xícara de chá, ele já terá aca-bado e nós te remos perdido a chance maravilhosa de usu-fruir de um momento precioso.

Através de uma paciente, recebi de um Mestre umamensagem bastante inspiradora:

“O tempo é uma ilusão. Mesmo no mundo tridimensional,o futuro é apenas um sistema de probabilidades. Por que sepreocupar tanto? (...) O passado deve ser lembrado e,depois, esquecido. Deixe que ele se vá. Isso se aplica a trau-mas de infância e traumas de vidas passadas. Mas também

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se aplica a atitudes, falsas noções, sistemas de crenças que nossão impostos, a todos os velhos pensamentos. Na verdade, atodos os pensamentos. Como é possível termos uma visãonova e clara com todos esses pensamentos? E se tivéssemosde aprender algo novo a partir de uma nova perspectiva? (...)Não volte a antigos pensamentos. Pare de pensar. Em vezdisso, use o seu saber intuitivo para sentir amor novamente.Medite. Veja que tudo é interligado e interdependente.Veja a unidade, não as diferenças. Veja o seu verdadeiro ser. Veja Deus. (...) A meditação e a visualização o ajudarãoa não pensar tanto e a iniciar a sua viagem de volta. Ficarácurado. Começará a usar a mente que não utilizava. Verá.Compreenderá. Irá se tornar mais sábio. E então haverá paz.”

A sabedoria dessas palavras parece se refletir em um fatoque me foi contado por uma pessoa que não havia tido conta -to algum com o plano espiritual dos Mestres. Eu o ouvi numaviagem ao Brasil, da boca de um homem que, na década de1970, foi um militante político e, por conta disso, perseguidopelos órgãos de repressão do governo. Vamos chamá-lo deEduardo. A certa altura, precisando se esconder para nãoser preso, foi parar num lugar isolado, no interior, numacasa simples cercada de montanhas e de muito mato.

– Punha minha cadeira perto da janela e ficava horas lá.Não havia mais nada que pudesse fazer. No começo foi uminferno. Toda hora vinha na minha cabeça o que estavaacontecendo nas cidades, no país, e aquela opressão dentrode mim, de me sentir caçado, de sentir que o mundo ia seestreitando em torno de mim, até fechar. Então, aos poucos,

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essas coisas foram parecendo distantes. Não sei quantotempo levou. Uma semana, duas... Eu só ficava ali olhandoo mato. Olhando as moitas, as árvores. E os morros. Eramtantos, pareciam um mar de morros, até perder de vista.Uma coisa enorme... E, de repente, um dia, me ocorreu opensamento de que aquele pessoal que me perseguia, pormais poderoso que pudesse parecer, não era tão ameaçador.Bastava eu me esconder por trás de uma moita, no alto deum daqueles morros, que eles nunca iam me achar. Achoaté que foi uma ideia um tanto estú pida, mas é incrívelcomo me acalmou e me ajudou a passar os dias. Eu já gos-tava de botar a cadeira na janela e ficar olhando o verde.Era uma mata linda, ali na minha frente. Linda, de fato!

Eduardo desenvolveu, intuitivamente, a prática da medi-tação: foi praticamente hipnotizado pela pai sagem à suavolta. Assim, relaxando das tensões que o oprimiam, conse -guiu se ligar ao seu presente imediato, às sutilezas e encan-tos da natureza. Vista de uma nova perspectiva, a situaçãopor que estava passando lhe pareceu menos ameaçadora. Seantes ela crescia em sua mente e reinava absoluta, a partirdesse novo enfoque já era possível até pensar em resolvê-la.

Coisas assim podem acontecer com nossos recalques,ódios, frustrações e obsessões. A prática da meditação nospropicia a possibilidade de nos ausentarmos do eu físicopara, do alto, de fora, de um plano maior e banhados de luz,observarmos as aflições do dia a dia, redimensionando-as.A verdadeira cura e o verdadeiro equilíbrio dependem denos reencontrarmos com nossa essência espiritual.

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Sem o rancor trazido de muitas e muitas brigas ao longodos anos, poluindo a capacidade de amar entre dois seres,muitos atritos aparentemente irreversíveis podem ser resol-vidos. Com uma declaração de amor, com um abraço espon-tâneo, sincero, dado do fundo do coração (ou da alma).Perceba como uma contrariedade corriqueira pode se tor-nar monstruosa e insolúvel, se temperada com situaçõespuxadas do passado, sem nenhuma relação com o problema.Ou observe o risco que corremos de misturar tudo, fazendoelucubrações e desenvolvendo fantasias que nos enredam eimpedem a aproximação e o entendimento desejados.

Na minha viagem ao Brasil, em 1996, uma mulher medisse, angustiada:

– Sofro muito ao pensar no tratamento rígido e autori-tário que dei a meu filho mais velho, quando pequeno. Euera muito jovem, imatura, reproduzi o que minha mãe fizeracomigo. Como eu gostaria de recomeçar!

Respondi-lhe:– Ame-o agora, da forma como gostaria de ter feito

quando ele era criança.Ao voltar, no ano seguinte, encontrei-a feliz com os pas-

sos da conquista obtida. A prática da meditação a haviaajudado a romper com a paralisia afetiva em que a culpa adeixava, a aproximar-se daquele filho e a ma nifestar o amore a atenção que trazia armazenados dentro de si.

É impressionante como coisas que nos enfurecem, quenos fazem até mesmo perder o controle, podem de repenteparecer irrelevantes, sem sentido. Ou como uma luz em

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nosso íntimo, sem aviso, pode revelar com clareza o ponto devista da pessoa com quem estamos em atrito, levando-nos acompreendê-la melhor. Ou a reavaliar a importância paranós de coisas de que, até então, não abriríamos mão. Aempatia e a compaixão são grandes agentes de cura.

Para uma alma pequena, mesmo coisas pequenas são ofim do mundo. Para uma alma consciente de sua imensi-dão, as soluções vêm mais facilmente. Nada de fato é defi-nitivo. Nada vale o sacrifício de sobrecarregar a vida deinfelicidade.

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